NOOSFERA: A GUERRA PELA HEGEMONIA – O lado Ontológico do Confronto -- Por Artur Alonso

 


"O mal não existe como consciência, como nos ensinam os mestres cabalistas. É sim, é a maior ou menor ausência do soberano Bem (a essência divina) que gera as ilusões. Nesse sentido, o que se entende por "mal" nada mais é do que a ignorância, a maior ausência do Bem, que é a Luz da pura e eterna Consciência" (João Paulo Haak Miranda "Lilith, A Esfinge da Alma)

O conceito de Noosfera

Segundo Vladimir Vernadski, houve três fases no desenvolvimento da Terra: a geosfera, caracterizada pelo predomínio de matéria inanimada; biosfera da vida biológica e, a noosfera: momento em que os seres inteligentes se relacionam com o meio no qual vivem

Assim como a emergência da vida transformou a geosfera, dando passo a biosfera; a emergência da cognição humana transforma a biosfera, permitindo o nascimento do conceito de noosfera.

James Lovelock, que desenvolveu a partir de 1979 a “Teoria de Gaia”, desenvolveu algumas das hipóteses de Vernadski.

Para Vernadski o pensamento “científico” humano é visionado como una nova força geológica atuando na biosfera, qualitativamente diferente das forças físicas químicas e biológicas.

A humanidade e suas ações integradoras representa uma nova etapa dentro da evolução da biosfera, configurando o que Vernadski denominou de Noosfera: a esfera da razão.

A biosfera seria o espaço onde a energia cósmica, principalmente a solar é transformada em energia terrestre ativa como energia elétrica, química, mecânica e térmica – E dizer a vida energia desenvolvendo-se. Enquanto a noosfera seria a encarregue de canalizar essa vida energia e transformar a mesma em vida consciência; permitindo à humanidade peregrinar na procura daquilo que há de mais evolutivo: a busca interior do transcendente.

E nesse caminho em favor de transcender o ser humano adentra sua consciência, em inicio focada na supervivência – vida energia em ação (fisicalidade – animalidade, domínio dos instintos – luta territorial) ate atingir o patamar mais elevado de tentar encontrar um porque a sua existência.

Elevando-se, transcendendo (desenvolvimento superior da psique na procura da gnose: conhecimento maior) – Reafirmando-se na vida energia para construir a vida consciência (razão psicológica unida a intuição, conexão interior da alma, com a natureza e cosmos)

E essa consciência observa o exterior e tenta modificá-lo, com o poder do conhecimento cientifico e tecnológico na procura do bem, da beleza e da justiça. Na loucura da ignorância na tentativa de cumprir os desígnios da egolatria, dominada pelos instintos e as paixões (confundidas muitas vezes com realizações) a modificação do exterior cria os inúmeros erros.

A evolução dos ciclos naturais, provocados pelo impulso da continua mudança, interage com as ações modificadoras do entorno do ser humano. A ideia de progresso marca um impulso expansivo para essa mudança ser realizada. A ideia de conservação como necessidade de preservar a base sobre a qual a mudança deve ser feita, marca limites de contenção para esse progresso não tornar-se destrutivo.


O controlo da noosfera, pode tomar caminhos não evolutivos

A vida não é sobre encontrarmo-nos a nós próprios. A vida é criarmo-nos a nós próprios” (George Bernard Shaw)

Denis Collins, no seu texto “ Progressismo e ectogênese: engenharia de máquinas aplicada ao homem”, nos adverte: “uma das dimensões essenciais do capital é a mercantilização dos seres humanos, sua transformação em mercadoria. O nazismo parecia ser o ápice desse processo de reificação: seres humanos reduzidos a cadáveres, cujos dentes de ouro eram reaproveitados, por outro lado, fazendas de criação de seres humanos perfeitos, ou pelo menos melhorados (o Lebensborn). Não foi precisa muita audácia para perceber que o nazismo não era reacionário, mas completamente “progressista”. Os nazistas fizeram tudo isso com uma crueldade e brutalidade que achamos insuportável, e com razão”

A tentativa do ser humano de arrogar-se o papel de anjo, impondo seu ideal sobre a realidade, sem compreender de todo a mesma, produz distorceres contínuos do verdadeiro caminho da evolução. A intensidade do medo, que acelera esse processo de afirmar-se na ignorância, e avançar contra a evidencia, produz desastres, que terão de ser consertados nos anos, decénios ou séculos seguintes.

Por sua vez Luiz Alberto Moniz Bandeira nos legou no seu livro “A desordem mundial – o espectro total da dominação” apontamentos muitos interessantes, de aonde se dirigia a inercia expansiva do capital, criando um todo poderoso Sector Mercantil Financeiro de expansão errada– progresso sem a devida conservação (avanço sem precaução - prevenção). Capitalismo cegado na imediata criação e centralização da riqueza, sem medir a pegada negativa sobre o território e as gentes, modelo de suposto desenvolvimento ainda vigente nos nos nossos dias.

Eis aqui uma pequena amostra do refletido por Moniz Bandeira no seu livro: O nazifascismo não constituiu um fenômeno particular da Itália e da Alemanha, quando ameaçou e se estendeu, sob diferentes modalidades, a outros países da Europa, como Portugal e Espanha, entre os anos 1920 e a deflagração da Segunda Guerra Mundial (1939–1945). O que ocorreu nesses países foi uma espécie do que Niccolò Machiavelli (1469–1527) referiu como mutazione dello stato (mutatio rerum, commutatio rei publicae), quando a res publica, um Estado, sob o nome da liberdade, transmuta-se em Estado tirânico, com violência ou não. O fenômeno político denominado nazifascismo no século XX podia e pode ocorrer, nos Estados modernos, onde e quando a oligarquia e o capital financeiro não mais conseguem manter o equilíbrio da sociedade pelos meios normais de repressão, revestidos das formas clássicas da legalidade democrática, e assumir características e cores diferentes, conforme as condições específicas de tempo e de lugar”

Deixando-nos bem referenciado, nas páginas deste livro, o intelectual brasileiro, que todo poder aspira a um máximo de dominação pela inercia expansionista material intrínseca a qualquer corpo em ascensão, a não ser que um contrapeso transcendente, do poder cognitivo da noosfera mais elevada, balance este processo. Mostrando-nos um episódio histórico pouco conhecido, de como o poder nas sombras manobra contra a democracia, o ascenso do povo ao conhecimento e a necessidade de abrir vias para que uma sociedade mais cabal possa na “ajuda mútua” desenvolver-se.

Observemos aquele facto surpreendente narrado por Moniz Bandeira: Durante a Grande Depressão, que se seguiu ao colapso da bolsa de Wall Street, em outubro de 1929, a Black Friday, alguns grupos financeiros e industriais — cerca de 24 das mais ricas e poderosas famílias dos Estados Unidos, entre as quais Morgan, Robert Sterling Clark, DuPont, Rockefeller, Mellon, J. Howard Pew e Joseph Newton Pew, da companhia Sun Oil, Remington, Anaconda, Bethlehem, Goodyear, Bird’s Eye, Maxwell House, Heinz Schol e Prescott Bush — conspiraram. Planejaram financiar e armar veteranos do Exército, sob o manto da American Legion, com a missão de marcharem sobre a Casa Branca, prender o presidente Franklin D. Roosevelt (1933–1945) e acabar com as políticas do New Deal. O objetivo consistia na implantação de uma ditadura fascista, inspirada no modelo da Itália e no que Hitler começava a construir na Alemanha. O Wall Street Plot, porém, abortou. O major-general Smedley Darlington Butler (1881–1940), que os big businessmen tentaram cooptar, denunciou a conspiração, ao repórter Paul French, do Philadelphia Record e do New York Evening Post. E, em 20 de março de 1934, a House of Representatives adotou a Resolution 198, 73d Cong., proposta pelos deputados do Partido Democrata, John W. McCormack (Massachusetts) e Samuel Dickstein (Nova York), criando o Special Committee on Un-American Activities, Investigation of Nazi Propaganda Activities and Investigation of Certain Other Propaganda Activities United States Congress (HUAC)”

A necessidade pois de contra-ponto social, bem informado, formado e consciente, como contra-peso a um poder corporativo privado ou estatal omnipresente, se faz mais visível aos nossos incrédulos olhos quando as evidencias são muito claras, com no caso narrado por Moniz Bandeira. Esse contrapeso social deve atuar na noosfera criando um pensamento favorecedor da democratização do conhecimento. De dotar aos povos de ferramentas formativas que facilitem sua politização, toma de consciência política.

De novo Denis Collins, no seu já referido artigo, nos alerta com contundência, precisamente para despertar essa necessidade dos humanos mias competentes racional e espiritualmente tomem posição e atuem; auxiliem aos povos no seu acordar – tomar consciência da realidade política, social, filosófica e mesmo espiritual: Se, como ferrenho materialista, acreditamos que o ser humano, como todos os outros seres vivos, nada mais é do que um conjunto de células, entre elas, em particular, um conjunto muito complexo de células neuronais, e que, portanto, não há nada especialmente “sagrado” no ser humano, nada que o torne intocável, já que melhoramos nossos carros e nossos robôs domésticos, por que não melhorar o ser humano e torná-lo mais “eficiente”?”


Assim, pois, para o poder Corporativo Financeiro Progressista que comanda o Ocidente é preciso um caminho racional evolutivo e material (não espiritual), para obter o controlo total da sociedade. Para que a sociedade que o confronta e trabalha a favor da mudança para um novo ciclo de poder cívico, não tenha referentes ontológicos e sim informações focadas na atividade e realização material da vida.

Na pratica criando uma barreira na noosfera, impedindo, assim, conectar esta esfera do pensamento racional com a esfera mais elevada da intuição e o ideal espiritual. Preciso é para este poder financeiro uma sociedade domesticada e focada na razão de procurar a subsistência. Criando, aqui, uma sociedade impedida de elevar-se ao conhecimento mais abstrato – intuitivo – analógico, aquele guardado a 7 chaves. O conhecimento da essência raiz – o conhecimento da gnose.

Pela analogia observamos as relações de semelhança entre fatos em aparência distintos. Pela diferencia na aparência surge a separação, pela analogia, que conduz a essência comum, a união.

Pela intuição podemos perceber, discernir e pressentir. Pela razão compreender, comparar, analisar, julgar; pois o raciocínio conduz a indução ou dedução.

A lógica manipulativa, do poder que procura o controlo, cria indícios e proporciona narrativas acorde com o interesse determinado pela ganancia material, não pela verdade.


Quebrando a tradição, ultrapassando a modernidade – pós-modernidade em favor do controlo da mente

Ao invés de um novo caminho universal mas tradicionalista (enraizado no saber milenar de cada povo e conjugado com o avanço cientifico e filosófico) e, pelo tanto espiritual e transcende, se vende um modelo (fabricado por narrativas interessadas) de procura de “novas identidades”.

O caminho tradicional se visualiza como atrasado. Um caminho da tradição que antanho (para nossos avós mais despertos e assentados na conexão com a natureza) era preciso para a sociedade evoluir e coexistir. Esse caminho é destruído simulando um novo caminho de experimentação individual, desligada da raiz, do ser o do modo correto de viver. A “pós-modernidade” baseada em desconstruir o raiz dos povos, tem como objetivo unificar na base do poder do mercado, controlado pelo poder das finanças. Universalizando a nova globalidade sem raiz cultural, focando a mente numa uniformidade assente em desconstruir a raiz cultural dos povos e, virando a cultura objeto de consumo banalizado.

Sendo que o caminho tradicional segue a ser preciso para confrontar a dominação da mente humana, a través da banalização da cultura. A banalização marca uma tentativa de confundir a sociedade, desenraizada, para melhor dominá-la e domesticá-la: acomodar os seres humanos a uma realidade de total dependência. Modelo de consumo e dependência desde a alimentação, vestimenta até a formação e ócio.

O denominado ser “selvagem” em cujo aprendizado de sobrevivência ,o ser humano, tinha capacidade para obter a própria comida, confecionar sua roupa e construir sua casa, foi devagar substituído por um ser dependente do poder Sacerdotal dos velhos impérios, senhorial medieval e agora comercial expandido na Idade Moderna ate nossos dias de pós-modernismo.

Nos nossos dias com o poder financeiro tomando posse do controlo dos governos e sociedades, através das dívidas perpétuas e do controlo das moedas e os fluxos de expansão e contração da economia, por meio da expansão e contração da mesma dívida – com a consequente inflação e deflação, característica destes processo.

As Corporações privadas tomaram conta da alimentação, da vestimenta, acesso as fontes e distribuição da água e da energia. Dominando os sectores que controlam o acesso a educação; a formação académica, e mesmo ao ócio… Navegando, devagar, em favor de um controlo total das sociedades e seres humanos, por uma elite privada financeira no topo da pirâmide.

Contra esse modelo se contra-põe um modelo de controlo estatal, ambos embatendo, num tempo de transição entre o ciclo de poder mercantil e o novo ciclo de poder cívico. Mas, em ambos modelos, precisando a sociedade civil organizar-se para reclamar o direito dos seres humanos de aceder ao conhecimento suficiente que lhes permita melhor gerir seu livre arbítrio.

Um poder cívico bem estruturado socialmente que combata a banalização, infantilizarão e entorpecimento das camadas mais populares da sociedade, por meio da programação baseada em trabalho – dependência para sobreviver do Estado ou do Poder Corporativo – ócio banal – e desvinculação dos povos da sua tradição.


Seguindo a máxima niilista “thelemica” de “faz o que quiseres tudo é de lei” – a caminhada do ser humano em procura duma liberdade sem limite, sem uma formação espiritual, filosofia e académica racional que lhe permita uma utilização mais apropriada do livre arbítrio, encaminhada essa busca da liberdade na queda no “labirinto auto-destrutivo” das aparentes contradições: sombras internas e externas.

Esquecendo aquela máxima de Leão Tolstoi de entender a liberdade como uma consequência da verdade. Não é procurando a liberdade que a vamos encontrar, se não procurando a verdade, por meio do amor a sabedoria – filosofia e do encontro com o “Reino de Deus que está dentro de nós” – a raiz espiritual que nos conduz a descobrir nosso potencial interno: o transcendente alem da egolatria.

O principio da concentração - conservador da energia centrifuga, tem de ser equilibrado com o princípio da expansão – progressista da energia centrípeta.

A introspeção procura da raiz em nós – do nosso reino espiritual – transcendental deve estar equilibrada com descoberta exterior – procura da nossa expansão – realização da observação do entorno – e da realização exterior. Ambas no individual equilibradas com o coletivo, equilibrando o conhecimento interno – tradição e o desenvolvimento externo – expansionista da realização da sociedade. Todo em favor dum terceiro equilibro entre o coletivo humano e o maior coletivo dos ecossistemas naturais.


A Egregóra por cima do Noosfera

Daí como temos falado em outros artigos, a nova Egregóra (matriz ontológica que comanda um processo civilizador) em andamento é hoje a do Ecumenismo. Esta nova convergência deve decidir entre dos roteiros, em atrito: na aposta ecuménica racionalista do ocidente ou na aposta pelo ecumenismo espiritualista da Eurásia, no oriente.

Sendo que este é o núcleo central, da grande partida pela hegemonia global entre o poder anglo-saxão ocidental (em contração mas mantendo ainda a supremacia) e o novo poder euro-asiático (em ascensão mas construído todavia seu organograma multipolar alternativo em contra-ponto).

Ao “homem novo” amoral e unidimensional (o homo economicus) do neoliberalismo opõe-se o ser humano que o marxismo perspetiva, dotado de consciência social, elevado grau de humanismo e compreensão dos processos históricos, em que os critérios individuais e os coletivos poderão coexistir harmonicamente” afirma Daniel Vaz de Carvalho, no seu artigo de 12-09-2023 intitulado “Quatro lições de “democracia liberal”; fazendo-nos entender de por que esse homem novo marxista pode enraizar (apesar da aparente contradição) com o homem tradicionalista ao que aspirava regenerar René Guénon e, chegando aquela sentisse que observa Serguei Glaziev de: o único caminho de novo modelo económico passa pelo socialismo chinês. Sendo que essa visão chinesa da modernidade bebe das fontes tradicionais do taoismo e confucionismo.

Tradição e modernidade, conceitos ambos a funcionar em este novo homem do século XXI espiritualista e social, que tende a formar a nova matriz – Egregóra espiritualista tradicional do Oriente (se seu modelo finalmente trunfar) em confronto, a cada dia, mais aberto com a Egregóra evolucionista material do Ocidente.


Duas forças em contra-ponto

O poder é a capacidade de atingir objectivos. O poder é a capacidade de efetuar mudanças” (Martin Luther King)

Conhecer os outros é inteligência, conhecer-se a si próprio é verdadeira sabedoria. Controlar os outros é força, controlar-se a si próprio é verdadeiro poder” (Lao Tse - Tao Te Ching)

Estamos ante uma mudança não somente geopolítica senão também civilizacional, dentro da procura de tomar o controle da novo “Imaginário Coletivo Global” – Nova Egrégora do Ecumenismo, substituta da Egrégora do cristianismo – que ate nossos dias comandava o ocidente e pelo tanto influenciava toda a humanidade ( sendo dominante mais convergente e divergente com a Egrégora do Islão, budismo, hinduísmo etc. –).

Esse Ecumenismo em princípio vai mais alem das igrejas cristãs, abrangendo a união futura do Islão e Judaísmo, com o já referido Cristianismo. Todo este processo dentro duma mudança de ciclo de poder mercantil (agora virado em neo-feudalismo financeiro, tal como o conceituou Michael Hudson – e transhumanista, tal como nos adverte Collins) em favor dum novo ciclo de poder cívico.

Para o economista russo Alexander Galushka, esta transição do ciclo mercantil ao ciclo cívico, no modelo económico terá que recuperar aquelas achegas do economista russo – alemão Karl Ballod. Segundo os estudos de Galusnka, Stalin teria adotado este modelo para a impulsão do salto produtivo sem precedentes dos anos 1929 a 1953. Anos onde a URSS, atingiu uma ascensão apavorante em todos os campos: demografia, industria, inovação, modernização...

Para implementar este modelo económico, não seria precisa a repressão, nem as terríveis purgas stalinistas, senão um planeamento estratégico, com apoio à iniciativa privada que auxilia ao Estado; é a ideia de círculos monetários: fundos gastos em projetos específicos. Dinheiro que não entra no mercado consumidor, senão que circula diretamente na sociedade, canalizado a projetos específicos de grande infraestrutura, tecnologias ponta e inovação.


E esta grande “encruzilhada” por trás do nosso “normal” desenvolvimento quotidiano está a criar muita confusão, por falta dum solido referente de aonde se encaminha o mundo.

Dois modelos políticos em andamento: Ocidental progressista que está a caminhar para Fascismo Corporativo, camuflagem de "Capitalismo inclusivo" (enquadrado na agenda 2030 e sua agenda Woke); contra o Oriental Estaticista Autocrático - Social ou Socialista, conservador (com sua agenda tradicionalista, anti-trashumanista, que agora mesmo põe em causa a agenda 2030, sobre a qual já se quebrou o consenso)

Esse fascismo corporativo, muitos analistas chamam hoje de “Democracias Absolutas” que confrontariam as atuais “Autocracias Orientais” que no entanto lutam por um mundo Multipolar e mais “democrático” na toma de decisões internacionais no topo. Dinâmicas contraditórias que atrapalham ainda mais a visão de conjunto.

Em esta nova conjuntura em andamento - dando seus passos iniciais – a dicotomia esquerda - direita (se dilui): não pode explicar a nova realidade…

Nesta nova dicotomia globalismo Ocidental - Mundo Multipolar do "Sul Global" (comando económico da China, Militar por Rússia) a Eurásia (aquela Ilha Mundo de Mackinder) se situa como o novo centro geográfico, a ser disputado, para acima de seu crescimento económico assentar o novo controlo do Mundo…

Os próprios EUA já deram por fato que o centro económico e civilizacional se traslada da Ocidente à Oriente. E controlando a Ásia se controlam as rotas da África e da Europa.

Sendo que no Sahel o Ocidente começa a deixar a iniciativa para a Rússia e a China.

No entanto os norte-americanos, no caso de contração, sempre podem refugiar-se sobre o continente Americano, limpando a concorrência chinesa e russa – voltando exercer o controlo sobre as riquezas do mesmo, através das suas poderosas Corporações privadas. Mas mesmo esta hipótese não deixa de criar fricção com os movimentos soberanistas da região…

Daí a luta do capital Privado Ocidental contra Rússia (olhar somente um mapa geográfico) se torna prioridade, para depois submeter a China, dando por fato já Irão, nessa tessitura, ficaria sem defesa. No entanto a guerra na Ucrânia, ao invés de enfraquecimento económico e militar a Rússia, tem fortalecido sua posição no mundo. E mesmo criado uma aliança económica e militar com o Irão, que complica muito o panorama para o poder ocidental.

E a China, a pesar dos problemas imobiliários, segue a comandar, por baixo do tapete, o tabuleiro das iniciativas comerciais, infraestrutura e rotas terrestres alternativas ao controlo marítimo do Ocidente.


Dicotomia com projetos em confronto

O PNAC (Projeto para o Novo Século Americano) formulado pelos neo-conservadores durante a década de 1990, desenhado para manter a supremacia da anglosfera, já falava desta prioridade; que passava, na altura, pelo controle total do Oriente Médio. Depois houve que retirar o plano, pelo fracasso militar no Iraque, Afeganistão e mesmo na Líbia – apesar da caída do regime de Gadafi.

A administração Obama/Biden, então, tentou girar sua política externa elaborando o projeto Pacific Pivot, com a intenção de concentrar suas forças no sudeste da Ásia e Pacífico, para conter a China. Deixando Oriente Médio "ardendo em chamas" para evitar consolidar as rotas chinesas da seda.

Observando a atualidade, vemos que a queda da Rússia, facilitaria as duas coisas: conter o crescimento da China em Ásia e, a expansão da aliança energética da Rússia e comercial chinesa com a Europa. Mas de momento essa tentativa não esta a dar seus frutos no desenvolvimento na Palestina (guerra Hamas-Israel) nem no leste da Europa (com centralidade na Ucrânia, e problemática na Moldava, Sérvia…), mas sim deu seu frutos a finalizar a cooperação energética da União Europeia com a Rússia.

Com a criação do Quad (Parceria Quadrilateral sobre Segurança entre Estados Unidos, Índia, Austrália e Japão) e do Aukus (aliança de cooperação tecnológica e militar Estados Unidos, Reino Unido e Austrália) a contenção da China na região do Indo-Pacífico, se torna junto a enfraquecimento da Rússia, como já mencionado, prioridade na nova doutrina geo-estratégica dos EUA – sua nova “realpolitik”. Uma doutrina que por inércia situa Europa na periferia.

Nesta nova conjuntura a velha análise (própria da guerra fria) da polaridade esquerda ou direita, não pode dar nenhuma resposta viável para compreender o momento atual, com repercussões, a longo prazo, em andamento.

Realidade plural, diversa, não coesa e, em certos momentos mesmo caótica… Daí a perda de espaço político da esquerda Woke e desorientação da extrema direita Europeia. Direita muito conservadora, em teoria anti-globalilsta, mas na prática atlanticista pró-OTAN – braço armado do globalismo - e economicamente neo-liberal, incompatível com um mínimo Estado, que garanta a Soberania…

Ambas (esquerda e direita europeias) Individualistas niilistas, pró poder Privado diminuidor do Estado - Enquanto a direita e esquerda soberanista do Sul global se tornam Estaticistas por necessidade de confrontar o neocolonialismo Ocidental das corporações privadas, com um poder centralizado e forte – como se verifica na Luta da África francófona contra a velha metrópole (da qual o capitão Ibrahim Traoré, na Burquina Fasso, é seu rosto mais popular).

Daí personagens como o Presidente do Salvador, Nahib Buquele, balançar-se entre sua aliança comercial com a China e, declarar-se Socialista de valores conservadores, a vez que tenta afiançar laços com o “globalista” Milei, presidente da Argéntia e o candidato presidencial Donald Trump nos EUA …

Aqui a esquerda e direita europeia perdem os referentes, evadindo um pronunciamento claro do tema.

Na África os movimentos anti-coloniais – que lutam para quebrar a dependência económica e salvar a “armadilha” das dívidas alinhando seu discurso com Rússia e China, como se observou la última Assembleia Geral de Nações Unidas, optaram pelo autoritário cambio de “golpes de estado” ate a ultima mudança eleitoral no Senegal, onde o vencedor Bassirou Diomaye Faye se posicionou contra o neo-colonialismo.

Mas mesmo no sul da América, começa existir uma nova esquerda e direita (que formam o eixo da Nova Resistência) que começam a tecer alianças anti-norteamericanas em favor dum Estado Social, unindo-se em favor da soberania e no confronto ao poder corporativo privado anglo-saxão (visionado, este último, como seu antagonista).

Daí o eixo da nova resistência ao Poder Global Ocidental (ainda no comando, mais muito enfraquecido) – seja, em este momento, tão diverso e contraditório. Sendo seus rostos mais visíveis os dos lideres do : Rússia – China - Irão - Coreia do Norte – Venezuela - e a África “francófona” em guerra de liberalização – do que eles denominam jugo neo-colonial; com Argélia a confrontar o Marrocos pro EUA - e agora a Nigéria (pró-ocidental) tentando submeter o Níger (pró-russo)…


Possível terrível guerra regional... As ruas de Senegal ardendo, levaram ao trunfo eleitoral do candidato pró russo; Mali e Burkina Faso largando o poder francês e potenciando a estruturação da sua economia em base a infraestrutura. Gabão na incógnita de que caminho seguirá ... O grito da África é contra Ocidente e a favor do novo centro euro-asiático e dos BRICS

Na Europa do leste, de fins dos anos noventa do século passado à inversa as populações se insurgiram contra o poder soviético - nas chamadas revoluções coloridas (apoiadas pelo poder neo-conservador ocidental “progressista”, que ocuparia os espaços deixados pelo poder soviético tradicionalista, visionado como ineficiente). Momentos esvaídos de sonho unipolar em ascensão, onde curiosamente a alianças do poder globalista e do próprio George Soros (hoje acusado de comunista pela direita mais conservadora) fora com o poder mais conservador, afiançado no Vaticano com o polaco Joao Paulo II (Karol Józef Wojtyła), representante daquela mesma direita…

A chegada ao poder daqueles neo-cons (neo-coservadores “Straussinos”) nos EUA, tomando conta, tanto do Partido Democrata como Republicano, ajuda a entender este fenômeno. Hoje tanto Blinken, como James Sullivan ou Vitoria Nuland (hoje afastada do poder, por excessivamente belicista) formam parte daquela escola do filosofo judeu-alemão Leo Strauss.

Somente Robert F. Kennedy Jr. (batalhador anti-vacinas covid) pelo lado democrata e Donald Trump (ligado ao movimento Qanon) pelo lado republicano– ambos associados as bizarras teorias da conspiração – se saem do controlo neo-con nos Estados Unidos.

Sendo que Trump aparenta estar-ser achegado a elite globalista, agora com a corrida presidencial. Com Kennedy Jr fora da disputa eleitoral; não é difícil imaginar, o por que para o Sul Global a democracia norte-americana ter, na pratica, muito pouco de pluralidade. Deixando de ser verdadeiramente representativa ao não abranger todas as tendências da sociedade (gostemos ou não das suas propostas).

Assemelha, a sua vez, o Império Ocidental chegar a seu limite económico, na queda dos centros financeiros de 2007-2008 e agora talvez chegar agora a seu limite de expansão territorial (Poder NATO) em Ucrânia...

Tendo como precedentes da sua lenta decadência a retirada do exercito norte-americano do Afeganistão, o trunfo do Irão no Iémene; o trunfo da Rússia em Síria. E quiçá, o início de virada a favor dum novo poder Militar russo capaz de encarar ocidente tenha acontecido na crise de Abjasia contra a Geórgia (em agosto de 2008) – Trazendo consigo uma nova delimitação da pressão NATO à Federação Russa nas fronteiras do Cáucaso.

Daí até Crise atual do Cazaquistão e a Arménia, no Nagorno-Karabakh, a Rússia se tem tornado um novo ator internacional. Auxiliada pela falha da Turquia entregada ao poder financeiro Ocidental (que hoje controla seu banco central) - morta ou retardada a ideia do poder regional turcomano de Erdogan, mas necessitada de um certo acomodo com Moscovo (agora roto após o atentado no Crocus City Hall), a Turquia aparenta diluir-se como ator regional, ficando somente a crise na Palestina como seu último refúgio. No entanto a entrada em cena do Irão, com sua rede de milícias “amigas” no Líbano, Iraque e Iemem, e sua presença direta na Síria, tem debilitado o poder turco.

Nova situação no corredor da Heartland de Mackinder, que se deve inscrever dentro da guerra (já não ofensiva e sim defensiva) dos EUA em todo o Oriente, para evitar a consolidação das Rotas chinesas da seda e das alianças russas…


Visões discordantes

 “A tarefa mais difícil da vida é mudarmo-nos a nós próprios” (Nelson Mandela)

Evitar também que a crise geral se tornar guerra Mundial híbrida - que pode mudar em Guerra Mundial Aberta, com perigo termo-nuclear se torna o desafio mais premente. Dado as visões dos dois modelos em concorrência (ocidental já delineado, o Oriental ainda em formação) estar a caminhar decididamente no desencontro – discórdia.


Tendo em contra a afirmação do ministro dos negócios estrangeiros russo Seguei Lavrov: "Acompanhar o doente terminal até sua morte, evitando encurrala-lo" parece ser que esta será a solução da aliança oriental russo-chinesa-iraniana, para fazer retroceder o Ocidente: ir diminuindo sua força. Daí o processo de desdolarização da ASEAN e os BRICS. Ocupando a seguir o novo poder Oriental os espaços que ficarem vazios, no retrocesso do poder norte-americano ainda em vigência. Evitando assim a guerra direta.

Esse encolher ocidental e tentativa de expansão euro-asiática cria muitas franjas de fricção em todo o mundo, podendo afetar mesmo a América do Sul, com partidas abertas no Perú (que complicam a dia de hoje a situação na Amazónia brasileira – com despregue de tropas norte-americanas no lado peruano); na Argentina onde o neo-liberal Milei promete cessar a cooperação com a China e sair do Mercosul, com tentativa de adotar o dólar como moeda referencial da nação e com entrega duma base militar na Patagónia para os EUA – que tomam o controlo das rotas da Antártida no Atlântico Sul.

Entregando, na pratica, o pouco que restar de soberania da Argentina ao Poder Corporativo Ocidental, onde agências como a Black Roock – estão a fazer um bom trabalho em favor do Capital Financeiro Transnacional Privado. A Black-Roock agora a ré-orientar sua compras de ativos também na zona BRICS.

Até o de agora o poder das sanções ocidentais, que funcionava como uma bomba atómica, nas economias desafiantes, arruinando a quem ousava contradizer as dinâmicas do capital global; não tem funcionado com a Rússia.

E essas manobras russas por baixo do tapete, contornado o SWIFT, que controla perto 11 mil bancos, de mais de 200 países; tem aberto uma janela de esperança para aqueles que querem retirar de seus países o controlo ocidental sobre seus recursos naturais, suas moedas, suas reservas cambiais e suas economias. Contando mesmo com a ajuda militar russa e económica chinesa

A narrativa ocidental de cair nas garras dum poder muito mais opressivo (o russo ou chinês não democrático) não tem mudado, no essencial, as dinâmicas de confronto e as tentativas de “ suposta libertação” do “Sul Global” daquele controlo unilateral Ocidental.

Hoje em dia em todo Ásia, África e América latina existe contestação. No entanto sua realidade está mais em sintonia com a disputa: com atores políticos, sociais e poderes económicos diversos a favor de uma ou outra aliança - Isto cria um cenário de desestabilização bastante preocupante: excesso de fricções acende confrontos generalizados, que podem chegar a sobre-dimensionar-se.

Sendo que o poder ocidental financeiro controla o falso conservadorismo neo-liberal, e pelo tanto “progressista” e, sua vez, a nova esquerda “progressista anti-Estalinista” que mudou aquela teoria da progressista “revolução permanente” de Trosky pela uniformidade cultural globalista da agenda Woke.

Agenda Woke que curiosamente chama pela diversidade, mas que unifica na globalidade ao potenciar um ser humano desenraizado: sem etnia, clã ou linhagem. Daí o confronto com Oriente onde a visão de linhagem, étnica e tradição formam parte da raiz presente no seu imaginário individual e coletivo.



Este poder ocidental financeiro neo-feudal, na sombra, controla a agenda da direita neo-liberal. Agenda que debilita o velho estado nação em favor de poderes transnacionais: instituições corporativas que na pratica devoram toda a soberania política e económica de qualquer país (agenda contra qual lutou em seu dia o general de Gaulle).

Enquanto pela esquerda (esse mesmo poder) domina agendas como a Woke, transnacional, que na pratica retira toda raiz cultural que possa afiançar a um povo no seu sentido comum de pertença. Debilitando, na pratica, ao Estado, em favor dum modelo cultural que favorece o desenvolvimento de poderes supra-estatais e supra-nacionais.


A tradição se une no Oriente contra a pós-modernidade do Ocidente

René Guenón (como já falamos) plantou a semente filosófica e mesmo “esotérica” do tradicionalismo moderno – e a raiz comum de todas as tradições (em sua obra “A Crise do Mundo Moderno” de 1927). Graças as suas achegas, entre outras, esta visão tradicionalista (renovada) volta estar finalmente de atualidade.

Guenón advertia que junto a necessidade do assento de cada tradição no seu povo estava a essência comum do transcendental – espiritual, que faz ao ser humano evoluir em harmonia consigo mesmo e com a natureza. Esse pensamento, de algum modo, está hoje a ser ressuscitado pelo oriente nas suas versões ortodoxa – russa, taoista – konfucionista chinesa, xiita iraniana e, agora com a convergência da tradição sunita da Arábia Saudita.

Enquanto a China tenta abrir pontes entre o Irão e a Arábia para evitar a quebra deste plano de novo edifício civilizacional, onde o comércio para Beijing é uma das prioridades e um dos laços mais fortalecedores da unidade... Ocidente adverte de um controlo chinês através do controlo economico.

Por enquanto no Ocidente o poder liberal financeiro revezando ambos bandos no governo, direita e esquerda, vão (passo a passo) introduzindo e normalizando a agenda económica e política transnacional e a agenda cultural globalista.

Oriente aparenta não estar de todo cómodo com esta inércia, que Ocidente tenta globalizar – e só olhando deste modo podemos entender a virada da península arábica (aliada fiel dos EUA) mais alem das suas disputas no campo dos hidrocarbonetos e, do seu delicado acomodo geopolítico, no Oriente Meio (ou Ocidente Asiático, como gostam chamar no Sul Global).


Rumo a um poder totalitário no mundo em embate

“A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos” – (Hannah Arendt - do livro: "Origens do Totalitarismo")

Eis o por que, nesta conjuntura, a dificuldade de compreensão da realidade geopolítica, para a esta nova esquerda progressista Woke Ocidental, se faz tão evidente. Ao tempo que sua perda de espaços se deve precisamente ao detonar duma crise económica maior, que iniciou com a derrubada do sistema de dominação anglo-saxónico, ao estourar o seu pulmão vital de Wall Street entre 2007-2008, como já referenciamos.

Em este marco de crise a esquerda woke pode perder grande de seu apoio político. Em tempos de crise e abalo sistémico e “confronto iminente”, o capital precisa virar ao lado mais mental rigoroso e inflexível, deixando fora o lado mais emocional e flexível.

Esse poder financeiro internacional dará todo o espaço político e mediático, devagar, a direita e ao discurso neo-fascista para encaminhar “à ordem social” e evitar reações excessivas de descontentamento. Impondo uma ordem favorável a sua agenda mercantil – financeira – transacional. Com destruição paulatina do Estado e da já muito fragilizada soberania nacional.

Para num segundo momento, já encaminhada a crise, voltar a dar algo mais de prioridade a esquerda e sua visão mais “integradora”.

Esta nova direita neo-fascista rompe com certas partes do discurso woke e mantém um conservadorismo já não tradicionalista. Mas sua agenda económica neo-liberal proporciona um acomodo momentâneo ao poder globalista, que reitera sua força belicista – em caso de confronto generalizado.


Eis o exemplo da mudança em Portugal, com a vitoria dessa direita muito ativa no seu confronto com a esquerda Woke, mas também com a Rússia (que erradicou essa agenda da sua sociedade). Igual discurso podemos observar na Itália de Meloni, sendo a vez muito ativa em sua agenda militarista a favor da OTAN ou NATO.

Caso diferenciado é o governo Orbán na Hungria – que abre uma fenda nessa nova direita, igualmente o novo governo da Eslovaquia, que abre uma fenda no velho populismo. Esse tipo de direita, junto a uma esquerda mais reticente a agenda Woke é a que tenta aglutinar Serguei Glaziev na sua ideia novos movimentos “populistas europeus” que podem aceitar seus esquemas socialistas (muito mais favoráveis ao acomodo da União Europeia com a Rússia) e que na Europa atual são vistos como quintas colunas do Kremlin.

A nova aliança anti-liberal: semente do novo socialismo tradicionalista

Glaziey, aproveitando as teorias de Dugin, pretende alimentar uma aliança pardo vermelha na via dum novo modelo socialista – definido fundamentadamente como um poder estatal em confronto com o poder transnacional privado corporativo.

No seu lado luz esse poder teria de utilizar o Estado ao serviço das populações, dirigindo a economia e a política e, auxiliado pelo capital privado em parcerias concretas de mútuo beneficio. No seu lado sombra esse estado se converteria no típico modelo burocrático, com tentativa de ocupar todos os espaços sociais (modelo que já se demonstrou falido e contra o que Glaziev adverte nos seus escritos).

Glaziev, nos seus estudos, faz finca-pé na experiência soviética: seus erros (excesso de estado e controlo social, falta de iniciativa privada e falta dum contrapeso espiritual) e seus acertos (tradicionalismo, focagem no coletivo por cima do individual e acesso da cidadania a formação académica e garantia de emprego).

A ideia do novo modelo de virtudes soviéticas, virtudes da iniciativa privada e virtudes do tradicionalismo existencialista (que bebe daquelas fontes de René Guenón, de Charles Maurras, do moralismo de Ernest Renan e do legado russo da “Geração de Prata) devagar deveria ir abrindo-se passo ate uma nova orientação estatal mais flexível e com melhor encaixe nas sociedades.

Capacitando a este novo modelo de governo para ter mais oportunidade de resolver os problemas atuais e os retos do futuro. Assentando-se no Oriente – como campo prioritário para ensaiar as mudanças, para logo ir penetrando o Ocidente, da mão da nova resistência – que em esse momento tornar-se-ia vanguarda.


Uma nova cosmovisão onde o modelo de eficiência chinês baseado no pragmatismo e criatividade, por cima do dogmático ideológico é uma das colunas guia. Ativando um poder de estado moderador, não intervencionista.

Glaziev acha esse “Estado Moderador” único catalisador capaz de dar respostas às velhas problemáticas ainda sem resolver e, estar melhor capacitado para tomar as rédeas, em momentos de novos desafios, muitos perigosos para a atual humanidade.

Sendo, para ele, que o Poder Privado Financeiro chegou a seu limite histórico e está fora de seu tempo (dado que se monstra incapaz para resolver os problemas atuais, enquanto acumula os problemas passados, segundo Glaziev gerados pela “inoperância” típica da decadência).

Mas como esse poder Corporativo Privado (ainda dominante) se nega a dar o revezo ao novo poder Estatal do novo Socialismo “Tradicionalista” em andamento – o embate entre ambos modelos seria, baixo ponto de vista de vários autores do Oriente e Sul Global, inevitável. Acumulando neste embate o Sul Global as forças de esquerda e direita socialistas e tradicionalistas.

Esta conceção foi já apresentada, por Serguei Glaziev, em seu livro: “A última guerra mundial: EUA começa e perde” Aqui o modelo chinês volta a ser central e relevante. Como engenheiros projetando uma nova máquina, os líderes chineses estão constantemente trabalhando em novas relações de produção através da resolução de problemas concretos, realizando experimentos e selecionando as melhores soluções. Eles estão pacientemente construindo seu socialismo de mercado passo a passo, melhorando constantemente o sistema de administração estatal, selecionando somente aquelas instituições que trabalham para o desenvolvimento da economia e o bem-estar social

Serguei Glaziev afirma no seu já referido livro este modelo económico ser o mais idóneo, matizando que esta visão chinesa já confronta de facto o norte-americana: “A reativação do planeamento do desenvolvimento económico e social e regulação estatal dos principais parâmetros de reprodução do capital, a política de ação industrial pro-ativa, controle dos fluxos de capitais transfronteiriços e restrições monetárias podem deixar de ser um cardápio proibido pelas instituições financeiras de Washington para se tornar ferramentas geralmente aceitas de relações económicas internacionais. Como contrapeso ao consenso de Washington, vários acadêmicos começaram a falar sobre o consenso de Beijing, muito mais atraente para os países em desenvolvimento, onde vive a maior parte da população da humanidade”


Confronto – assumindo papel inicial de guerra híbrida

Dentro deste novo conceito o Estado Soberano seria o único ator real, com capacidade para enfrentar o poder transacional privado. No plano económico o estado não dirigiria de forma vertical, senão que procuraria fazer de ponte entre o mundo cientifico, tecnológico e empresarial. E no caso social, se arrogaria a faculdade reguladora, como redistribuidor de renda, para evitar acumulo excessivo no topo da pirâmide.

Antagonizando como o modelo Privado, onde o Estado deveria perder essa função, permitindo o livre mercado criar os mecanismos de homeostase social e parceria económica.

O problema é que estas visões contra-postas deixam muito pouco margem para o acomodo, fazendo perigoso o risco de combate - guerra. E, somente o medo de ambos contendentes a uma guerra termo-nuclear tem minorado as ânsias mais belicistas. Transformado a guerra total em guerras parciais híbridas: que estão a prodigalizar-se pelo globo.

A guerra híbrida sinaliza o princípio duma guerra mais aberta e ampla, no caso das franjas de fricções aumentar e a corrida pelos territórios e recursos: terras raras, centros tecnológicos (como Taiwan), regiões produtoras de energia e seus corredores (como Oriente Meio, América do Sul e o Sahel africano)…


Pela contra o medo da guerra aberta – total, deveria facilitar algum tipo de acomodo frutífero, para ambas partes. Assentamento único possível seria talvez com divisores territoriais, que podem começar no Dniepper na Ucrânia, se finalmente parar a guerra; abrindo passo a um novo marco – muro de separação por delinear no tempo.

Essa divisão por força teria que gerar uma divisão na Noosfera – e, em tempos de comunicação global difícil de ser aceita, sem um prolongado e forte desgaste, prévio, de ambas partes, na sua luta pelo controle da “Noosfera global” - controle do imaginário coletivo, nas diversas regiões do globo.

Novos paralelos e meridianos, onde Ocidente – e a Eurásia começaram a divisão entre o poder Privado e Estatal – Deixando potencias regionais (mas com capacidade de decisão sobre assuntos globais) como Arábia Saudita, Brasil, Índia e Sul-África como pontes de entendimento – centros mais neutrais (se essas potencias pelo seu vigor ganhar esse direito) – entre as partes. Sempre que estes países souberam jogar a baça duma real e certa neutralidade.

No caso da Arábia Saudita, Índia e Sul-África, valorizando muito a agenda tradicionalista (ver a Narendra Modi, na cimeira do G-20, denominar Bharat à Índia) e valorizando também o poder estatal mais tendendo a mão a cooperar com o poder privado transnacional ocidental, como também com o estatal e privado chinês e russo.


O Declínio do valor individualista niilista – novo humanismo?

“Se você quer os acertos, esteja preparado para os erros.” (Carl Yastrzemski)

Preciso será estar a atentos aos novos desenvolvimentos, tanto no campo científico como filosófico; tal como nos deixa entrever o filosofo francês Denis Collin no seu referido escrito: Até agora, os partidários da razão e do Iluminismo se apegaram inadvertidamente à teologia cristã: Deus está em todo ser humano e, portanto, todo ser humano é de alguma forma Deus. Isso bastou para estabelecer barreiras: o homem é sagrado como Deus é sagrado para quem nele acredita. É preciso repetir: o projeto da ectogênese é, em sua essência, um projeto malthusianista, é uma nova forma de apoteose do capital. A desnaturação radical do homem é sua des-subjetivação e sua transformação em matéria-prima para máquinas ou em um cyborg. Os delírios de Marcela Iacub, Thierry Hoquet e Donna Haraway não são só delírios. Em primeiro lugar, são pessoas delirantes que ocupam cargos académicos importantes e, em segundo lugar, esses “delírios” são a expressão da racionalidade do modo de produção capitalista que, em seu movimento incessante, não deve deixar nada de sagrado em pé (.) Se acreditamos que as ideias filosóficas são também um campo de batalha (Kampfplatz, como disse Kant), então temos que realizar uma crítica exaustiva, sistemática e fundamentada do progressismo e de suas bases insidiosas, o positivismo. Nesta batalha, os humanistas, aqueles que acreditam que o homem é um Deus para o homem, como dizia Spinoza, se encontrarão do mesmo lado da trincheira, enfrentando esses materialistas baratos e seus amigos desconstrutivistas”

E acompanhando esta discussão filosófica podemos entrever, que o poder ocidental chegou a seu limite de expansão e suas preciosas achegas racionalistas, que transcenderam o impulso espiritual do renascimento, no Iluminismo, pela necessidade de ativar o poder racional do ser humano contra a superstição irracional encoberta de religiosidade, chegaram a seu momento de entropia – em finais do século XX (onde o niilismo individualista tomou forma).

Esse niilismo não permitiu um olhar mais abrangente, mais transcendente. Impedindo, na prática, voltar a unir-se a filosofia racional com a fonte espiritual, da qual emana.

Niilismo, que surge do termo latim “nihil” que significa “nada” – hoje “conceituado” ou melhor dito olhado como um ceticismo isento de regras, é também visionado como aliado do materialismo, ao qual deveria combater. Sendo combatido pelo tradicionalismo e espiritualismo transcendental por ser visionado, por este último, como uma evolução lógica, a contra, dum positivismo que chegou a seu fim, ao tornar-se a ideia do progresso contínuo uma impossibilidade. Assim, para o tradicionalismo o niilismo entra em vigor, quando o ideal do progresso contínuo declina – sendo esse niilismo um efeito do Shock de ver a realidade da impossibilidade de manter a visão positivista.

Voltando, deste modo, a tomar corpo o ideal cíclico da tradição, que se introduz renovado na “noosfera” tanto pela necessidade da recuperação do entorno natural, como da recuperação do indivíduo como ente pensante e transcendente. Sendo o transcendente e os ciclos inerentes, dentro da dualidade da expansão e contração, instrumentos eficazes e válidos para dar forma a recuperação de se humano (perdido na insubstancialidade niilista) e à recuperação do entorno.


Muitos homens de ciência e humanidades acreditam ser necessário desligar ambos conceitos: razão e espírito; permitindo, assim, que o transcendente da racionalidade abra o estímulo da via evolutiva, deixando o transcendente espiritual, fora da equação que vai programar a “ideal sociedade” futura.

Aqui esta o embate crucial na “Noosfera” entre o tradicionalismo do transcendente e imanente e o racionalismo que deve transcender por cima de este.

Vemos assim, seguindo esta estelar propulsão progressista do transcendente racionalista, como o filosofo israelita Yuval Noach Harari nos abre a possibilidade de seres humanos melhorados geneticamente, graças aos avanços cientifico-tecnológicos. O humano – maquina vai tornar-se o foco central do novo pensamento, em colisão com o pensamento tradicional do humanismo com raiz espiritual – o humano ser – racional e transcendental.

A possibilidade de manipulação da nossa mente e corpo, por meio desses avanços cientifico – tecnológicos, melhorar vai a espécie ate transcender a mesma, segundo esta visão “progressista” e transhumanista.

Impulsando um progressismo tecnológico, muito favorável a visão racionalista ocidental, do ser humano como “ser orgânico” a ser melhorado. Ate chegar aquele transhumano – por livre eleição evolutiva, do próprio humano, que tenta melhorar-se.

A contra o tradicionalismo espiritual incide na melhora dentro do transcender interior e mesmo místico. Travando o acelerado impulso progressista, e recolhendo suas velhas achegas cientifico – tecnológicas, para introduzi-las na taça da conservação. Ativando um ritmo mais pausado, enquanto o humano ser se volta para si mesmo, a redescoberta da sua psique e do seu “nous” – o verdadeiramente transcendente – para descobrir seu potencial poder como: mulher e homem.

A divisão aumenta – a luta na “noosfera”

Daí o rejeitar da “agenda de género” da visão tradicionalista: como podemos tentar desenvolver outras identidades, se ainda não conhecemos e não usufrutuamos todavia de todo nosso potencial? Temos de descobrir-nos, no agora – presente, como homens e mulheres que se intuem e se querem conhecer como seres racionais e transcendentais

Mas o “trans-humanismo” do transcender o humano pelo progresso cientifico racional, mantém sua confiança na sua aposta do Ocidente de melhorar o ser humano pela tecnologia, ser a certa.


Afirmações como: “O novo fundamento é o fluxo de dados no mundo, a ponto de mudar até mesmo a compreensão do que é um organismo, do que é um ser humano; O ser humano deixa de ser esse eu mágico, autónomo, com livre arbítrio e capaz de tomar decisões sobre o mundo. Ora, o ser humano, como todos os outros organismos, nada mais é do que um sistema de processamento de informações que flui incessantemente” situam a Harari no campo racionalista mecanicista e materialista no qual se acomoda bem o processo evolutivo histórico do Ocidente, mas muito afastado das conceções históricas e dinâmicas herdadas e ainda imperantes no Oriente. Daí a fissura tender a aumentar, com o passo do tempo.

Agendas como a Identidade de Género, que parecem tão atrativas a Harari, são vistas como monstra da entropia social ocidental no Oriente. “Estou lendo um livro que trata de novas teorias sobre pessoas transexuais, pessoas não binárias e tudo mais. O livro que li pouco antes falava sobre os primeiros dias do Cristianismo. E me surpreende o quão semelhantes as duas coisas são. Grande parte do debate atual sobre o género é estranhamente semelhante ao que os primeiros cristãos discutiram sobre a natureza de Jesus Cristo e da Trindade. O que eles perguntavam era, em essência, se Jesus Cristo era uma pessoa não-binária. Se Jesus Cristo era divino, humano, ou divino e humano, ou nem divino nem humano. Vejo nisso ecos de muitos dos debates atuais sobre a natureza do ser humano e da pessoa. Podemos ser ambos? Podemos ser apenas um? E, se essa outra pessoa não pensa como eu, então ela é uma herege. Na realidade, os heróis dos primeiros cristãos eram mártires e monges ascetas, como o famoso Simão, que passou anos no topo de uma coluna. Eles investigavam os limites do corpo humano com o que tinham à disposição. Agora, com as questões de género, fazemos mais perguntas sobre o que podemos fazer com o corpo, se podemos mudá-lo desta ou daquela forma” Esta reflexão de Yuval Harari, carece de todo sentido ontológico para o pensamento basilar do Oriente.

Uma tendência progressista de enfoque racional, que de algum modo retira a intervenção do supra-humano “transcendental” (da que tanto gostam os orientais) dos processos naturais e, do significado da vida. Afastando, em este processo, para a perceção oriental, a razão do espírito.

Mesmo que grupos como Eranos, no seu trabalho consciente, tenham desde a Europa do progresso aberto o caminho de união ciência espiritualidade, todo aparenta (de não haver um giro muito profundo no ocidente) que esse novo roteiro vai ser aproveitado, pelo novo centro civilizacional Oriental, agora em andamento, para marcar uma linha divisória na “noosfera” muito profunda.

Enquanto Ocidente prefere seguir mergulhando nesse novo racionalismo tecnotrónico, em procura daquela sociedade que sonhou, no seu dia, o ex-conselheiro dos presidentes norte-americanos Cárter e Clinton, o judeu de origem polaco Zbigniew Brzezinski: Oriente prefere assentar todo avanço cientifico – tecnológico na sua raiz ontológica (tanto na sua visão mais heideggeriana, como mais teológica ou mais orientalista – no sentido de integração do ser humano na realidade cósmica primordial – o “tao chinês” – o “Braman” indiano... ).

No entanto Brzezinski, contava em aquela época com o poder militar, económico e cultural unilateral e único do Ocidente, encarnado pela supremacia total dos EUA, tal como lhe mostrou na apresentação do seu livro “O Grande Jogo de Xadrez” a um jovem Alexander Dugin. O jovem, na altura, filosofo russo que teve de observar estupefacto como a teórica partida de dous (do xadrez) se transformava na partida de um só jogador movendo, as peças, de ambos lados do tabuleiro.

No entanto, a partir da crise sistemática de 2007-2008 esse poder total começou a declinar e, a dia de hoje é muito contestado.


O Sul Global levanta a voz

⁠"Os inimigos de um povo são aqueles que os mantêm em ignorância" (Thomas Sankara)

Oriente se organiza na contra desse visão de “destino manifesto” unipolar (que bebe das fontes universalistas medievais do Papa Silvestre II e do Senhor do Sacro Império Otão III – planificadores duma cristandade unida e um poder único global, por ela comandado). Em este embate Oriente – Ocidente nasce a tentativa de realizar um novo mundo multipolar como vetor duma nova filosofia humanista transcendental.

Filosofia que organize utopicamente, mais devagar, no futuro horizonte (partindo do trabalho presente) a inevitável comunhão entre inteligência artificial e a inteligência humana. Em um local onde a tradição, a raiz coletiva, seja a taça onde incluir o avanço tecnológico e o modelo social de Estado Soberano. Na contra dum Ocidente tentando impulsar a agenda privada e Inteligência Artificial como vetor impulsor duma humanidade deveria transcender, com ajuda da tecnologia, seus limites mentais e corporais.

Harari não esconde sua ideia dum ser humano em obsolescência, que precisa transcender materialmente, mas de modo a melhorar-se com as achegas tecnológicas: “Acho que a razão pela qual os debates sobre pessoas transexuais, pessoas não binárias e tudo o mais geram tanto calor é que as pessoas talvez tenham um sentimento subconsciente de que os debates do futuro serão sobre o que podemos fazer com o corpo e o cérebro humanos; como podemos redesenhá-los, como podemos modificá-los. A primeira realidade prática que encontramos com estas questões é a do género. Podemos dizer que as pessoas são intolerantes e muito sensíveis quando se trata de sexo e género, mas penso que na verdade sabem inconscientemente que este é o primeiro debate sobre o transumanismo. Fala sobre o que podemos fazer com a tecnologia para transformar o corpo, o cérebro e a mente dos seres humanos. É por isso que os debates são tão acalorados”


Esta ideia transhumanista é para o cosmovisão do Oriente, de certo modo, inaceitável. Daí ser Ocidente olhado, para suas elites culturais tradicionais, como decadente – No entanto em muitos lugares do Oriente, como a Índia, para suas novas elites económicas certo grau de ocidentalização resulta atrativo (essas elites na Rússia perderam bastante peso social, a partir da guerra na Ucrânia) .

Oriente, pois, começa assimilar seu papel de modificador do impulso entrópico dum ocidente em queda (virado no material). Nascendo do seu seio uma nova orientação mais conservadora aos desafios ambientais, científicos e tecnológicos em curso.

Voltando unir a raiz dos povos com as problemáticas a resolver dos nossos tempos e as complexidades herdadas do passado.

Ordenando o impulso criativo mais de devagar: acomodando esses tempos de planeamento, desde a raiz comum tradicional da sociedade ate o necessário impulso impetuoso de progresso.

Sendo, que talvez, seja mesmo a missão do oriente – orientar. E a de ocidente impulsar.

Ambos formando uma polaridade perfeita, da qual ainda (por ignorância) não pudemos tirar proveito adequado para criar uma maior harmonia e uma melhor humanidade.

Ignorância coletiva que cria confronto e propicia o revezo em atrito – ao invés de um revezo acomodado na parceria, de um polo pelo outro, no comando, segundo o ciclo de expansão – contração (nascimento, esplendor e declínio).

Ocidente abre a via do progresso – semente no caminho. Oriente conserva esse impulso – gera o molde, útero- taça, para criar a nova forma. Será este o mistério, ainda a ser descoberto?

O hemisfério Norte mais rigoroso – masculino – vontade em ação; o hemisfério Sul mais amoroso – feminino – sabedoria em resguardar o funcional conceito? Será este um outro mistério maior, que ao anterior complementa? Ainda não temos certeza!


A morte como transcendente – A imortalidade como transcendência

"Deus serve-se do homem para atrair a criatura ao coração do seu amor" (Papus - “Cabala: a tradição secreta do Ocidente”)

A tradição oriental e a visão tradicionalista (hoje minoritária no ocidente) encaram a morte, como algo transcendente: algo a ser preparado com antecedência. Com seu lado luz encenado na narrativa do regresso a “casa do Pai” dos cristãos ou da volta ao “Palácio do Rei”dos judeus; o retorno ao Eterno Oriental, com diversas perceções que vão desde a reencarnação e a ideia do “Karma” até a naturalidade evolutiva e transformadora em diferentes planos ou o ré-encontro com a essência (do tao). Mas todas elas dão um significado profundo e misterioso a morte, como antecâmara dum plano mais transcendental

O progressismo ocidental (dominante em nossas sociedades) começa a tomar corpo, em algumas visões filosóficas como o “Aceleracionismo” Perceção duma possibilidade de transcender a própria morte, graças a evolução cientifico tecnológica abrir a porta desse processo, segundo seus promotores.

Em 1967 o escritor Roger Zelazny publicou “O Senhor da Luz”. Uma novela que apesar de mergulhar nas tradições orientais hinduistas, especulava com aquela possibilidade de transformação abrupta da realidade dos seres humanos. A dia de hoje essa transformação desde a ótica “aceleracionista” ultrapassa o conceito da mesma morte, a causa de nosso desenvolvimento poder encaminhar-se, finalmente, a ultrapassar a mesma.


Em recente entrevista ao ex-engenheiro de Google Ray Kurzweil, este afirmou que os seres humanos poderiam alcançar a imortalidade, graças ao profunda revolução acontecida nas pesquisas varias em campos como a nanotecnologia, genética e robótica.

Os “aceleracionistas” precisamente acham que se deveria dar um impulso do modelo globalizador do capitalismo, sobre todo em áreas como auto-moção, encaminhando este impulso a uma rápida fusão entre ser humano e a inteligência artificial. Algo que somente será possível com a redução drástica do estado e desregulação dos mercados (a seu entender).

Única forma de encaminhar as nossas sociedades em profunda crise a uma única solução seria pois, por um salto evolucional, para eles, muito preciso. O tempo chama em essa direção e, parece segundo esta filosofia, não restar outro caminho. Mas Oriente tem outras trilhas.

São estas perceções pós-modernas e tecnotrónicas do mundo, que ferem a alma mais conservadora do Oriente. Assustam seus dirigentes políticos atuais, suas elites espirituais e filosóficas e abrem uma fenda (a cada dia mas intransponível) entre o modelo civilizacional oriental e ocidental. Fenda que divide a visão filosófica, mais profunda, dos dois mundos – aumentando o combate na Noosfera.

Nesta separação das aguas do novo tradicionalismo socialista, a direita tradicional conservadora, a esquerda estaticista, o “ambientalismo” defensor da raiz dos povos e sua conexão espiritualista e, mesmo o novo o populismo emancipador africano (em luta contra a neo-colonização) começaram a criar uma unidade em torno do inimigo comum, alterando a geopolítica a nível global.

Ultrapassando a velha dicotomia esquerda - direita. Esse novo inimigo do Oriente é precisamente o progressismo ocidental, que consideram tão acelerado que somente pode levar a auto-destruição da própria humanidade.

Em ocidente essa luta oriental e de parte do “Sul Global” (nomeadamente África) encontra aliados num tradicionalismo europeu (hoje em perda constante de espaços), que de algum modo se está a transformar na nova resistência as dinâmicas progressistas e globalistas do Ocidente Coletivo. Assim como no Oriente os sectores mais progressistas da sociedade, seduzidos pelo modo de vida Ocidental, se tornam aliados naturais do poder privado ocidental – complicando todavia mais o “novelo” das encruzilhadas, em este novo século.

Daí não é estranho encontrar velhos inimigos como a direita e a esquerda tradicionalista unir-se, muito devagar de cara a fazer força contra um inimigo comum externo: a globalização (hoje travada mas não desativada).

Vemos opostos com discursos semelhantes. No lado mais alarmista do conservadorismo tradicionalista cristão o discurso de Monsenhor Viganó condizer na argumentação com o ex-presidente xiita do Irão Mahmoud Ahmadinejad.

Enquanto Viganó encara este progressismo acelerado como o “Anti-Cristo” – Almadinejad o visiona como o “Novo Satã”…

E esta fenda, mesmo nas suas posições mais moderadas, não deixa de aumentar e friccionar em todas as áreas da nossa realidade social, ao friccionar na esfera do conhecimento – do pensamento: a “noosfera” de Vernadski.

Dai ser impossível, a dia de hoje, fazer um diagnostico correto da nossa realidade desde a velha dicotomia conservador-progressista. Nem sequer tentado assimilar a mesma com o recorrente universalismo – isolacionismo

Dado que no Tradicionalismo Oriental, que se afasta e começa a lutar contra o Progressismo Ocidental existe uma ideia de universalismo, que comunga bem com a formulação de Guenón duma essência que unifica todas as tradições. Mas também da necessidade de cada tradição seguir seu caminho, ate que o encontro frutífero tiver lugar, na altura precisa da historia.


Daí o Oriente acha a aceleração do processo, passando por cima das tradições, como não respeitosa com os próprios ciclos naturais de amadurecimento e pelo tanto, por si mesma entrópica.E o afastar-se dessa raiz comum espiritual dos povos (olhada como transcendente) totalmente inaceitável

Daí, em todo este confronto, em meio desta encruzilhada de ciclos evolucionais humanos – sociedade – revolução cientifico-tecnológica, o caminho dissidente entre o “Ocidente Coletivo”- Oriente e parte do “Sul Global” está conduzindo a ir determinando um novo modelo multipolar, que vai ir cristalizando aos poucos, e será finalmente o que veicule esse choque com o “modelo globalizador unilateral ocidental”


Novo Modelo

Não se trata de ter ideias. Trata-se de as fazer acontecer” (Scott Belsky)

Curiosamente esse novo modelo oriental alargado ao “Sul Global”, de trunfar neste embate, será espiritualmente o construtor da nova Egrégora do Ecumenismo Espiritual – na nova filosofia anti-transhumanista – dentro dum novo modelo político económico socialista conservador – tradicionalista (com apoio do poder privado ao serviço do estado) – e culturalmente anti-agenda woke.

Ainda que no início, dado a magnitude da transação em curso – e das tensões encobertas e abertas – e mesmo tendo em conta a baixa tónica evolutiva das sociedades atuais, todo ruma a que, mesmo trunfando o modelo oriental sobre ocidental, o poder autocrático vai sai reforçado sempre em tempos de crise, em ambos lados da balança.

Assim, podemos observar como a china do liberalismo filosófico libertário de Liu Junning, perde em favor do confucionismo autoritário de Jiang Qing. Enquanto sua elite governante conserva a raiz taoista, por cima das polaridades sociais, mas favorecendo determinadas formas de coesão cultural, mais de ordem e rigor coletivo que de libertação do individual sobre o coletivo.

Mas a flexibilidade também é precisa, para este poder chinês, pela compreensão dela ser a base de toda mudança; e a compreensão, a sua vez, da mudança ser continua. Deste modo a elite no poder deixa sempre margens de manobra na base -fora do controlo da cima, o que da ao povo noção de certa amplia liberdade.

E aqui vai radicar o sucesso ou retrocesso, da ascensão do fator humano na China, que deve acompanhar ao grande desenvolvimento material, que nos últimos anos tanto tem assombrado ao mundo.


Sendo que a China, a pesar do desenvolvimento industrial, tecnológico e cientifico, mantém muito firme sua visão orgânica da realidade. Estando sua flexibilidade orientada a integração dos opostos, ultrapassando a visão maniqueísta do bem e o mal. Ultrapassando nosso pensamento ocidental muito na inércia de dar voltas em círculo, enquanto o pensamento chinês (que faz finca-pé no domínio das emoções) é muito mais subtil, fresco e direto: mais simbólico que literal. Apoiado no esforço preciso sem forçar: seguindo o curso da lei natural da fluência.

Esta visão chinesa pode, a pesar das aparências ligar com a visão xiita iraniana da perfeição cosmológica; pois a naturalidade do caminho do tao também implícita essa universalidade. Daí a perceção iraniana das realidades do passado e do futuro estar presentes, a modo de exemplaridade ou como semente, no aqui e no agora: fora do sentido da linearidade racional ocidental. Essa visão conecta com aquela interpretação simbólica, muito presente na filosofia chinesa.

Perceções do mundo que também se ligam com a visão messiânica russa, aliada a espera do Mahdi ou Messias dos iranianos; presente sua figura diluída na realidade espiritual como uma guia precisa no comportamento de vida dos crentes. E estes caminhos, por diversos atalhos, confluem numa necessidade de atitude ética diante das provas do destino.

Sendo a realidade cíclica dos tempos outro nexo de união na cosmovisão oriental, enquanto a ideia xiita de ser preciso restaurar a justiça, ultrapassando a injustiça histórica que os condenou, liga evidentemente com o sentimento africano da necessidade duma justiça reestabelecida, após o período atual da neo-colonização e, necessária volta a tomar conta da sua soberania como passo prévio de restabelecer o poder dos africanos no seu continente.

As raízes da África, podem unir-se a raízes da Ásia e duma Rússia, que definitivamente abandona seu anseio de ser aceite pela Europa.

E pode este ser um alicerce prático para criar uma nova visão desse novo multipolar mundo, que agora luta por dar a luz seu menino recém nascido, em tempos de crise sistémica. E como sempre, ao longo da história, este novo centro, de concretizar-se, desenvolver-há um novo caminho civilizacional com suas luzes e suas sombras.

Movimentos pendulares na noosfera até a humanidade alcançar uma tónica evolutiva capaz de equilibrar as diversas polaridades, para finalmente a vida energia tomar forma numa mais ampliada e amplificada vida consciência.

Dos orientais ter essa oportunidade vão aproveitar, pois eles conhecem o pensamento de Lao Tse: Há um tempo para viver e um tempo para morrer, mas nunca para rejeitar o momento”







Comentários

  1. estou espantado com os seus conhecimentos meu amigo - vou passar para alguns amigos no facebook e no zap - forte abraço

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    1. grato amigo - agradeçemos... Um grande e fraterno abraço

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