O RAIAR DA ALVORADA – por Artur Alonso
Alguém um dia me disse: “É muito importante que as pessoas recetoras de opinião, saibam que as opiniões são sempre subjetivas. Que retórica e eloquência não necessariamente são sinónimos de verdade. O recetor de opinião deve saber identificar os sofismas, diferenciar aquilo que é conceito do que, a sua vez, é preconceito. Saber qual é a essência que está amarrada ou enraizada àquele paradigma, no qual acredita seu interlocutor. Poder diferenciar, trás o fumo da retórica, aquelas medias verdades que são utilizadas para atrair nossa atenção, e fazer-nos nela cegamente acreditar, para logo comungar com as verdades impostas pelo orador. Verdades que pudendo ser completarias com a nossa; mesmo enriquecedoras para nós: não são ou não fazem parte da nossa vital experiência da realidade”
Uma outra pessoa me diz em outra ocasião: “Sendo a liberdade de expressão a verdadeira proposta do Jornalismo universal, e guia duma sociedade saudável; recomenda-se aos recetores da mesma, contrastar as informações e diversas opiniões com aquilo que a realidade apresenta entre nós. Assim melhor poderemos traduzir dessa imensa informação, aquilo que melhor se adapta a nossa perceção. Aquilo que melhor se adequa a realidade que já conhecemos” ..
Assim que aguardo cada quem sabia procurar em este texto, aquilo que vibrando no seio do seu coração e no centro da sua alma, seja também aceite, se for para seu bem, pelas ondas onde se movimenta a sempre irrequieta e miúdo enganosa mente.
Devemos desenvolver, com paciência, a sutilidade de espírito. Aprimorar a sagacidade de descobrir os enganos mais bem encobertos (a dialética egocêntrica, trabalha muito com isso). E finalmente adquirir a lucidez, que permite o coração e mente ser equilibrados pelo poder da intuitiva consciência.
Vamos a recriar um pequeno relato histórico, avançando a grandes saltos – para tentar compreender a complexidade da mudança, que hoje, estamos vivendo
Acreditamos, pois que a queda da civilização celta (derrota de Vercingetórix, no século I d.C e Viriato, no século II d.C), marcou para sempre o fim da sociedade do Poder Sacerdotal (dominada pelos Druidas), para o início do poder dos Imperadores – Reis, Senhores guerreiros. Sobre Viriato escreveria Diodoro da Sicília: “Enquanto ele comandava ele foi mais amado, do que alguma vez alguém foi antes dele” Do fim Vercingetórix dissem as crónicas de Amédée Thierry, contrastando informações de Dião Cássio e de Plutárco, na sua História dos Gauleses: “Vercingetórix foi conduzido a Roma e lançado num cárcere infeto, onde esperou durante seis anos que o vencedor viesse exibir no Capitólio o orgulho de seu triunfo. Pois somente nesse dia o patriota gaulês haveria de encontrar, sob o machado do carrasco, o fim de sua humilhação e de seus sofrimentos” Afirmando-se aqui, que a mudança de ciclo traz consigo o declínio e auge das civilizações.
Proporcionando o declínio de umas o auge doutras. Mas lembrando sempre com devoção e ficando na memória coletiva como semente da nova ética, a inocular em novos encraves conciliatórios, a vida daqueles que mesmo estando no espaço-tempo da sua contração na história, nunca abandonam seus povos a sorte, permitindo-lhes de ressurgir com dignidade na altura, que para tal de novo a história, lhe por lei, precise de novo de convocá-los.
Essa mesma semente foi a que deixaram enraizada, na antiga Gallaecia – Callaecia (a Terra Mãe – da Deusa Calleh), aqueles que defrontaram no Douro a terrível batalha, junto aqueles que no Medúlio preferiram a morte a viver como escravos. Desta semente a colheita atual do povo galego.
Roma inicia a ponte entre o poder sacerdotal e senhorial. Consolidando esse poder senhorial sua força durante toda a Idade Média – A ética cavalheiresca – vai dar a tónica alta evolutiva, a todo este período.
O Centro Geográfico islâmico – cria um ponte excecional entre o poder senhorial (já comercial) e o futuro poder mercantil – a desenvolver-se, na Europa do pré-renascimento (chegada do mestre Pleto de Bizâncio ate Florescência, pela intervenção de Cósimo de Medicci – para fundar a nova Academia Neo-platónica)
O feche da escola de Edesa, em 489 d.C, vai espalhar esse saber ate Pérsia e Síria. A dinastia Abásida, em Bagdade (durante os séculos VIII e IX) vai recolher esse saber – que desde a helenização – com Alexandre Magno, trazia consigo misturado o conhecimento do Egito e a Mesopotâmia.
A escola Mu´tazili, acolhida como ensinamento oficial, na época do Califa Al-Ma´mum, vai ser a protagonista do grande esplendor islâmico em todas as áreas do saber, cientifico, filosófico e espiritual. Fazendo especial finca-pé na boa ligação entre filosofia e religião.
Desde Córdova Averroes abriu caminho, para situar aquela “doutrina da dupla verdade” – que desde o chamado “averroísmo latino” influenciou Santo Tomás de Aquino.
O neoplatonismo de Al-Kindi mantém um elevado patamar discursivo dentro da filosofia islâmica.
A queda em desgraça da visão dos Mu´tazilis, traz consigo o inicio do declino do Centro Geográfico Islâmico.
Esse declínio abre as portas ao poder mercantil da Europa tomar seu revezo – desde o pré até o pós renascimento.
O ciclo de queda do poder Real, e início do poder Comercial, surge com as republicas italianas do século XIV; assim como com o nascimento da velha Liga de Hansa, de inícios do século XII e XIII. Ainda que a República romana, anterior ao império de Augusto e, as antigas Cidades Estado, iniciadoras das Demos gregas, já fincaram sua semente em terra fértil numa altura em que era impossível transitar ainda para comercial domínio. No entanto o sacrifício dos 300, nas Termópilas, parou a maquinaria de guerra oriental persa, que houvesse invalidado o brotar destes frutos mercantis futuros.
Assim a consagração desse poder comercial, e sua transformação num poder global comercial financeiro, teve de aguardar ainda a chegada do século XX. A afirmação de Keynes: “As ideias dos economistas e dos filósofos políticos, estejam elas certas ou erradas, são muito mais poderosas do que habitualmente se pensa. Na verdade o mundo é governado por pouco mais que isso:
Os homens práticos que acreditam estar eles próprios imunes a qualquer influência intelectual, são habitualmente escravos dalgum defunto economista. Os loucos no poder que ouvem vozes no ar, apenas estão desfilando o que algum escriba académico produziu anos antes… Mais tarde ou mais cedo são as ideias, não os interesses envolvidos, que são perigosos para bem ou para mal“, o confirma.
Desenhando nesta afirmação sem lugar a dúvidas a gráfica raiz da coluna sobre a qual o poder mercantil, se afinca: a economia. Passando a ser o Deus Mercado e seus Oráculos centros bursáteis das finanças, o consumidores e, a sua vez, distribuidores de toda a energia do sistema, mediante a o fluxo e afluxo monetário de todo o sistema. Esta engrenagem funciona criando vassalagem através da trela das “Dividas”.
Algemando as periferias regionais pobres ao centro rico. Como já dissemos esta arquitetura impulsionou no mesmo centro do Templo Mercantil de Wall Street, em 2007-2008, favorecendo o inicio da Transação do Poder Comercial Financeiro em face do Novo Poder Cívico Global.
Para atingir este ponto, antes tem-se dado um lento e grandioso trabalho, no sacrifício de múltiplas e valiosas sementes, na procura de consagrar este estagio onde o Poder Comercial Financeiro deixará definitivamente seu lugar àqueles antigos Serviçais. Humanos seres que serviram durante milénios ao Poder Sacerdotal, ao Poder Real-Guerreiro e Imperial, e na atualidade ao Poder Mercantil dos Banqueiros. Aprenderam através desses duros serviços a arte de governar-se a si mesmos e, agora terão que atingir o patamar evolutivo de formação académica e humana adequado, que lhes permita livrar-se desta pesada tutelagem, para efetivar o coletivo governo global do orbe.
Dentre as diversas sementes que foram implantadas no “Imaginário Coletivo” para fazer esta mudança lembramos em destaque: A Escola Egípcia de Horus (com a grande figura de Hermes Trismegisto, o Deus Toth); as Escolas Gregas: Jônica da Asia Menor (Tales, Anaximandro, ambos de Mileto e Heráclito de Éfeso); a Escola Pitagórica (o próprio Pitágoras de Samos, Filolau de Cretona e Árquilas de Tarento); a Escola Eleata (Xenófanes de Colofão, Parmênides e Zenão, ambos de Eléia) e a Escola Atomista da Trácia (Leucipo e Demócrito, ambos de Abdera).
Os gregos do século IV a.C. utilizaram a mitologia para explicar a natureza e fundamentar a própria organização socio-política, do mesmo jeito que fizeram os nórdicos com as aprendizagens de Thor, os egípcios com Osiris e Isis, os celtas com Lugh, os indianos com seu magnífico corpus de conhecimento dos “Rig Vedas”, e a maravilhosa aprendizagem do “Bagad Gita”. Do mesmo jeito a raiz da tradição Mesopotâmica e chinesa onde a tradição taoista, misturada depois com o budismo, foi dar na rica aprendizagem do Zen japonês. O budismo tibetano, que contem um corpus ético – filosófico magnificamente elaborado, detalhado e acrescentado, pelas distintas escolas e pensadores – com destaque para a figura de Atisha – e o “Lan Rin” com suas achegas, século a século.
Desde Oriente ao Ocidente muitos seres e coletivos humanos tem-se destacado na lavoura ímpar de formação deste legado, que durante milénios, vem preparado à humanidade para este despertar coletivo e esta transação miraculosa.
Não podemos esquecer na Gallaecia, nem na península celtibérica o legado celta e – gnóstico, que da mão de Prisciliano misturou-se com o legado do cristianismo luminoso. Raiz que ainda sobrevive na alma coletiva dos “bons e generosos”. Resguardando no interior da alma Galaica a semente que agora está a abrolhar, pela força da vontade coletiva (que começa a acordar) no Amor-Sabedoria e confraternização, que será necessária para que as diversas correntes de pensamento galeguista, cheguem, devagar a sua síntese e, a colaboração precisa, para a libertação coletiva do auto-ódio e negro egoísmo que ainda prevalece.
A listagem seria muito extensa ate chegar aos nossos dias. Mas sim podemos resumir, que nos últimos tempos, o grande legado russo e a exemplaridade da obra de Leão Tolstoi assentou na mente coletiva da humanidade o caminho da Paz em movimento. Por meio do seu livro “O Reino de Deus está dentro de Vós”; Gandhi olhou por primeira vez a luz do seu “pacifismo”, revoltando seu coração belicista ate um remanso de amor ao próximo, que daria como resultado a pacifica rebelião indiana, pela independência – Mesmo os lados escuros de Gandhi seu muito divulgados, no seu suposto desprezo a nosso irmãos africanos, na África do Sul.
O “Apoio Mútuo” de Kropotkin, que viraria aos poucos a errada visão dos britânicos Thomas H. Huxley e Thomas Malthus, baseada na ideia da desfocada leitura de Darwin, como sendo o principal fator da evolução a “luta pela sobrevivência”
Com seus estudos Kropotkin tem aberto o caminho à compreensão da necessidade da solidariedade com principal fator de crescimento humano, organização duma sociedade sadia, plural; com capacidade de garantir o desenvolvimento individual e coletivo. Sendo este trabalho do russo um dos alicerces fundamentais da nova sociedade em formação, neste inicio da transação.
Esta nova organização social terá como eixo principal, um triplo trabalho, destinado a libertação total dos seres humanos das cadeias do individualismo. Um primeiro trabalho interior, que pela constância, esforço e vontade de cada um, elevaria o indivíduo a verdadeira compreensão ética, do seu verdadeiro ser, seu verdadeiro potencial e suas verdadeiras capacidades; pacificando-se ele consigo próprio. Um segundo trabalho exterior de pacificação e colaboração entre indivíduo, sociedade, natureza (impossível de realizar sem a previa pacificação interior do ser, pois um ser revoltado consigo mesmo, projeta esse mal-estar em toda a sociedade e, sobre o entorno natural que o rodeia).
E finalmente um terceiro trabalho de unidade e pacificação entre os povos, pela iniciação dum dialogo permanente, mútuo, aberto. Acrescentado pela compreensão de todos os povos e culturas estar unidos pela mesma e comum essência (conseguido finalmente ver que a multiplicidade de línguas, culturas, visões, como partes dentro duma maior unidade essencial. Diversidade na Unidade, que forma verdadeiramente a grande riqueza humana, que tem de ser cuidada e resguardada). Em esta tripla achega, não podemos esquecer a figura da outra grande mestra russa Helena Petrova Blavatsky (que abriu este triplo caminho, com sua trilogia do “Eu Sou” e a monumental “Doutrina Secreta”).
Eric Fromm, no seu belo livro “Ter ou Ser”nos convida a escolher entre esse exterior material, tão atrativo para a ilusão ególatra; ou aquele interior imaterial, tão atraente para aqueles que procuram o caminho espiritual, paradigma da verdadeira riqueza; dentro dessa fascinante escolha que nos permite o livre arbítrio.
Afirmando Fromm, cousas como: “A nossa experiência social é a maior alguma vez feita no sentido de resolver a questão de se o prazer poderá ou não ser uma resposta satisfatória para o problema da existência humana. Pela primeira vez na História, a satisfação do prazer não constitui apenas o privilégio de uma minoria. Tornou-se acessível a mais de metade da população. Ser egoísta não se relaciona apenas com o meu comportamento mas com o meu caráter. Ou seja : que quero tudo para mim; que me dá prazer possuir e não partilhar; que devo tornar-me ávido, porque, se o meu objetivo é ter, eu sou tanto mais quanto mais tiver; que devo sentir todos os outros como meus adversários: os meus clientes a quem devo iludir, os meus concorrentes a quem devo destruir, os meus trabalhadores que pretendo explorar. Nunca poderei estar satisfeito, porque não existe fim para os meus desejos”apontando aqui a mesma pergunta, que os grandes cabalistas respondem afirmado a raiz estar na procura do verdadeiro prazer que nosso ser demanda: o desejo da profunda paz – que se atinge com a volta a Unidade Cósmica.
Aquele anelo pelo qual nosso espírito impele continuamente à humanidade a procurar, dentro de cada ciclo evolutivo… Ate atingir a luz da verdade (sem dar-nos certamente descanso ate conquistar este objetivo: do qual nasce a raiz duradoira de toda paz interior verdadeira).
Nikola Tesla, descortinou as infinitas possibilidades que o Poder Criativo Humano tem e, a ele devemos o conhecer que existe uma energia universal, que de ser bem estuda, compreendida e aproveitada pelos seres humanos, todo tipo escassa ilusão será definitivamente borrado do imaginário coletivo: abrindo a Era da Exuberância contínua, que deverá respeitar os ciclos necessários para regeneração da vida. O Poder Comercial Bancário foi capaz de silenciar Tesla, mas não de banir o seu legado…
O Círculo Eranos seguiu sua estelar pegada, reunindo-se durante 55 anos as mentes mais brilhantes da sua época, por iniciativa de Olga Fröbe-Kapteyn, para afirmar as bases dum novo Paradigma “Cientifico – Espiritual” - Paradigma que está a mudar a humanidade, ao explorar abertamente os vínculos entre o Oriente e o Ocidente; dando maior sentido a esta transação em face dum despertar global para a comunhão das partes – dentro da mesma essência. Unidade que agora está devagar acontecendo – mesmo sabendo de sua culminação ainda poder ser adiada por séculos...
As achegas da Física Quântica, e a afirmação de Niels Bohr, conforme: “uma verdade irrefutável, pode ter como contraposição outra verdade irrefutável”, junto a visão profunda de episódios quânticos como o da dualidade “onda – partícula”, onde o observador, não somente interfere, senão que pode mesmo mudar à realidade, tem aberto definitivamente a mão de ferro da imposição pela força. Velha cosmovisão amparada numa única compreensão da realidade: aquela do “direito natural” do mais forte a implementar a sua verdade. Permitindo está complementaridade das perspetivas diferentes, devagarinho, fazer compreender aos seres humanos, que podemos ir rumando ate chegar ao total respeito pelas posições diferentes (pois estas no novo paradigma deixaram de ser divergentes, ameaçantes para nós e passaram a ser complementares e, por tanto, enriquecedoras da nossa própria realidade e experiência vital única).
Esta marcha em face da sociedade dos Cidadãos é inevitável, o máximo que podem fazer os poderes mercantis financeiros atuais é atrasar seu progresso. Para isso precisam de nossa colaboração. Por isso trabalham a colaboração ativa e passiva: Entorpecendo nossas mentes através do falso entretimento global, através do controle da Mídia Áudio visual, do fomento da negatividade, do aprofundamento do mercado das drogas (legais e ilegais) como lubrificantes dum sistema económico já quebrado (mesmo quantificando esse comércio da morte dentro PIB, dos Estados).
Mas não podem impedir algo que é superior a seus domínios: a marcha cíclica da lei natural universal, com seus ritmos adequados que eles tentam modular em seu beneficio.
Assim, que agora sabemos, mesmo que fiquem provas que serão de certo muito duras, para nós, já não podem vencer-nos. Sabemos, pois que de nossa fortaleza ética, nossa raiz cultural bem afiançada e nossa positiva vontade de contagiar aos outros, vai depender esta chegada inevitável de próspera mudança. Lembremos que sempre que a noite aparenta mais escura é porque já está iniciando-se a alvorada…
"Nós te oferecemos o começo, e aqui termina o papel de teus iniciadores. Se tu, por ti mesmo, chegares à compreensão dos Arcanos, merecerás o título de Adepto. Deves, entretanto, saber que seria inútil que os mais sábios mestres te revelassem as supremas fórmulas da ciência e do poder mágico; a Verdade Oculta não se deixaria transmitir em um discurso: cada um deve invoca-la, cria-la e desenvolve-la em si. Tu és Iniciatus: aquele que os outros colocaram na senda. Esforça-te para tornar-te Adeptus: aquele que conquistou a ciência por si próprio - em suma, o filho de suas obras... Se tu queres tornar-te um Adepto impõe ao EU o mais religioso silêncio para que ele seja escutado; e então mergulhando no mais profundo de tua inteligência, escuta a voz Universal, o Impessoal, Aquele que os Gnósticos chamavam de Abismo" (Stanislas de Guaita - Discurso de Iniciação)
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