A Arte de Viver – por Artur Alonso

 


Venho de ti à Era

onde tudo é de todos:

os que chegam, os que se foram,

os que ainda não tem vindo,

os que já não voltarão

(Eunice Odio -do poema “Aprisionada pela chuva”)

Precisamos encontrar a “Arte de Viver” – entender a Ciência do bom viver, procurando a bondade que nos conduz à beleza da arte e a justiça entre as gentes, os povos e a paisagem. Sendo que esta ciência do bom, do bem e do belo pode, tal vez, ensinar-nos os meios para viver em harmonia com as leis da Natureza, e consequentemente, com as leis universais, das quais as primeiras se derivam.

Em nossos dias a tónica evolutiva da humanidade ainda esta governada pelo centro emocional, condicionando a mente racional ou “Kama-manas” - que quer dizer “mental Inferior” – pelas variadas alterações emotivas nas que ainda, a dia de hoje, navegamos. Isto significa que a Alma (ou anima, em latim) é quem governa nossa casa (interior e exterior):ao invés da própria alma ser governada pelo elevado Espírito. O Espírito - aquela consciência superior, que na tradição indiana é denominado de “Manas-Taijasi” – Assim, que devido a estes factos, o caminho da Mente Superior da Intuição, ainda em nossos dias não foi ativado.

O lema maravilhoso de que “a esperança da colheita reside na semente” tem em esta realidade atual uma importância transcendente – pois se trata de ajudar aos seres humanos para encaminhá-los de novo a senda adequada do Amor, paz, sabedoria. O caminho do Dharma – ou o percurso da Lei Natural e Cósmica. Nosso plano racional continua – dominado pelo astral ou emocional. Urge transcender essa armadilha, para que o Plano da Intuição da Mente Abstrata poda ser experimentado.


O percurso neste mar de profundas batalhas, nos tem ensinado que um ser humano com alterações emocionais profundas, navegando em seu plano astral mais baixo, não pode estar capacitado para ascender ao plano intuicional. E no caso, dele o fazer, por desenvolver certas habilidades psíquicas, que ainda não são próprias para sua evolução, – as consequências serão muito prejudiciais para sua pessoa, e também para as pessoas que o rodeiam e o meio onde se desenvolve sua atividade.

Para ultrapassar esta situação é preciso inserir, de novo, nas sociedades o ideal do transcendente.

O que transcende em cada ser humano somente pode ser conhecido por meio duma conexão com seu Espírito Imortal – Recuperar a conexão com o entorno, o silêncio preciso para comunhao interna. E, a partir daí, com todo quanto nos rodeia.

Nosso o seu corpo é efémero, como todo o material, e, pelo tanto, intrascendente. Nosso espírito, todos nós sabemos, intuímos o temos certeza, é imortal – No seio da grande mãe cósmica – ao lado do Pai - eterno.

Assim que para transcender é preciso que a luz da consciência elevada, seja recebida por nós.

Aqueles que tentem conhecer os “Mistérios Elevados” que libertam das prisões e dos grilhões do mundo, primeiro têm de estar purificados de todos seus baixos instintos.


A purga de todas as sujeiras do mundo é o primeiro passo para o conhecimento das virtudes.

Todo processo de iniciação do caminho da “Sagrada Senda” que leva a libertar a humana alma dos apegos da matéria passa, necessariamente, pela “morte mística” – Crucifixão ritual – Fixação na raiz do tronco sagrado – budhíco – onde olhando a morte sem ligar-nos a ela – podemos encontrar o ponto axial imóvel que conecta com o eterno e transcendente – naquele local que marca o silêncio entre as notas – Aquele oco de luz na fenda da noite, que foi procurar Odin ao pendurar-se do Freixo. O ponto que permite renascer na Alvorada.

A “Morte Mística” encerra a descida aos abismos infernais, onde as imperfeições mundanas serão primeiro purificadas com o fogo e, depois, pelo “batizado ritual” limpados os restos kármicos pela água. Finalmente o simbolismo da “Ressurreição” poderá ser atingindo.

Todo este processo é doloroso, íngreme, precedido de árduas batalhas, necessárias derrotas – e gloria final que qualifica aos vencedores de clico a ter a oportunidade – opção – de abandonar a “Roda do Samsara” – finalizar seu percurso na matéria… Desencarnar definitivamente – ascender como dizia o poema e Rumi – a condição “angelical” – ao mundo dos “devas”

Todos os grandes filhos dos Deuses – Avataras (do amor e do rigor) de todos os tempos – marcaram aquele caminho – da espiralada senda – que Jacob visionou em forma de escada – pela qual os ousados, perseverantes, disciplinados, corajosos e puros podem escalar tendo ganhada a hipótese do bom sucesso.

Este caminhar esta diretamente ligado ao “verdadeiro epicurismo” – como estado de plenitude e liberdade, obtido uma vez ultrapassado o medo – que permite viver na paz interior precisa para desfrutar dos prazeres moderados – que são os únicos que dão satisfação – ao estar isentos de apego.

Um espelho não guarda as coisas refletidas!

E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar, as imagens perdendo no caminho...

Deixa-me fluir, passar, cantar…

(Mário Quintana, do poema “Deixa-me seguir para o Mar...”)


O AMOR INCONDICIONAL – como base da Transformação

O momento do transcender condiz com aquele colocar-se no “Ponto Imóvel” arredor do qual todo gira, tal com descreve Joseph Cambpell nas “Máscaras de Deus”

O ponto, em que o ser humano encontra aquele Eu Superior – tornado-se a vez aquele unido em corpo-alma e espírito. Abrindo suas carnes para o Divino em nós - Aquela consciência pura - círculo da perceção total: o Todo (ao todo unido) – nos redima das tortuosas caminhadas, pelo vale das lágrimas. Voltando de novo ao Todo em todos e e todos.

O Todo que contem, dentro si – sem polarizar – a receptividade feminina e a vontade – semente – masculina. Alimentando dentro de si mesmo a união entre o masculino e o feminino. Aquele masculino e feminino que unido manifesta a filha e filho- equilibrados.

Contem dentro de si a sagrada “Árvore da vida” de todas as mitologias. O pilar da severidade harmonizado com o pilar da misericórdia, através do Pilar Central do Equilíbrio. As energias dos Pilares esquerdo (Severidade), direito (Misericórdia) e central (Equilíbrio) relacionadas, respetivamente, com os canais energéticos ou “nadis” do corpo – segundo o hinduísmo; chamados de: Pingala, Ida e Sushumna,

O Pilar da Misericórdia é considerado ativo, masculino e positivo, já o Pilar da Severidade é passivo, feminino e negativo. Nós precisamos desenvolver é o Pilar do Equilíbrio, o caminho do meio de Budha, equilíbrio entre Fohat e Kundalini – por meio do ar fresco de Pranha.

Qual é o caminho? Pergunta-se aquele que marcha, sem saber, pelo único caminho por onde ele pode chegar (Helena Liliana Popescu, do poema “Díz-me”)

Saber que somente é possível esse equilíbrio (que traz a paz interior) uma vez ultrapassado o medo – Se chegarmos a ultrapassar o medo – por meio da crucifixão ritual – do aceitar todas as provações dentro da neutralidade – mantendo o olhar dentro do “ponto imóvel” do que também falava Nicolau de Cusa – poderemos, em nosso momento, chegar a Iluminação do Budha – a ressurreição de Horus – Dionisio – Krisnha – Cristo ou Quetzalocalt...

E poderemos conhecer aquele paraíso descrito pelos poetas místicos como Rumi – aquele local Imortal do Amor Incondicional

”Em cada coração há uma

janela para os outros corações.

Eles não estão separados,

como dois corpos.

Mas, assim como duas lâmpadas

que embora não estando juntas,

sua luz se une num único feixe.”

Rumi nos seus escritos também nos pode ensinar a paciência da viagem – como uma das chaves mestras para ultrapassar alterações emocionais

“O ser humano é uma casa de hóspedes.

Toda manhã uma nova chegada.

A alegria, a depressão, a falta de sentido, como visitantes inesperados.

Receba e entretenha a todos, mesmo que seja uma multidão de dores

que violentamente varre sua casa e tira seus móveis.

Ainda assim trate seus hóspedes honradamente.

Eles podem estar limpando (sua alma) para um novo prazer.

O pensamento escuro, a vergonha, a malícia, encontre-os à porta rindo.

Agradeça a quem vem, porque cada um foi enviado como um guardião do além”

Por sua parte o místico Inb Al-Arabi – nos ensinou a entender a chave do amor compartilhado como essência da Fraternidade Universal

Meu coração tornou-se capaz de todas as formas:

Ele é como pasto para as gazelas,

é o convento do bom cristão,

Um templo para os ídolos,

a Caaba do peregrino,

O rolo da Torá e o texto do Alcorão.

Sigo a religião do Amor.

Para onde quer que avancem suas caravanas.

A religião do amor será

a minha religião, meu credo e minha fé.

Em inícios do século XX Max Ehrman nos deixou uma sugestão profunda para melhor realizar nossa missão dentro do nosso particular caminho – O nome deste texto guia: Desiderata

Siga tranquilamente entre a inquietude e a pressa, lembrando-se que há sempre paz no silêncio. Tanto que possível, sem humilhar-se, viva em harmonia com todos os que o cercam.

Fale a sua verdade mansa e calmamente e ouça a dos outros, mesmo a dos insensatos e ignorantes – eles também têm sua própria história.

Evite as pessoas agressivas e transtornadas, elas afligem nosso espírito. Se você se comparar com os outros você se tornará presunçoso e magoado, pois haverá sempre alguém inferior e alguém superior a você. Viva intensamente o que já pode realizar.
Mantenha-se interessado em seu trabalho, ainda que humilde, ele é o que de real existe ao longo de todo tempo. Seja cauteloso nos negócios, porque o mundo está cheio de astúcia, mas não caia na descrença, a virtude existirá sempre.

Você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores. Você merece estar aqui e mesmo que você não possa perceber a terra e o universo vão cumprindo o seu destino.”

Muita gente luta por altos ideais e em toda parte a vida está cheia de heroísmos.

Seja você mesmo, principalmente, não simule afeição nem seja descrente do amor; porque mesmo diante de tanta aridez e desencanto ele é tão perene quanto a relva.

Aceite com carinho o conselho dos mais velhos, mas seja compreensível aos impulsos inovadores da juventude.

Alimente a força do Espírito que o protegerá no infortúnio inesperado, mas não se desespere com perigos imaginários, muitos temores nascem do cansaço e da solidão.

E a despeito de uma disciplina rigorosa, seja gentil para consigo mesmo. Portanto, esteja em paz com Deus, como quer que você O conceba, e quaisquer que sejam seus trabalhos e aspirações, na fatigante jornada da vida, mantenha-se em paz com sua própria alma.

Acima da falsidade, dos desencantos e agruras, o mundo ainda é bonito, seja prudente. Faça tudo para ser feliz.

Lembramos, agora, que Desiderata tem como significado – Aspiração – coisas que desejamos, mas que ainda não existem. Etimologicamente deriva de “desideratus” - particípio passado de “desidero”: sentir a falta de, perder, desejar, esperar, procurar

Em essa procura todos e todas estamos, tentando encontrar o caminho – que nos conduz a luz, que é a essência de toda mudança.





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