A HORA DO CREPÚSCULO por Artur Alonso
karl Von Eckartshausen, já em finais do século XVIII, nos falava da “guerra entre o homem animal e o homem espiritual que desperta” – O homem espiritual caminhava em procura da luz, o homem animal se ofuscava nas sombras internas, dominado pelos seus instintos.
Eckartshausen acrescentava que trás essa luz se esconde o espírito da verdade: “o Amor e a Sabedoria engendram o Espírito da Verdade, a luz interior, esta luz ilumina em nós os objetos sobrenaturais e os torna objetivos” - “Assim como o espírito da natureza se espalha nas profundezas mais estéreis para vivificar, para conservar e para dar desenvolvimento a tudo que lhe é suscetível, assim também o espírito da luz se espalha no interior de todas as nações, para animar completamente a letra morta pelo espírito vivo”
Para Eckartshausen, já nos finais do século XVIII, vivíamos no “tempo do crepúsculo”- Aquele tempo simbólico onde o ser humano ainda não tinha alcançado a luz – nem da ração e menos todavia da mais elevada intuição – e a pesar de tudo, a luz sempre poderia penetrar e dissipar as trevas.
A luz está a tentar penetrar as trevas e acordar a humanidade. Mas a dia de hoje as encruzilhadas de caminhos espirituais, sociais, civilizacionais, económicos e geopolíticos estão a precipitar ao abismo mais obscuro da guerra a toda a humanidade. O perigo do extermínio termonuclear e oportunidade da futura sociedade do ócio – se puder utilizar para elevar a alma humana – estão entrando o ponto de encontro.
O problema que também o tempo do engano surge – o altifalantes, de cada lado do espectro, a anunciar seus dirigentes – serem os novos condutores – para a definitiva libertação da humanidade dos pesados trabalhos de antanho. E a competência pelas audiências se abre. Mas as realidades dos mais adaptados e dotados para afrontar as novas e velhas provas – muitas vezes pode ser ocultada pelo brilho artificial dos holofotes
O tempo da concorrência
A China adiantando em todos os âmbitos aos EUA: patentes, iniciativa mercantil, capacidade sistémica económica (o sistema económico atual da China resulta mais eficiente que o norte-americano para abordar as novas problemáticas derivadas das crises financeiras entrelaçadas) e mesmo no âmbito da renovação do conhecimento humano (13 milhões de titulados universitários, a cada ano procuram emprego bem remunerado na China – O que fez ao governo chinês criar um departamento especial para sua colocação no mercado laboral) Somente no poder militar os EUA tem vantagem. Mas aí entra em cena a Rússia
A capacidade missilística, de guerra eletrónica, uso de drons, capacidade aérea e naval do poder russo… tem mudado a conceção bélica no âmbito da estratégia e a tática de combate – e muito além a mesma definição dos princípios de dissuasão.
O novo míssil hipersónico russo Oreshnik – desenvolvido com capacidade de mobilidade otimizada, lançamentos rápidos desde plataformas móveis e trajetórias difíceis de intercetar se torna uma das amostras mais poderosas da vantagem militar russa no novo conceito de “guerra moderna” – que volta a posicionar aos EUA em uma situação de verdadeira desvantagem
As placas tectónicas civilizacionais se movem para Eurásia, sendo que a Europa e Norte-américa tentam ocultar ou negar este fato, mas a cada dia mais evidente. Mesmo assim essa deslocação semelha ser irreversível.
Curioso, no aspeto simbólico, que o polo norte magnético se está a afastar do Canadá (Norte-américa) e achegar-se a Rússia, a uma velocidade inédita de 48 km por ano.
O mesmo Irão produz mais engenheiros por ano que a Índia. Sendo que a Índia produz mais que Japão e a Coreia do Sul – mesmo assim a Índia, em proporção, tem um volume de habitantes muito maior.
Oriente semelha emergir e Ocidente – declinar. No embate pela hegemonia pode haver muito tremor de terra.
A pergunta que se suscita aqui é: poderá ser feito esse desloque com acomodo geopolítico ou as diversas fricções, nos diversos pontos de contacto, das placas em movimentação aumentarão de tal forma que a guerra global será inevitável? E em este caso será também inevitável essa guerra resultar em catastrófico confronto termo-nuclear? Eis a importância deste momento histórico: onde o crepúsculo nos deixa observar uma faisca de luz, mas as sombras se adensam.
Sendo, a dia de hoje o confronto da Ucrânia, da Síria – Líbano – Israel - Gaza (em menor medida, e no entanto importante, o conflito no Sahel) – os que marcam os pontos de mudança no mundo.
Estas guerras se converteram em uma das faixas de fricção mais determinantes no confronto Ocidente – Eurásia. Este embate Ocidente – Oriente encobre o confronto do sistema político – entre o neo-fascimo corporativo e o neo-socialismo estaticista (aqui no ocidente o tecno-feudalismo estudado por Varoufakis, etapa superior do capitalismo das rendas estudado por Michael Hudson – que constitui a coluna dorsal do neo-fascimo corporativo – contra o modelo de socialismo de mercado chinês que, devagar, está a ser aplicado, com suas diversas nuances, no chamado “sul global”)
Encobre também o confronto filosófico entre a visão tecno-progressita (e sua variante transhumanista) ocidental contra a visão conservadora (com sua variante de novo tradicionalismo e abertura gradual ao mundo tecnológico, sem acelerar processos) própria do Oriente – e contagiando o Sul Global – O ocidente vivenciando o homem além Deus – e dizer: a essência potencial do ser humano lançada para a aventura de sonhar com, a possibilidade, de modificar o estado da impermanência na matéria. Enquanto o Oriente assumindo Deus no homem – ou o Principio Primordial da Criação contido na essência do ser humano – como no caso do Taoísmo chinês – e ver a impermanência do mundo material como raiz da sua transcendência.
As vanguardas espirituais do Oriente pois a procurar o recontro com o Princípio Único ou Deus, por diversos caminhos, segundo as diversas tradições e escolas – enquanto as vanguardas espirituais do Ocidente procuram elevar-se ao plano seu próprio plano Divino – como entes com capacidade de criação – Entes que por meio da hibridação do humano com o Cyber – a Inteligência artificial e da utilização da tecnologia genética – aspiram a formar o Super-humano – com capacidade de permanecer na matéria – moldando sua própria realidade, segundo a sua vontade. Observemos aqui o projeto estrela de Elon Munsk – e os implantes cerebrais, além do famoso Space X.. Pela sua parte o Oriente encaminhando-se, mais profundamente, a vontade do Ente Criador (Deus em muitas tradições) e a unificação com ele…
Esconde este embate, a sua vez, o confronto entre a visão do “excepcionalismo ocidental” – onde um povo eleito marcará o caminho a toda a humanidade (virada na já falida agenda da globalização), a ser substituída pela nova ideia dum poder reitor a comandar o novo mundo multilateral – e a visão oriental da multi-polaridade, multi-nodal e de influencia regional, com amplos acordos globais – entre as diversas potencias.
Confronto em todas áreas
O confronto Oriente – Ocidente (Emergentes do Sul Global – contra – Poder Ocidental) se ramifica por todos os 5 planos do controlo sistémico: social, económico, geopolítico, civilizacional e espiritual (plano da Egregóra – que encerra os “Arquétipos Coletivos”). Estes cinco planos se subdividem em mais dois (pois geopolítico – que contem o político / e o civilizacional que contem o cultural)
No plano social o Ocidente defendendo a ideia da experiência individual primando por cima da coletiva (esta percepção em decadência desenvolve individualismo niilista – exacerbando a experiência sensorial, sensitiva e tentativa de concretizar a atração material – sublimando o caminho instintivo de forma encoberta. Social domínio das banalidades – banalização da sociedade)
O Sul global defendendo a experiência coletiva por cima da individual (em tempos de inicio da ascensão civilizacional procurando o bem coletivo por cima do direito individual)
No plano económico – o modelo que começa, com força, influenciar o Sul Global – de socialismo de mercado chinês – expandindo-se contra o modelo neo-liberal Ocidental. Com faixas de fricções abertas em todos os continentes – referenciando-se na América do Sul – na luta do presidente argentino Milei – e do brasileiro Lula da Silva (o modelo da Venezuela e a Nicarágua – de momento isolado e sem possibilidades de extensão)
No plano político – sub-plano do geopolítico – o Ocidente Coletivo defendendo o neo-fascimo (que mistura o capitalismo financeiro – o monopolista império financeiro – e o tecno-feudalismo) contra o neo-socialismo estaticista que começa a trunfar no Sul Global
Na nova Era Trump, que se avizinha, observamos também – a união corporativa das Grandes Tecnológicas – as Grandes Energéticas – e o Grande Capital de Investimentos.
Na China, por sua vez, observamos o controlo estatal através do controlo da emissão monetária – e do controlo bancário – e do Partido único (deixando 70% do sector privado tomar o controle empresarial – com somente o 30% estatal – dividido empresas propriedade do estado – empresas propriedade regional e empresas de propriedade local)
No plano geopolítico – a associação do corredor mercantil – das infraestruturas chinesas do “Cinturão e a Rota” – associado a necessidade da aliança energética (com a Rússia, Irão – Arábia Saudita…) e a estratégica necessidade de apoio ao poder militar da Rússia – vão tecendo laços, a cada dia, mais firmes.
O poder militar da Rússia se converteu na principal aposta de segurança estratégica tanto do soberanismo chinês, como do nacionalismo indiano, como da tentativa futura de soberania real do Brasil. Sendo que em uma terceira posição de eixo da balança (tentativa de acomodo e equilíbrio oscilante entre os poderes em confronto do Ocidente e Oriente) se situam tanto Brasil, como a Índia e Sul-África.
Vencida a Rússia tanto o Irão, como a China, Índia, Brasil e Sul-África perderiam o marco de manobra atual. Perderiam muita da sua autonomia ao, nenhuma destas potencias, ter suficiente poder bélico para confrontar o poder bélico – financeiro – e cientifico-tecnológico do ocidente.
China pode superar o poder industrial, desafiar o poder cientifico-tecnológico e mesmo tentar criar uma rede de finanças alternativa ao Ocidente. Mas não tem o poder bélico suficiente para confrontar o Ocidente.
Sabendo que os três tabuleiros, que definem a partida de xadrez geopolítica: militar – económico – e cientifico sócio cultural – dependem da fortaleça militar que garanta a sua independência…
Podemos afirmar que nenhum desenvolvimento alternativo, em nenhuma área, pode ser feito sem um poder militar dissuasório que permita este aflorar iniciativas nos outros tabuleiros.
Esse poder dissuasório é a Rússia.
Daí agora podemos entender como as sanções económicas do Ocidente à Federação Russa puderam ser contornadas, precisamente pelo apoio, por necessidade, de muitos países BRICS e do Sul Global. Ajudando muitas outras potencias regionais – como Irão e a Coreia do Norte – mesmo no esforço bélico no campo de batalha da Ucrânia…
No âmbito civilizacional – temos o ideal ocidental duma civilização tecnológica – robotizada, avançando muito alem do sonho tecnotrónico da sociedade pós industrial – descrito por Zbigniew Brezinski
Uma civilização verde – com redução drástica da pegada demográfica – e estratificada social de classes entre: senhores – científicos – e servidores.
Nas camadas de servidores não é preciso já aquela velha mais-valia engendrada pelo proletariado industrial (estudada por Marx) – substituído este exército de trabalhadores, devagar, pelo avanço da robótica.
Cada estratificação social teria seu acesso ao conhecimento, tal como pensado por Bertrand Russell: os servidores (que segundo que sectores podem ser subsistidos pela robótica) teriam acesso à formação profissional técnica.
Os universitários, futuros engenheiros, técnicos e cientistas com acesso a formação académica – e os senhores com acesso ao conhecimento mais resguardado: o transcendental (ministrado nas fraternidades secretas ou discretas).
Destas fraternidades foram sempre membros, a maior parte, dos homens que moldaram os destinos do mundo: os grandes políticos, cientistas, artistas, humanistas e também alguns dos grandes místicos… Mesmo alguns místicos tendo fundando suas próprias irmandades, como o caso de Rumi…
Esta civilização do progresso ocidental confrontaria com a civilização oriental do novo tradicionalismo conservador – onde o indivíduo enraizado nos valores coletivos, familiares e comunitários – restringe parte de sua liberdade em favor do grupo. A nova tecnologia complementa essa adaptação do individuo dentro da comunidade – ajudando ao avance do conjunto – não da particularidade individual.
No sub-plano cultural do plano civilizacional – a agenda progressista individualista ocidental – embate com a agenda conservadora do novo tradicionalismo oriental, que irradia por todo o sul global – com menos chegada esta irradiação a América do Sul – Esta região na sua oscilação entre o controlo todavia norte-americano e a necessidade de alianças com o sul global, pode entrar em disputa, em outra fase.
Dentro desta zona da América do Sul temos nas alianças com o oriente temos a entrada do capital chinês e certa influencia filosófica e política russa – assim com algumas alianças mais nas sombras com o próximo oriente – influencia do irão – que tenta minora a grande influencia na zona de Israel
A estratificação social no oriente – é diversa – e dependendo do nível de atrito com o poder ocidental via balançar de uma visão mais de poder único centralizado – a uma visão, que mantendo seu autoritarismo, será mais diversificada, descentralizada e aberta a contraposição de diversas e mesmo contraditórias ideias.
Nas faixas de atrito – ou guerra – os poderes de ambos bandos tendem a unidade de pensamento – ação. A sua vez maior unidade cívica – militar – e do poder regulador estatal (seja este um estado controlado por um poder civil – partidário – de clã ou um poder privado corporativo)…
No que se refere ao embate espiritual – o mais elevado – se deve ao controlo da Egregóra que comanda os “arquétipos individuais e coletivos” – que a sua vez controlam a psique individual e coletiva.
Em este caso temos os “arquétipos principais progressistas individualistas” em formação do futuro homem e futura mulher libertada do entorno cultural – tradicional – comunitário – familiar – do própria pressão da vizinhança – dado serem aceite muita mais diversidade na eleita individual de todo tipo, mesmo de género... Essa mudança se faria por meio do avanço cientifico – tecnológico (incluindo genética e robótica); assim como da consagração do direito a decidir sobre nosso corpo e nossa identidade – Esta perceção forma parte da coluna basilar – do ideal futurista e progressistas ocidental de vanguarda.
O Oriente – que irradia como centro – no Sul Global – forma o contra-ponto dual a esta visão – estando a criar devagar – os novos “arquétipos conservadores tradicionalistas comunitários” – onde o futuro homem e futura mulher voltam a reinterpretar seu papel – com o auxilio das novas filosofias que condicionam uma nova visão, que está já a modelar as raízes filosóficas e espirituais tradicionais de cada povo. Ajudando a ciência e tecnologia a avançar em esse caminha de redescoberta do ser – dentro do ente coletivo – que a esse ser lhe dá identidade.
A encruzilhada do medo
A aliança, por necessidade de sobrevivência no combate com o Ocidente, de China, Irão, Rússia e a Coreia do Norte – não pode ser derrotada em bloco pelo Ocidente. Daí que o inteligente seja abrir vários frentes de fricção para obrigar aos inimigos a dividir-se.
A pouca demografia e longas fronteiras da Rússia com vários países na Europa e na Ásia – fazem atrativo levantar distúrbios nas proximidades ou mesmo no interior da Federação Russa. Conflitos que do exterior possam explodir no centro do poder russo e derrubá-lo, como sonhava o estadista e Chefe de estado polaco (entre 1918 e 1922) Józef Klemens Pilsudkski – inimigo radical do poder russo e sonhador sem remédio da possibilidade de criação dum poder continental polaco, desde o mar Báltico ao mar negro e mar mediterrâneo (sonho polonês de velha data)
Estas visões de poder – explicam a necessidade da Russa – de manter a Eurásia controlada e pacificada – dentro de alianças militares com os países da ex- União Soviética, assim como com Irão, Coreia do Norte e China – Estas iniciativas de pacificação e controle das alianças na região condizem com o interesse chinês das novas rotas económicas da seda…
Explica o interesse do Ocidente em alterar os equilíbrios regionais: as crises atuais em Moldávia, Geórgia, Paquistão, Arménia – Azerbaijão.
Explica a necessidade do Irão e manter o “eixo da resistência” – e a necessidade de Rússia e Irão manter o poder na Síria (Laço de união deste eixo entorno das fronteiras iraniana – iraquiana – síria e libanesa). Assim como a necessidade de controlo naval e portuário de Tartus pela Rússia, para manter uma certa presença no Mediterrâneo.
Explica a posição da Turquia que pode manobrar contra a Rússia, com certo margem, dado que Ancara controla a saída da armada russa do mar negro ao mediterrâneo.
E a necessidade de certas alianças momentâneas dos turcos com Israel na guerra da Síria – para minorar a expansão do poder regional do Irão (inimigo comum de turcos e israelitas), pese a retórica de Erdogan contra a intervenção israelense em Gaza.
Explica por que Israel realiza ataques seletivos contra membros do Hamas (que pertence a irmandade muçulmana) pro-clives de fazer alianças com o eixo da resistência – enquanto deixa vivos lideres do Hamas – mais achegados a Qatar e Turquia. Lembrar que Hamas combateu em Síria contra o presidente Al-Asad, enquanto Hezbollah o apoiava.
Explica a iniciativa polaca dos três mares – que reúne 12 países situados entre o Báltico, Adriático e Mar Negro, criada em 2015 pelo presidente polaco Andrzej Duda e, a presidenta croata, Grabar-Kitarovic
Explica a necessidade servia de aproximação a Rússia. Explica os protestos na Roménia, após a vitoria do candidato Catalin Georgescu – visionado pelo Ocidente como pró-russo.
Explica a posição cética de Viktor Orban presidente de Hungria. E a relevância que o mesmo acaba de ter agora, após a vitoria de Donald Trump. Devido a una cisão dentro do Ocidente – entre os partidários dum modelo de dominação corporativo mais a favor da industria tradicional, com apoio dos velhos sectores dos hidrocarbonetos, sem perder o poder do dólar como moeda de referência global – nem o controlo das finanças globais – e aqueles, outros sectores, mais a favor de implementar uma agenda mais ecológica (entre outros fatores)
O declínio da Alemanha e a Europa – se explica pelo predomínio do poder anglo-americano sobre as tentativas de soberanismo europeu (após a derrubada de De Gaulle no maio de 1968).
A famosa frase do General britânco Hastings Lionel Ismay (1ª Secretário Geral da NATO de 1952 a 1957) da Organização do Tratado do Atlântico Norte ter sido criada para: “manter os russos fora, os norte-americanos dentro e Alemanha por baixo” – segue a estar vigente, a assim o demonstra a política exterior alemã na Ucrânia – pois o confronto com a Rússia e a sabotagem ao Nord-Stream II – retirou a entrada de energia barata no país, que permitia a Alemanha manter a competitividade nos mercados globais, a vez que salários altos na industria germana…
O mesmo, podemos falar, no que diz respeito a situação na África, com o embate contra a França e Estados Unidos, e a aliança com a Rússia (no campo energético e militar) e com a China – no das infraestruturas. A alternativa que permite a vários países africanos retirar-se da reparto do trabalho global ocidental – onde a África, como a América Latina – figuravam como meros territórios de extração de recursos naturais
Esta nova polaridade – permite também muitos países retirar-se do controlo ocidental das dívidas externas. E abrir sua janela – para melhores ofertas – tanto de companhias ocidentais como não ocidentais …
O mundo está em mudança e todo parece indicar que os novos ventos rumam para Oriente – China deixou de ser a fabrica barata do poder corporativo ocidental – China deixou mesmo de ser exportadora de capital humano – a ser recetora de capital humano altamente qualificado – não somente da Ásia, senão também da Europa, mesmo da Alemanha. O que significa que China já não é o país dos baixos custos e baixos salários – senão que um poder em ascensão – com capacidade de oferta laborar atrativa e geradora de mais valia – em todas as áreas…
Se o ciclo de poder talasocrático ocidental global iniciado com a abertura das rotas marítimas a oriente o ocidente, por Espanha e Portugal, está a chegar a seu fim – e novo ciclo de pode telurocrático oriental – de incidência no Sul Global – a iniciar-se, o declínio de Ocidente poderá ser atrasado mais não evitado…
O problema é o medo do Ocidente a perdeu o seu “cetro” e o medo do oriente a sua expansão ser travada. Esses medos podem levar, num excesso de zonas em fricções – a uma guerra global, que somente o mesmo medo a morte pode evitar
Estamos nessa encruzilhada civilizacional – onde, com bem falava Gramsci, surgem os monstros.
Esse surgir de monstros se deve, multas vezes, a falta de amor que permite a flexibilidade, e ao excesso de rigor – que cria forças destrutivas – e dirigentes muitas vezes que ganham os povos com o terror e não com o exemplo da virtude.
Talvez aqui, também, deveríamos ter em contra aquela achega de Aristóteles que nos sinalizava que no declinar das democracias surgem os demagogos – que submergem as sociedades nas tendências que derivam na tirania
Sendo que nestes tempos de deriva no lado força do rigor surge o “arquétipo universal” do cavalheiro de Marte – que no seu lado positivo – protetor - se torna em São Jorge que corta a cabeça ao dragão da escuridão (o monstro da entropia) mas que no seu lado negativo – destrutor se torna no Senhor Obscuro – que não controla sua própria sombra: sua ira maligna…
Sendo o protetor aquele, que na luta, encarna o homem espiritual que desperta, acorda no combate aos adormecidos povos – e o destrutor, o homem animal descontrolado que paralisa os impulsos renovadores…
Eis as oportunidades e desafios dos Crepúsculos: nascimento final da luz da alvorada após a noite – por meio da força amorosa dos protetores dos povos – ou chegada da luz que reciclara os restos após a partida dos cavalheiros do extermínio – A decisão como humanidade é nossa!
E o mais importante em estas situações é nunca cair no discurso pessimista – de nada ser já possível. Essa narrativa impede o vigor da mudança – por muito que este vigor, se tenha, por necessidade, as vezes, de mostrar rigorosamente duro…
Comentários
Postar um comentário