SUPREMACISMO SIONISTA - por Artur Alonso
Levanta-te e
vai à cidade assassinada
e com os teus próprios olhos verás,
e com as tuas mãos sentirás
nas cercas e sobre as árvores e
nos muros
o sangue seco e os cérebros duros dos mortos…
(do
Poema "Na
cidade assassinada"
de Chaim Nachman Bialik - escrito após o Pogrom
de Kishinev, em 1903)
Em 1,200 a.C os hebreus entram na Palestina (Filistina – ou Terra dos filisteus) conquistando o território e assentando-se nele.
Em 587 a.C Nabucodonosor (Rei da Babilónia) conquista Jerusalém, destruindo o primeiro Templo e dando início a primeira das sucessivas e prolongadas diásporas.
No ano 70 d.c Tito entra em Jerusalém e derruba o segundo Templo (deixando somente em pé o “muro das lamentações”) – A segunda diáspora é iniciada. Entre o 132 e 135 d.C – o Imperador Adriano sufoca a “revolta de Simão Barcoquebas” – proibindo, a seguir, os judeus de viver em Jerusalém e, proibindo a vez toda prática religiosa. Dando inicio ao espalhar dos judeus pelo Império romano.
NOTA - Em outros artigos temos desfiado o novelo que une a ideia final do sionismo do século XIX – com movimentos como o traslado dos judeus de Amesterdão a Londres (no século XVI – na época de Oliver Cromwell) – inicio da aliança messiânica evangélica – judaica. Assim como os ideários, também messiânicos dos seguidores de Sabbatai Zevi (1626-1676) ou os “Frankistas”… Mas não é o assunto principal deste testo, mesmo tendo sua influência no sionismo religioso…
Os judeus espalhados pelos distintos territórios nunca reclamaram institucionalmente o retorno a Israel, até que na época do romanticismo e o auge dos nacionalismos de finais do século XIX, surge o ideário político sionista.
Raízes
O ideal político sionista nasce a finais do século XIX, no entorno germano, bebendo da interpretação idealista do movimento “völkisch” alemão; movimento que também inspirou o movimento conservador que daria inicio ao nacional socialismo.
A construção da ideologia política sionista nasceu em este contesto cultural de intelectuais judeus alemães, que beberam dos movimentos conservadores e dos ambientes nacionalistas românticos próprios do seu tempo e do seu lugar de nascimento.
O filosofo Moses Hess, nascido em Bom em 1812, foi um dos ideólogos destacados, cuja obra permaneceu na sombra, mas foi fundamental para as bases teóricas do sionismo. Seu livro Roma e Jerusalém (inspirando no sentido de unidade nacional do “Resorgimento” italiano) afirma a necessidade de manter a identidade nacional judia e, por causa do antissemitismo europeu, enfatiza a volta à terra prometida por Deus – colonização do Palestina - como uma necessidade existencial.
Em “Roma e Jerusalém”, Hess, recria os postulados duma sociedade judaica garante da ordem e do progresso social, desenvolvendo os princípios dum nacional socialismo, décadas antes de que o NSDAP -Nationalsozialistische deutsche Arbeiterpartei - ou Partido Nazista - fosse fundando, na Alemanha da derrota e dos severos termos de rendição, após a Primeira Guerra mundial... A Alemanha da fome e os desencantos da República de Weimar (que substituiu a uma monarquia outra hora poderosa).
Em este ambiente nasceu o ideal sionista, e seu máximo exponente Theodor Herzl convocaria e presidiria, em 29 de agosto de 1897, em Basileia (Suiça) o Primeiro Congresso da WZO (Organização Sionista Mundial).
Este Congresso acordou o programa Basel, inicio do movimento político que tinha como objetivo principal a criação dum Estado judeu e, a obtenção dum território para fundar o mesmo. Este Congresso também adotou como hino do movimento o “Hatikvah” – que a dia de hoje é o hino nacional de Israel.
Este congresso vai por em pratica as ideias desenvolvidas no livro "Der Judenstaat" (O Estado Judeu) – Cujo subtítulo "Versuch einer modernen Lösung der Judenfrage" ("Proposta de uma solução moderna para a questão dos judeus") – já nos referencia a temática central do mesmo.
Fortalecer o sentimento de consciência nacional, entre as comunidades judaicas do mundo. Reorganizar a diáspora judaica em torno dum sentimento de retorno a “Terra Prometida” – Procurar o assentamento de agricultores, artesãos e empresários na Palestina, no intuito de ir moldando uma realidade factual… Forma alguns dos movimentos de assentamento que se acrescentariam, quando o queda do Império Otomano, após a I Guerra Mundial, e o mandato britânico sobre a Palestina. A compra de terras aos árabes palestinos foi mais promovida em esta época, e dentro deste contesto de amplificação das teses sionistas.
Chaim Weizmann, nascido na Bielorrússia, em 1874, vai virar definitivamente o movimento ao campo da direita política – ao utilizar o movimento para confrontar a esquerda política.
Weizmann seria um dos homens fundamentais para a obtenção da Declaração Balfour – acontecida em novembro de 1917, quando o secretário britânico de Assuntos Estrangeiros, Arthur James Balfour, dirigiu uma carta ao Barão Rothschild (um daqueles proeminentes judeus, que Herzl intitulou como “Príncipes de Israel”) – missiva na qual se anunciava a intenção do governo britânico de estabelecer um futuro Estado judeu, na Palestina (uma vez o Império Otomano chegará a seu fim).
Weizmann também foi fundamental para que os EUA, finalmente reconheceram o recém criado Estado de Israel, em 1949.
Em 1903 após o Progrom de Kishinev, Zeev Jabotinsky (nascido em 1880, na cidade de Odessa) adere ao movimento sionista; onde como filosofo, escritor, poeta e jornalista vai reformular as teses de Herzl em favor do chamado sionismo revisionista – em contraponto com o sionismo socialista, que versava sobre a planificação estatal – enquanto o sionismo revisionista formulava o ideal liberal democrático britânico como guia. Ben Gurion (pela esquerda) confronta em este cenário a Jabotinsky (ativo na direita).
Jabotinsky se monstra a favor de criar grupos armados de auto-defensa judaica, tanto na Palestina, como nos países onde os judeus estiveram em risco de perseguição – Deste modo vai tanto ajudar a organizar a “Legião judaica”, que ajudou aos britânicos durante a !ª Guerra Mundial – como a criar a organização armada Irgun.
A partir dos anos 30 seu movimento se assemelhou muito ao dos fascistas europeus, e tomou contanto com Mussolini, antes de que este (pela necessidade de tornar-se aliado de Hitler) se declarará anti judeu.
No seu livro o “Muro de Ferro” – Jabotinsky – reafirma seu ideal militar e supremacista.
Desde 1977 – quando Likud – ganhou por primeira vez o governo de Israel – ate os nossos dias o ideário político de Jabotinsky é o que mais se vai parecer com as praticas da direita israelense.
O “Muro de Ferro” – parte da necessidade construir esse muro para conter a oposição árabe. Assim como as praticas vexatórias contra a comunidade palestiniana, também estão baseadas nos argumentos de Jabotinsky sobre a necessidade de acabar com o espírito de luta dos palestinos.
O ideal Religioso Sionista
O ideário político supremacista sionista, se vai unir àquele ideário religioso supremacista judaico.
Certa visão religiosa que reclama: Um só nome para Deus, um só livro sagrado para Deus, e um só povo eleito por Deus (o povo de Israel)… Assim como a visão dum povo judeu de sacerdotes, que tem por missão comandar a humanidade e aos decadentes humanos não pertencentes ao povo eleito, para os quais esta visão religiosa supremacista utiliza o termo “goyim” (que em inicio faz referencia aos não judeus) de maneira depreciativa ou pejorativa…
Sendo que este supremacismo religioso se uniu ao supremacismo político sionista desenvolvendo uma profunda campanha de “guerra cultural” contra aquele sionismo de esquerda. Esquerda que foi dominante desde a Independência de Israel ate o ano 1977, com a figura de Bem Gurion como opositor fervente de Jabotinsky, ate o ponto de negar-se a receber o restos mortais do líder revisionista, para serem enterrados em Israel.
Entre os setores religiosos sionistas revisionistas israelenses mais radicais, não é estranho encontrar argumentos de superioridade étnica, e afirmaçoes como a que o Rabino Isaac Ginsburg escreveu no “Jerusalem Post”a 19 de junho de 1989: “o sangue judeu e o sangue dos não judeus não são iguais. Matar não é crime se as vítimas não são judias”
Já no ano de 1978, no Knesset ou Parlmento de Israel, o naquela altura Primeiro Ministro, Menachem Begim, afirmava: “Nossa raça é uma raça de amos. Nós somos deuses sobre este planeta, somos tao diferentes das raças inferiores como eles são dos insetos. De facto comparados com nossa raça as outras raças são bestas e animais, como muito gado. Nosso destino é governar sobre as “raças inferiores” Nosso reino terrenal será governado com uma vara de ferro, por nosso líder. As massas lamberão nossos pés e nos serviram como nossos escravos”
Este pensamento supremacista – como vemos é totalmente anti-evolutivo. Contradiz os valores do Império ou Republica Universalista – que une o diverso – dentro da essência que é comum – Manifestando em sua vocação política um Estado Universalista a coesão da diversidade em base a unidade cultural ou multiculturalismo. Assim como a unidade das diversas etnias em torno ao poder multi-étnico, multi-cultural e multi-confessional e a diversidade política, em torno da unidade no dialogo institucional…
Daí o pensamento universal ser reintegrador e o pensamento supremacista isolador – dominador pela força e gerador de “guerras permanentes”…
A humanidade em seu conjunto deve opor-se a todo tipo de visão isolacionista supremacista anti-evolutiva e trabalhar em favor do dialogo permanente (em todas as áreas) que gera confiança e evita o confronto e guerra. Reintegracionismo universalista que a vez trabalha em favor duma filosofia integradora da diversidade – pela essência comum da humanidade – Essência que a todos e todas nos dá o fundamento de do ser individual e coletivo. A vez que o respeito a pluralidade, dentro dessa unidade – sem supremacismos – é a base do equilibro entre os povos, e dos povos com o entorno natural
Parar o genocídio
Esse movimento sionista supremacista, aproveitou os ataques coordenados, pelas Brigadas de Al-Qassam do 7 de outubro de 2023 (totalmente condenáveis), para levar a frente uma tentativa de limpeza étnica, que facilite tanto a exploração do território e sub-solo da faixa de Gaza, como avançar para criação futura daquele estado judeu, acorde a promessa de Yaveh – do Nilo ao Eufrátes. Para deste modo concretizar o sonho messiânico, para qual é preciso erguer de novo o Terceiro Templo.
Sabemos do reparto entre EUA e Israel do projeto de "Novo Resort" de Gaza- assim como o reparto, entre empresas norte-americanas e britânicas - dos jacimentos de gas... No entanto o impulso mesiánico seja tal vez mais poderoso...
Para erguer esse terceiro Templo preciso será deslocar ou eliminar a população árabe palestina, dado a Mesquita de Al-Aqsa, estar precisamente assente onde o este Templo teria de ser levantado.
Precisamente os ataques do 7 de outubro de 2023, foram nomeados de “Tormenta de Al-Aqsa”.
Esta ideia de solução messiânica, que assenta o titulo de propriedade da Terra tomando por fonte um argumento religioso, mata todo principio de Direito Internacional – e abre a porta a outros fundamentalismos religiosos, que em contra posição combatam – em guerras intermináveis – minando toda fonte de acordo dentro das normas internacionais, que ate o dia de hoje, ainda vigoram.
Além disso a urgência profética e a crença na proximidade do “tempo” para realizar a mesma, traz insensibilidade ante o sofrimento alheio. Deste jeito, em plena TV, o Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sentiu a necessidade de declarar após o 7 de outubro de 2023 – que seu governo estava aí, para cumprir a profecia de Amaleque – Identificando os palestinos com os Amalequitas
"Vai, pois, agora e fere a Amaleque; e destrói totalmente tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos" (Samuel 15:3)
Esta visão apocalíptica. originada na união do sionismo político com o sionismo religioso, que põe em causa a aplicação do direito internacional, em determinadas zonas do planeta, vem sustentada por um árduo trabalho de bases supremacistas, de décadas. Alimentando mesmo a insensibilidade ao sofrimento do próximo, como bem ilustrou o Rabino Moshe Levinger, no jornal Yediot Aharonot, em 1994: “Sinto pena dos palestinos assassinados, a mesma pena que sinto quando mato moscas”
A solução política sionista de retorno e ocupação da Palestina, como solução as perseguições do povo judeu, desde a Idade Média, na Europa (aumentada pelo holocausto nazista)– resultou na prática numa guerra aberta de sobrevivência entre o povo Palestino e o novo ocupante.
Dentro das dinâmicas guerreiras de imposição e sobrevivência do mais forte, finalmente o poder israelense, optou por uma ideologia supremacista, que mesmo toma orientação das fontes de onde nasceu o movimento nazista, que tanto dano fez ao povo judeu. Fontes supremacistas tanto no lado político, religioso, como no mais obscuro “esotérico” – onde as visões supremacistas da Ordem de Thule ou a Nova Ordem Aria de Heinrich Himmler, aparentam ter continuidade no ideário escatológico sionista - na sua cosmovisão de “povo eleito” – acima dos outros povos……
Sendo a primeira forma de parar este Supremacismo, parar o Genocídio em Gaza e a ocupação final da Cisjordânia
O mundo tem de acordar, em este sentido a petição do Presidente da Colombia Gustavo Petro (independentemente de sua luzes e sombras como ser humano e político, e das simpatias e antipatias que levante sua pessoa) de enviar uma força de Nações Unidas a Franja de Gaza, que abra os corredores humanitários e pare a massacre, faz mais sentido que nunca.
Se permitir este genocídio, como bem afirmou o mesmo Petro, a humanidade está condenada a repetir guerras que sonhamos ultrapassadas, e urgências contra a barbárie, pelas quais nossos avós, em diversos campos de batalhas, no mundo, deram a sua vida.
Essa aliança internacional deveria unir países ocidentais e emergentes, e de passo, tornar-se um novo marco, para avançar em um diálogo permanente que permita aproximar – devagar – divergências políticas, em um novo Acordo – de Yalta 2,0
Por sua vez uma nova tentativa de Paz – lançada pelo presidente norte-americano Donald Trump – consensualizada com lado israelense e não com o palestiniano – com seus 21 pontos, está ainda em debate… Países árabes como Catar, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita – países como a Turquia – já se aderiram ao mesmo. Rússia e China também acham pode ser um inicio – Mas muitos analistas o vem como uma manobra, na pratica, que retira todos os direitos ao povo palestino. Embora o genocídio possa parar. No entanto sócios do mesmo governo israelense estão contra a implementação do mesmo… E o próprio Netanyahu afirma o termo de reconhecimento dum futuro “Estado Palestino” não consta no acordo, enquanto Trump afirma sua existência…
A paz se demonstra complicada – e os caminhos para mesma ainda indefinidos – não entanto a cidadania deverá seguir pressionando para minorar o ardor guerreiro supremacista -e complicar os impulsos dos senhores da imposição pela força.
De perder esta oportunidade e permitir a impunidade – o Supremacismo – de um lado e outro – tomaram conta das nossas sociedades – e ambos colidiram em uma múltiplas guerras, que podem mesmo levar a uma guerra total – com armamento nuclear
Lembrar que Francesca Albanese, relatora especial sobre a situação dos direitos humanos nos territórios palestinos, calcula a cifra de mortos elevar-se já a 600 mil - Dado ser somente verficados os cadávers que podem ser identificados -
A declaração de Genocídio
A 16 de setembro de 2025 a Comissão Independente de Investigação, estabelecida pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU – estabelecia que o governo israelense tinha cometido Genocídio na Faixa de Gaza.
E mesmo, sem os mesmos sionistas saber, como humanos, esta declaração da Comissão da ONU pode mesmo salvar ao próprio povo judeu (que a nível global já perdeu o crédito ganhado pelo terrível holocausto), dado que aqueles que perpetuam estas massacres – vivem para sempre dentro da sombra da sua vileza (os problemas de saúde mental de muitos soldos israelenses, alguns chegando ao suicídio – que tem aumentado exponencialmente – são sinais inequívocos dista sombra da morte carregada sobre as costas ) - Como escreveu o grande poeta palestiniano Mahmud Darwich, não se libera um do dano feito aos outros – uma cadeia de morte une aos mortos e aos assassinos.
Assim magistralmente o expressava em este poema.
“Mortos dormem nos quartos que vocês vão construir. Mortos visitam seu passado nos lugares que vocês vão destruir. Mortos passam em cima das pontes que vocês vão construir.
Mortos
iluminam a noite das borboletas, mortos
chegam
de surpresa para tomar um chá com vocês, vêm calmos
como os deixaram seus fuzis. E vocês, hóspedes do lugar,
deixem
um lugar para seus anfitriões… que vêm ditar
a
vocês os termos da paz… com os mortos!
“
Os supremacismos – alguns como o sionista nascido do medo a ser exterminados, como indivíduos e comunidade, em vez de chegar a insana conclusão de viver num mundo de morte, onde prevalece quem se impõe pela força ao outro – desterra e mata ao outro – deveriam beber das fontes da vida – do Amor que todo cura – e da palavra justa que alimenta –
Que a Paz seja con todos os bons filhos e filhas do Incondicional Amor - Aqueles bons e generosos que louva nosso galaico hino! Esse hino que nos lembra que: Os Tempos são chegados
“Eu estava acostumado a ver o Fogo Sagrado entronizado sobre o altar de pedras, em meio aos louvores de muitos pastores, entre os quais me destacava como mestre e sacerdote. Naqueles momentos de adoração, eu me vestia com os melhores mantos, e fazia questão de realizar o sacrifício somente quando todos os meus servos estivessem reunidos ao meu redor, para que ouvissem meus conselhos e advertências. Na hora do sacrifício, eu erguia minha espada desembainhada e, com palavras amedrontadoras, proclamava a grandeza do Senhor dos Exércitos, o Deus Todo Poderoso que domina sobre os Céus e a Terra. Vibrando a espada num movimento ameaçador, eu representava diante de meus pastores a imagem de um Deus severo, que está sempre pronto a revidar qualquer afronta. Depois dessa demonstração de soberania e poder, eu tomava uma ovelha das mãos de um pastor, e a amarrava sobre o altar. Para que ficasse patente a ira divina, eu pisava sobre o seu pescoço, golpeando-a severamente, até vê-la perecer. Depois eu descia do altar e ficava esperando pelo Fogo Sagrado que jamais deixou de manifestar-se sobre o sacrifício.
Eu aprendera desde a infância a reverenciar o Fogo Sagrado, crendo ser ele uma revelação visível do Eterno, o Grande Deus Invisível. Até então, eu o vira como um Fogo Único e Indivisível. Agora, ao transportar em humilde jarro a chama que se desprendera do Altar, meus pensamentos agitavam-se com o surgimento de um novo conceito sobre o Criador: o conceito de um Deus Sofredor que é capaz de desprender-se do grande Ser representado pelo Fogo, para acompanhar o pecador em sua jornada. Arrependido, prostrei-me diante do jarro e chorei amargamente. Estava consciente de que todo o zelo demonstrado junto ao Altar, tinha por finalidade a exaltação de meu orgulho, e não do amor daquele que me acompanhava pelo caminho. Subitamente, gravou-se-me na mente a convicção de que aquela pequena chama que se desprendera do Fogo Sagrado, era uma representação do Messias prometido, que Se desprenderia do Eterno para ser Deus Connosco, companheiro em todas as nossas jornadas. Ao sobrevir-me esta convicção, a chama alegrou-se, tornando-se mais brilhante e calorosa. Com o coração transformado, prossegui pelo caminho rumo ao vale, levando sobre os ombros o jarro que me trouxera depois de tanto desprezo, a alegria de uma nova compreensão sobre o caráter do Criador.”
(Do Livro apócrifo de Melquisideque)
👌
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