“Brasil e a Missão Oceânica”- por Artur Alonso

 


"Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras"                          

(Padre António Vieira)

O mexicano José de Vasconcelos foi dos primeiros a observar que a conquista de América a fizeram os próprios americanos. Marcelo de Gullo ensina nos seus livros a contra-restar a “Lenda Negra” contra o Império Espanhol, criada pelo poder da anglo-esfera. Mas também devemos evitar a “lenda rosa” sonhada por aqueles que acham possível repetir um tempo já passado (tudo tem seu momento no seu respetivo período e, tudo tem seu ciclo).

Os historiadores mais “indigenistas” como o mexicano Guillermo Marín nos assomam ao mundo pré-colombiano, resgatam tradições imortais, que bebem da “Tradição Primordial das Idades” ou religião primordial, da qual nos falou René Guenón. Mas também não devemos cair em uma historiográfica que procura inimigos e explicar acontecimentos em base somente a uma marcada dinâmica de opressores e oprimidos… O também mexicano Miguel León-Portilla na “Visão dos vencidos” nos legou a voz dos perdedores longe destas visões tão restritivas.

Estamos a construir a futura “Era da Reconciliação” é preciso será entender os processos que envolvem o avanço e retrocesso da história, assim coma a determinada “tónica” evolutiva da humanidade, em um momento dado, em um local geográfico determinado.

Dentro duma cultura e civilização determinada encontramos as chaves do ascenso e declínio, que serão cruciais para avançar (hoje) no caminho futuro da calmada, justa e amorosa senda que procura pelo bem comum, dentro dum planeta carregado de beleza. O bom, o bem e o belo, dentro da Lei e da justiça. Mantendo no equilibro do humano o aprendizado, que conduz ao saber fazer em harmonia com o respeito aos ritmos da natureza.

Observando também os Centros Civilizacionais se revezam.

Essa linha do meio que conduz a re-integração amorosa: aceitação inicial, entrega do recebido para dar como agradecimento. Redenção e Reintegração final, como simbolicamente nos amossa o “Cristo Redentor” no Rio de Janeiro – sinalizando a via que flui evitando o excessivo atrito. O taoísmo chinês nos convida, precisamente, a esse fluir natural que assenta na rede da vida, por cima da visão distorcida daquele darwinismo social, que pouco ou nada tem a ver com os grandes contributos de Darwin: como biólogo, criador dos conceitos de ‘nicho ecológico’ e ‘ecossistema, que são base da moderna ecologia ou mesmo geólogo, pioneiro das teorias que tentam explicar o surgimento de ilhas oceânicas ou os mecanismos que geram os movimentos ascendentes da cordilheira dos Andes...


O já referido José de Vasconcelos soube intuir que “futura raça cósmica” união de todas as raças do planeta, será formada na América do Sul. Essa raça futura que bebe do melhor conhecimento da Mesopotamia, Índia, Egipto, Grêcia, Messo-América, Andés… Uma futura raça, que segundo o autor, nascerá em estas terras sul-americanas de exuberante vegetação, clima amável, que permite uma melhor socialização. E acrescentamos nós, beberam do “humanismo” da Escola de Salamanca (precursor da revolução francesa) e estudiosa da ideia do “Bem Comúm” – com figuras como o jesuíta Juan de Mariana. Ideal trasladado aos numerosos centros de estudo abertos pela Coroa Espanhola nas Américas.

Sendo que os trabalhos de unidade entre as línguas galaico – portuguesa e castelhano – espanhola, hibriando na futura língua de cultura e civilização oceânica, será um dos passos precisos em este, longo caminho do encontro dos povos, após o grande ciclo da violência – Khali Yuga dos indianos.

Mas, se por um lado o seu centro, vai dar-se no poder expansivo do Brasil (segundo o poder norte-americano, último baluarte do Império Anglo-saxão, declinar e contrair); por outro lado, este poder irá tecendo sua aliança pelo sul, na mesma senda que os marinheiros portugueses marcaram na sua abertura para o Oriente, trás dobrar o cabo de Boa Esperança.

Atingindo este caminho o Sul da África, onde países como Angola e Moçambique, junto com a mesma Sul-África, membro do BRICS, abrir-se-hão a esta amizade. Ate atingir pela rota do Índico a mesma Índia – fazendo que hoje o ainda não muito completando e complementado ISBA (acrónimo de Índia, república Sul-africana -Brasil) passe, no futuro devir, a ter sua verdadeira importância. Junto com aquela CPLP que todavia não encontrou seu verdadeiro projeto de ajuda mútua, por cima de interesses puramente mercantilistas.

Pelo pacifico, já em futuros portos, em construção ou ampliação hoje, como os do Peru, a conexão com a China completar-se-há com aquela circum-navegação, que a mãos da coroa de Castela, mais em abraço com o português Magalhães, o Cano completou, abrindo as portas do mundo ao domínio Ocidental.


"Só há uma força capaz de construir por toda a eternidade: o Amor" (Getúlio Vargas)

Pais da geopolítica brasileira como Mário Travassos ou Everardo Backheuser nos despertam já para ideia dum poder “anfíbio” em desenvolvimento. Este desenvolver, devagar, do futuro poder anfíbio do Brasil que quebrará já de por si, a ideia de confronto do poder tala-socrático em fricção como o poder teluro-crático (que ainda vigora nos nosso dias no confronto Oriente – Ocidente: Eurásia – Anglosféra), abrindo-nos a porta da reconciliação passo prévio para a Redenção e Reintegração futura.

Dando-nos uma ideia do processo em cernes, da formação dessa nova Civilização oceânica, que de inicio se ira construindo, com a união das diversas culturas da América do Sul, autóctones e provindas de todos os continentes. Um universo que não pode unir-se sem que a sabedoria ancestral dos povos indígenas esteja muito presente: com seu amor à terra, à raiz e a tradição dos seus povos.

Esta raiz indígena deverá unir-se com as raízes europeia, asiática e africana, naquele universal e simbólico “V Império” que sonhou o filosofo português Agostinho da Silva, no século passado. Império do “Espírito Santo” da tradição de Joaquim de Fiori do século XII, agora universalizado numa nova tradição de mistura, miscigenação de todas as tradições e de todos os povos do mundo. No espiritual caminho da reconciliação, redenção e reintegração do todo no uno, das partes no todo; por meio do amor compartilhado, que ultrapassa o medo a não sobrevivência (raiz da observar o oposto como adversário, e não como complementário).

Conciliar as dinâmicas agressivas de confronto esquerda – direita dentro do Brasil, em favor de alcançar uma “solução – arranjo soberanista” será o grande teste interno do povo brasileiro. Sabendo esta unidade em favor da soberania vai ser fundamental para atingir a plena independência, não somente política senão também cultural e económica.

Sabendo as independências não se pedem, rogam o sonham, senão que se conquistam com esforço, confiança, determinação, perseverança e vontade de mudança .

E para conquistar a mesma é indispensável a unidade nacional e o sentido de unidade territorial e irmandade sul-americana, amplificada àquela irmandade oceânica, com os povos da África e o Timor-leste na Oceânia.

Questões relativas a integridade, coesão territorial, integração dos diversos sectores sociais, culturais e diversas povos que formam a nação brasileira (luta contra desintegração) devem ser resolvidas na base dum dialogo integrador e não duma tentativa de imposição – dominação ou debate para realçar diferenças.

Redução dos desequilíbrios regionais, utilização em beneficio da nação das potencialidades da Amazónia (respeitando sua biodiversidade, mas não impedindo o desenvolvimento cientifico – tecnológico e industrial – somando soluções criativas éticas e sustentáveis – não paralisando a criação de riqueza); junto a eficiente diplomacia da paz, que caracteriza ao país – devem marcar o curso da unidade dentro da diversidade de opinião legítima, leal e honesta.


São sem dúvida vetores a compartilhar por todos os espectros políticos. Vetores que todavia perduraram no tempo, e para conseguir objetivos viáveis dentro desta visão preciso é todos por-se a obra. Ninguém é indispensável e ninguém é sobrante…

O sonho agora parece longínquo e muitas serão as provas no caminho. Mas o cenário bem sendo preparado desde muitos séculos, com trabalhos em todos os cantos do planeta. Desde o útero celta da Mãe Galiza, a templária emancipação do filho obrigado a tornar-se Pai Portugal, ate a pegada fenícia descoberta pelo arqueólogo Bernardo Ramos Silva ou Ludwig Shwnnhagem no Brasil. Com inscrições como a Pedra da Paraíba ou a Pedra Lavrada do jardim do Seridó. E, as levas de populações que todos os cantos do planeta se foram assentar as terras da Vera Cruz, para dar prioridade ao Cruzeiro do Sul

Serão trabalhos a seguir e chegado seu momento a assumir, sem a arrogância de quem acredita serem um “eleito”

Com a humildade de quem sabe, que a criação dum futuro centro geográfico civilizacional, depende do empenho interior, solidariedade exterior e, no final das contas, se torna um trabalho de todos os povos. Onde aquele que dirige tem de ser servidor dos povos e dos povos não servir-se.

Como diz o iniciático hino galaíco, o país do brasão do graal: “os tempos são chegados”

Sentir primeiro, pensar depois

Perdoar primeiro, julgar depois

Amar primeiro, educar depois

Esquecer primeiro, aprender depois

Libertar primeiro, ensinar depois

Alimentar primeiro, cantar depois

(fragmento do poema “Quem sabe um dia” de Mário Quintana)

Comentários

  1. Uma ótima análise sobre nosso papel brasileiro num futuro que exige uma consciência clara e que hoje ainda está enevoada enevoada. Que pendula entre extremismos que não permite uma clareza necessária. Por hora, ainda estamos a "sonhar" com um vir a ser...
    Nos falta a experiência do velho mundo e muito a aprender.

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