A BATALHA COGNITIVA ENTRE O NEO-FASCISMO E O NEO-SOCIALISMO por Artur Alonso

 


Marcelo Ramírez, nos adverte no seu artigo “As Elites e a Instrumentalização de Gramsci, Maslow e Bezmenov na Guerra Cognitiva contra o Povo” – do uso de certas teorias, destiladas da sua essência inicial e utilizadas em favor de uma elite plutocrática para controlo dos processos de mudanças, em favor dos seus interesses corporativos
Nós acreditamos num modelo holístico de desenvolvimento, onde as partes incidem no todo, e o todo da sentido a essas mesmas partes. As elites pois tentam amoldar-se as circunstâncias cambiantes, que gere a continua mudança, tirando o melhor beneficio possível, para elas, dos acontecimentos que estão a decorrer. A única e grande vantagem das Elites tem a ver com suas capacidades para reagir diante das diversas circunstâncias.
Do mesmo modo asseguramos as elites não são de pensamento único, havendo divergência entre elas. Mesmo entre as Elites privadas Corporativas.
O trabalho para a consolidar o poder das diversas Elites
No Ocidente, as elites do poder financeiro globalista, em época de crise sistémica e queda da “velha Egrégora do Cristianismo” em favor duma nova, todavia sem formar, Egrégora, tal vez a do Ecumenismo, acharam chegado o tempo do rigor de Marte – e pelo tanto viram o ressurgir dum poder totalitário como modelo ideal para salvaguardar seu interesses.
Um neo-fascimso que previamente foi inoculado das supostas virtudes corporativas que estas mesas elites, como bem indicou Moniz Bandeira, no seu brilhante livro “A desordem mundial” tentaram já impor nos Estados Unidos em inícios dos anos 30, procurando travar o New Deal de Franklin Delano Roosevelt, que elas achavam demasiado “socialista”.
Sabendo ou não da mudança do Poder Financeiro – Mercantil em favor do Poder cívico, evitar a criação dum centro “socialista” de Poder Estatal é uma das suas prioridades. E na guerra cognitiva que se realiza na Noosfera este desenvolvimento se impõe como prioridade.
As quatro etapas do método cognitivo de Bezmenov foram habilmente utilizadas nas “revoluções coloridas” em favor do Poder Globalista Financeiro, para destruir o poder Soviético (ao qual paradoxalmente estas etapas teriam de favorecer), durante a década de noventa do século passado. E durante inícios do século XXI, foram a sua vez utilizadas, para destruir toda resistência dum modelo socialista – estaticista, como o da antiga Iugoslavia ou a Líbia de Muhamar Gaddaffi.
O controlo da economia e as moedas nacionais por parte do Poder Financeiro Internacional, por meio dos Bancos Centrais encadeados ao poder da Reserva Federal Americana e ao dólar. O controlos dos Bancos Centrais mundiais pelo BIS e controlo dos programas económicos estatais nacionais pelo FMI. As moedas nacionais atreladas a expansão monetária da dolarização, que permitia a manipulação artificial das mesmas em favor dos interesses norte-americanos. E os programas económicos globais bebendo das fontes da Escola de Chicago e do Consenso de Washington, fizeram do Poder Financeiro Ocidental Privado o Senhor do Mundo.
Para poder acelerar processos com resistência governativa ou social à implantação de tais modelos, as quatro etapas faladas de Bezmenov (que segundo o ex-KGB utilizava a URSS contra o “Mundo Livre Ocidental”) foram postas em marcha à contra: precisamente contra aqueles poderes estatais inimigos do Ocidente, incluída, como já referido, a mesma União Soviética. Sendo estas as fases: a) Desmoralização b) Desestabilização c) Crise d) Normalização - Magnifica foi a posta em cena destas mesmas fases durante a queda de Gorbachev a subida ao poder por Iestein, na mesma URSS.  
Implementando a Guerra Cultural
A guerra cultural de Gramsi, em favor duma sociedade socialista ao estilo marxista Leninista, foi implementada a contra corrente, em favor duma sociedade liberal globalista – escravizada a uma elite financeira (controladora do estado, por trás do estado) por meio da Dívida Pública e Privada perpétua e permanente. Dinheiro criado através das dívidas, agenda introduzida, no mundo das finanças, pela Reserva Federal de Chicago, a inícios do século passado no seu pequeno estudo intitulado “Modern Money Mechanics”- Mecânica Moderna do dinheiro -
Controlado a tese e anti-tese (direita e esquerda) por meio do revezo no governo de ambos polos da balança (segundo o apoio económico dos diversos atores do poder financeiro e suas diversas agendas) se chega a uma sentisse, que nem sempre é tal qual como previamente foi idealizada, devido a múltiplos fatores que estão presentes, sem ser vistos ou aparecem antes, durante ou na finalização do processo.
A agenda económica que entrega, na pratica todos os recursos dum país “soberano” em favor de uma elite corporativa internacional privada, matando os restos de soberania do mesmo, se efetua por meio de programas neo-liberais (adotados por governos de direita ou esquerda)
A agenda social “Woke” que desenraíza os povos da sua tradição e tenta criar um “falso universalismo” onde a desconstrução da raiz secular ou milenar dum povo é relacionada com o progresso, a modernidade e liberdade… Se efetua desde políticas varias culturais e sociais (implementadas por governos de esquerda ou direita)
O falso feminismo que quebra o laço com a raiz feminina da vida – da natureza e do prototipo feminino do útero cósmico; desligando a mulher – da natureza – e do cosmos, é um campo de guerra para a confusão que gera desmoralização.
Junto aos falsos movimentos libertários – identitários que já não atacam o velho rol patriarcal (opressivo para a mulher), senão que atacam diretamente a recuperação dum modelo de igualdade real homem – mulher, desconstruindo a base mesma da natureza do significado de ser homem – ser mulher; e substituindo-a artificialmente por novas “identidades” a experimentar, sem ter um conceito certo sobre as mesmas (precisamente pela falta de experiência evolutiva, que em estes casos deve ser, para ser natural, milenar)
Ainda hoje a tónica evolutiva atual da sociedade não atingiu o suficiente desenvolvimento para conhecer a fundo a essência do ser homem e ser mulher. O poder do masculino e feminino sagrado, que se estudava em todas as Escolas Elitistas Espirituais de todos os tempos – desde as Druídicas atlânticas às do Egito, Mesopotâmia, Mesoamérica – América do Sul – África – Oriente da Ásia – E se transmitia de boca a ouvido…
Que sentido teria acelerar este processo, ate novas formas de identidade, se ainda não temos as ferramentas suficientes para entender as identidades presentes? Simples que se está levantar esta questão, por que isso permite pôr em marcha a fase b) de Bezmenov – Desestabilização. Acrescentando um novo campo de luta, aos já classicos de luta de classes, luta social, acadêmica...
A fase b) Desestabilização nos vai ajudar a implementar a fase c) Crise – ou a recolocar a fase de Crise (dado a crise sistémica atual é um fato que já impossível de reverter, desde que em 2007-2008 o pulmão do controlo intencional das finanças estourou por saturação). Colocando as revoltas no plano que avançam, através do medo à entropia e caos social, ate a fase d) Normalização
Normalização por meio dum poder marcial capaz de travar a descomposição criada pela crise sistémica e pelas políticas económicas, culturais e sociais implementas pela pressão da própria elite.
Implementação do fascismo corporativo
O Homem forte – cavaleiro de Marte – Neo-liberal guerreiro contra as maldades e males da sociedade – encarnados ou desviado o foco pela propaganda da elite ao político de turno e ao Estado – nasce como que por um fortuito destino para liberar a nação (utilização sistémica do falso patriotismo) dos malvados que estão por todas partes, são ardilosos e perversos e nunca descansam…
Para poder implementar sua agenda totalitária serão precisos anos de sacrifícios (sempre claro por parte da classe média e da mais sofrida classe operaria). Deveram ser demolidas (ou reconvertidas em tentáculos do novo poder ditatorial) pelo caminho transformador, pelo fogo, todas as Instituições ou Organismos Públicos ou Privados, que garantam uma mínima liberdade e funcionamento democrático interno. Sejam estas poder judiciário, parlamentário, académico – universitário, sindical ou organismos privados alternativos…
A guerra cultural de Gramsi à inversa está em marcha. Sectores religiosos, sociais, culturais que não processem a fé do novo fascio, que permite o governo do Poder Financeiro Globalista Privado, sobre toda a sociedade, terão de ser reformados – reformulados ou reprimidos ate ser diluídos. Igualmente qualquer iniciativa publica ou privada que choque contra os “argumentos” incontestáveis do Novo Poder curiosamente servindo-se do estado – para “suprimir” o estado.

Luta contra o Poder Totalitário Periférico Neo-Socialista
Sempre que um império está em auge, e atinge uma capacidade tal que tem a seu alcance mecanismos com poder tão avassalador, que praticamente pode infiltrar qualquer semente de poder concorrente, aqueles que formam o “eixo da resistência” tomam precauções tão excessivas, contra a possível infiltração do poder imperial, que acabam criando estruturas combativas demasiados rígidas. Estruturas de poder totalitário. Isto acontece em todas as épocas.
Isto aconteceu com os movimentos dissidentes contra o poder Ocidental privado, desde finais do século passado.
A sua vez, os novos atores regionais e globais que surgiram, tiveram que aprender no “macro” das relações internacionais (pela contra) a serem muito mais flexíveis e democráticos entre eles. Organismos e organizações de integração por ele criados se tornaram foros multidisciplinares abertos a um diálogo abrangente (pela necessidade de criar marcos de entendimento e novas alianças, que lhes permitam colocar-se dentro duma determinada situação geopolítica, com um pouco mais de margem de manobra- sabendo os interesses sempre serem contrapostos)
Daí foram surgindo novas potencias, segundo o Hegemon Ocidental ia enfraquecendo – que criaram novos organismos multilaterais, que possibilitaram a criação dum novo organograma internacional e um novo centro multipolar, a cada dia com menor encaixe no velho organograma de poder ocidental corporativo privado - globalista.
Estes novos poderes começam a ter certas coincidências na sua nova estruturação: poder estatal mais ou menos totalitário (herdado da fase de confronto e fechamento para evitar a infiltração e mantido, em alguns casos pela corrupção e em outros pelo embate sistémico) como defensa contra o poder privado internacional. 
Por sua vez um acomodo diplomático mais democrático no marco da conversão supra-nacional em organismos coletivos vitais para a configuração dum novo marco internacional multipolar, de atores diversos com diversas visões do mundo.
Temos por exemplo o difícil encaixe China-Índia, somente possível com a ponte da Rússia. E as alianças da Índia com o Império Ocidental (aproveitar o ré-acomodo e deslocamento das Empresas Ocidentais que estavam na China cara sua nova ubicaçao na Índia). O Irão xiita e a Arábia Saudita sunita, somente contrabalançadas pela diplomacia chinesa…
Este novo poder assenta em um modelo a cavalo entre a economia de mercado e a planificação estatal socialista. Modelo típico de transição entre um poder comercial financeiro privado até um poder estatal planificador em auge. Daí ser um modelo mais ambíguo, mais conservador e aberto a uma colaboração corporativa privada, que não possa suplantar o poder inquestionável do estado. A China fechou essa fenda com o caso de Ali-Bai
Deste modo o poder totalitário estatal periférico “neo-socialista” se começa a fazer mais central e global nas suas reclamações e, por lógica, embate contra o velho poder “democrático” ocidental em fase de conversão em poder totalitário “neo-fascista” privado. Iniciando-se uma batalha quente em áreas de fricção, que vão avançado por todo o globo (Ucrânia, Israel, África francófona, Península de Coreia? Estreito de Taiwan?)-
E incitando-se ao combate cultural no resto das áreas (como por exemplo a América do Sul, onde Milei desafia um futuro poder regional Brasileiro, em favor do presente Poder norte-americano). Situação que vai acelerar a entrega dos recursos e riquezas nacionais em favor do Poder Corporativo Anglo-americano, se o Brasil não encontrar uma solução de unidade nacional e alianças regionais que lhe permitam encarar o confronto.
Evitar a deriva belicista
E assim estamos nesta perigosa fase, onde de não controlar-se a excessiva tensão das áreas quentes de fricção e estas ir em aumento, poderíamos (na pior das hipóteses) entrar em uma guerra global.
Aguardemos por uma lenta transação, uma baixada do ritmo impetuoso neste processo de continua mudança, que permita um acomodo paulatino ate a nova realidade multipolar que aparenta ser, finalmente, a triunfante.
Aqui estaríamos num ciclo que completaria a queda do poder colonial europeu – a descolonização – e trazer ia agora a independência económica e cultural (soberania real) e toma de voz no cenário internacional das novas potencias emergentes lideradas por Brasil, Índia, Rússia, China e Sul-África (não precisamente em este ordem).
Lembrando que as independências se ganham (não se pedem) e estas novas potencias ainda terão que demonstrar, cada uma no seu marco referencial (Rússia e China no Internacional - Brasil, Índia e Sul-África no mais regional), que têm capacidades, vontade, coragem, força e fé suficientes para manter o reto e continuar a frente… ate atingir a conquistada Vitoria
As velhas potencias do Ocidente, se isto acontecer, terão de acomodar-se aos novos tempos. E todo acomodo traz consigo mudanças e alterações (no cenário europeu inevitáveis), pelo que a todos nos interessa sejam bem-vindos devagar os novos ritmos que estas mudanças trazem, para evitar o excesso de tensão, neste já de por si conflituoso, critico e incerto histórico momento.

FUTURA DEMOCRACIA 

 Uma vez saídos da fase de confronto, por necessidades sistémicas o novo organograma global tenderá a diminuir a tensão e criar espaço para maior abertura democrática

Brasil, Índia e Sul-África podem aí ser o campo intermédio não alinhado a fazer de ponte entre a Eurásia e o Ocidente, virando por tradição suas populações a procura da maiores espaços democráticos internos. No espiritual também seria surpreendente, mas não raro para os bons observadores, a complementaridade de ambas as três nações gigantes. 

 

 

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