HOMENAGEM A ÚLTIMA GRANDE DRUIDESA DA GALIZA – por Artur Alonso

 

Foto do amigo poeta - português univeral Samuel Pimenta 

Nossa homenagem a querida irmã no caminho, Mestra que tanto nos ensinou da tradição celta e galaíca, Branca García Fernández-Albalat. Historiadora, Arqueologia… Companheira Académica numeraria da AGLP – Nasce do coração, por aquela em uma determinada altura deixou que nossa alma, com sua alma, fora pelo poético amor à natureza, a Terra e a humanidade, entrelaçada

Para nós a  Branca foi a última Grande Druidesa da Galiza. No Pico Sacro tinha sua raiz – E ao falecer com ela marcha, aquela que podia falar com a voz dos Deuses.

- “Foi como si os deuses estiveram a falar comigo” – referiu naquele brilhante dia, em que lhe foi concedido o Prémio “Rainha Lupa” – no agarimoso local da “Eira da Joana” – Agarimo, segundo o dicionário do Professor Estraviz nos fala de Amparo, proteção, de apoio carinhoso e tenro… E nunca melhor definição poderia ser dada para aquele entorno rural e suas gentes…

E, do mesmo jeito, nunca melhor pessoa obteve (e provavelmente obterá) este merecido reconhecimento, que cada ano se outorga a uma mulher destacada no amor e trabalho em favor da Terra Mãe galega… Pois aqueles que conheceram a fundo a Branca, sabiam e sabem que ela era a “Rainha Lupa Viva”

Não chegariam o espaço deste texto para descrever o pouco e muito profundo que aprendemos muitos, do seu rio poético de infindável conhecimento da verdadeira e nobre tradição galega. E, desde essa raiz, em ela presente, percorrer o “fio de Aridna” que pelo labirinto em procura de transformar o Minotauro instintivo em um ser racional e emocional, que pela conquista do Amor obteve o equilíbrio… Chegar finalmente, desde essa raiz ainda presente na Matria galega ate a raiz primordial da Fonte essencial que a todos os povos e culturas une.

Desde este centro galego, que com tanto amor a Branca, manifestava em seu saber tanto do conhecimento dos nossos ancestrais, como do entorno… Desde esse pico que sinaliza o Axis Mundi galaico – a Branca transmitia através da sua voz, a voz inicial que deu o Verbo – que foi Principio…

Escreve Antonio Fajarni em “A Linguagem dos Deuses, referindo-se a ideia mitológica do centro do mundo: Dentro desta forma de se descrever a cosmogonia, a morte da serpente primordial desencadeia o processo criador. O deus guerreiro trespassa a cabeça do dragão, precipitando-o nas profundezas; por vezes, enterra a sua cabeça imortal sob uma pedra ou cravada por uma lança. A simbologia é translúcida: a energia caótica pode ser aprisionada, mas não destruída, nem haveria razão para tal. Dessa energia anteriormente livre e agora disciplinada é que se produz o Universo (…) Sobre a cabeça trespassada dessa serpente, que se enrola ao redor de si mesma, o Demiúrgo assenta as bases da sua obra cósmica. Repetir esse gesto ritualmente equivale a reencenar o ato criador, o que os antigos procediam com frequência em seus cerimoniais de fundação (…) Esse local mágico corresponde ao Centro do Mundo, e a serpente assim fixada torna-se o seu próprio eixo, a Axis Mundi (…) Como protagonista do ato criador, o dragão estabelece-se como guardião do Centro, e por isso protege os locais reservados à iniciação (…) Daí os mitos comummente colocarem um dragão protegendo os lugares sagrados”

A Doutora Branca García Fernández-Albalat possuia aquela linguagem dos deuses e, em muitas ocasiões, em agradáveis conversas e mesmo deslocando-nos aos locais de conhecimento… Nos tinha instruído sobre o significado mitológico e simbólico superior do “Pico Sacro” como centro sagrado da tradição celta-galaíca. Local onde a Tríade Mítica Galaica resguarda o “saber primordial” com o objetivo de nunca perder-se a essência da Terra.

Foto da também poeta Iolanda Aldrei e do grande amigo Xavier 

Local Primordial, resguardado pelo mitológico “Dragão” da Rainha Lupa. Santuário ficando, no Axis Mundi, onde a rocha granítica permanece encravada na cabeça do dragão cósmico primordial.

E onde a Tríade Simbólica Galaica – não deixa de ser uma representação de conexão terrestre material com o celeste espiritual – onde a Tríade Superior Cósmica dá a a luz (gera), mantêm - recicla e, em seu oportuno momento, dissolve os mundos.

Assim a tradição druídica celta bebe da Tradição Primordial indo-europeia (que a sua vez toma da Fonte essencial seu saber). Sendo que a Tradição Primordial de todos os tempos unifica pela sua essência todas as culturas do mundo. Aquela Religião Primordial, da que nos falava Rene Guenón (Sendo que do grande Guenón também nos conversara e muito a Dra. Branca…)

Falamos aqui da religião no seu aspeto mais etimológico e profundo – aquele de religar – ligar de novo a unidade espiritual Todo Uno – com a diversidade material, nascida – promanada, projetada daquela Unidade – quando está se divide no Trino de todas as mitologias. Iniciando aquela divisão na polaridade entre aquele Masculino Pai e Feminina mãe – A parelha Cósmica que ao unir-se dariam os filhos / filhas ou mundos… Juntos (Pai, Mãe, Filho /Filha) formando a Tríade.

Sendo o universo o macrocosmo e os seres humanos, a sua imagem e semelhança, o microcosmo, seguindo aquele famoso aforismo hermético de: “arriba como abaixo; abaixo como arriba, para melhor entendimento da causa UNA” – Obtemos aqui, então, a famosa divisão tripla ou Trisquel do ser humano: corpo – alma – espírito. Equivalente a seu corpo físico, o sublime corpo anímico – psico-emocional e o mais elevado espiritual

O corpo físico simbolicamente associado a poder das realizações do Filho/Filha cósmico. O psico-emocional associado a taça, umbigo da Mãe cósmica e o espiritual à semente do Pai cósmico. Precisamente essa semente espiritual ao ser depositada no útero da Mãe, daria lugar aquela corrente caótica do simbolismo do dragão – assentado no óvulo cósmico pela espada fálica do Pai – para gestar em ordem os mundos. Nosso poder espiritual associado, pois, a semente daquele Pai, que em comunhão com a cósmica Mãe, como gémeos espirituais primordiais podem organizar os mundos.

Na tradição celta temos as três taças que representam também essa divisão tripla do ser humano.


Foto do grande amigo do Instituto Galego de Estudos Celtas Carlos Solla, com o grande André Pena Granha (decano do IGEC)

O Caldeirão do Aquecimento (Coire Goriath), o Caldeirão do Movimento (Coire Érmae) e o Caldeirão da Sabedoria (Coire Sofhis) – Ambos os três recebem a água druídica que emana do Caldeirão Superior da Poesia. Sendo os três recipientes a fonte da “arte poética”

Observamos aqui como a corrente poética segue o desdobramento universal do macro no micro – do Uno à Tríade.

Sendo que o poeta recebe diretamente da divindade o Caldeirão do Aquecimento – Se ao mesmo tempo associamos aquela arte poética a nome com que os mexicas do Anahualt denominavam a arte poética: “a flor e canto”; podemos dar-nos conta que estamos a falar da voz que transmite a essência. O canto – voz, a flor – aroma essencial.

Sendo as três taças ou caldeirões, os três recipientes preparados, tanto no macro como no micro para receber àquela essência.

Assim o Caldeirão do Aquecimento – corresponde no micro humano ao corpo físico; o Caldeirão do movimento – a corpo psico-emocional ou alma; enquanto o Caldeirão da Sabedoria teria correspondência com aquele Corpo da Mente Única – ou Espírito

Dentro do primeiro caldeirão (Coire Goriath) a água poética da força física trabalha, no ser evoluído, na transformação da matéria em favor da justiça, do bem comum e da beleza, por meio da criação material de obras que ajudem a comunidade.

No segundo caldeirão (Coire Érmae) o fluir da essência poética ajuda na transformação – trabalho coracional – de controlo das emoções, paixões, instintos destrutivos (no nível interior individual). No coletivo, uma vez harmonizada nossa alma, a corrente do rio poético – achega o nobre sentimento, a boa sensação, em auxilio ao próximo, ou em favor de manifestar a paz adquirida, na luta e transformação individual, entre a comunidade – ajudando a harmonizar a mesma.


Finalmente no caldeirão mais elevado – Coire Sofhis – a essência poética – ajuda a elevar a mente e espírito humano ate a Unidade – da Mente e Espírito Universal – Podendo, se o humano ser chegar ao nível evolutivo adequado – conectar esse humana mente – ate a Superior Altura (a chamada Iluminação) onde a perceção da divisão é totalmente perdida. A Consciência expande ate a Unidade Superior – podendo observar, a partir desse transcender, a unidade em todo. Fala-se deste estagio não ser possível atingir sem perder o medo atávico inicial: o medo à morte. Pois mantendo esse medo em nós o Amor Incondicional – que marca a vida dos que transcendem os apegos da matéria, não pode ser realizado.

Essa mente superior – no nobre caminho, do ser que ainda não chegou a evolução da unidade – serve para encaminhar sua mente e espírito na senda amorosa das nobres causas.

Pouco a pouco os peregrinos na procura da sua verdade, na procura do encontro com a mítica Fonte Original, vão vida a vida, trajeto a trajeto, através do espelho das polaridades, observando dentro da dor, alegria, sacrifício, satisfação, ilusão, desilusão as suas ignorâncias e sombras internas; assim como as suas tendenciais saudáveis e sua luz… Contribuindo suas experiências e aprendizagem a melhorar suas personalidades diversas e a obter maior consciência do significado da vida….

Sirva esta simples reflexão, como uma pequena homenagem a uma Grande – que possibilitou, a muitos de nos, estimular os olhos que vão mais além das simples visão, para que nos permitissem ver a essência viva ainda no nosso lar, daquela Soberania feminina galaica – Abrindo em nosso interior a luz do conhecimento da Deusa Primordial, que ao igual que na teogonia de Hesiodo, no mundo celta, também era anterior aos homens e os deuses…

Para mim Branca, dentro do meu mundo, semelhava ser como aquela maravilhosa Enheduana suma sacerdotisa do Templo lunar de Nana, na cidade suméria de Ur. Filha do grande Imperador Sargão de Acadia – Que representava a voz de Innana – Isthar, através de todos seus trabalhos como Mãe cuidadora dos maiores segredos do seu povo…



Branca era assim como uma cuidadora do espaço sagrado da Terra galega – das gentes, do seu legado mais profundo… E assim exercia também como guia, amiga e cuidadora de todos seus amigos e irmãos e irmãs no caminho, daqueles que trabalhando desde sua raiz e trabalhando no profundo de seus corações para ser pessoas de bem e de bondade; trabalhavam e trabalham, a vez, para a chegar algum dia concretizar aquela, pelo de agora utópica “Fraternidade Humana”

Como uma leal seguidora, também, dos ensinamentos ocultos e velados, por ela, para muitos de nós, revelados, do Grande Prisciliano; Branca manteve viva aquela chama, que nunca deixaremos apagar – por que os bons e generosos – entendem a razão de que ela nunca se extinga: por que essa chama é a luz que guia o caminho do Amor Incondicional, dentro da humanidade

Branca – connosco em sua transmissão do legado primordial celta – prevalece… E sabemos que a Academia Galega da Língua Portuguesa, saberá transmitir o mesmo... Para que chama nunca esmoreça.




Comentários

  1. Blanca fue uno de los mas importantes puntales del colectivo AMIGOS DE LA CULTURA CELTA, que este año celebró su duodécima ediciòn, en Alcalá De Henares..Hace pocos años se celebrò el ENCUENTRO de 8 dias en la Bretaña francesa, con sesiones académicas en las universidades de RENNES-2 y en la de BRETAÑA OCCIDENTAL (Brest).Todo el viaje cultural de mas de medio centenar de participantes, procedentes de Madrid y Galicia, fue coordinado por Blanca en idiomas francés , español y gallego..La crónica de todo ello se recoge en nuestras publicaciones., distribuidas, gratuitamente por la Enxebre Orde da Vieira.Tambien coordinó el Encuentro:"La cultura celto-castrexa en Galicia y norte de Portugal", con participantes de los respectivos paises..y en idioma "galaico-portugués". Para Blanca, nuestra eterna gratitud por su entusiasta dedicación ,siempre altruista.QUE TODAS LAS DIVINIDADES,ESPECIALMENTE LA SUPREMA,LA RECIBAN EN SU GLORIA.

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