A IMPORTÂNCIA DA PALAVRA DADA por Artur Alonso
"A palavra é meu domínio sobre o mundo" (Clarice Lispector)
Podemos imaginar que as 22 letras sagradas hebraicas e os 22 caminhos da “Árvore da Vida” – se entrelaçam com os 22 arcanos maiores para sinalizar um centro determinado de energia. Centro de onde tudo promana – O Ain Soph – sem limite – que ao promanar – impulsar o sopro da vida - gera os números e letras que limitam -
Tendo em conta que as letras sagradas, como os números e seus correspondentes arcanos representam arquétipos: estes segundos do comportamento individual e coletivo; aquelas primeiras das ideias transmitidas pela linguagem original – daí ser nomeadas de sagradas ou divinas.
Todas as línguas que pelo uso culto do Alto Sacerdócio Druídico foram ativadas na sua essência mística, são, a efeitos da magia ritual, da fala dos poetas, da voz elementar, sagradas. Como sagradas eram as “runas” celtas associadas aos bastões do “Ogham” – ligados ao calendário lunar celta de 13 dias.
A palavra “runa” poderia ter uma origem etimológica diversa. Segundo o dicionário Priberam poderia vir do francês rune, do norueguês rune, do gótico runa, significando como segredo, mistério, escrita secreta. Um possível origem etimológico seria do protoindoeuropeu: reu - com significado de "rugir e sussurrar" – No inglês antigo “run” nos fala também de um conselho secreto.
Vemos aqui o alfabeto que compõe as palavras ter uma ligação mística que segreda, sussurra, subtilmente nos fala dum mistério: algo misterioso que nos pode trazer um conselho secreto – algo como místico. Sobre o termo místico - Jacob Böhme no seu livro "O Príncipe dos Filósofos Divinos" nos fala como significando uma religião, no sentido de religar nossa atenção com o Eterno - transcendente ou Deus. Dando-lhe aqui as letras uma mística que, em sua união inicial poderiam ter formado as palavras sagradas ou divinas.
Deste jeito ao unir as letras e formar as palavras mísitcas, estas se transformam no plano Astral em possibilidades, com capacidade de materializar-se no plano físico, sempre que o Druida instruído na “Conhecimento Primordial” pronunciar as mesmas e ativar seu comando, em um determinado momento, em um determinado ambiente.
Pondo determinado verbo em ação; e dizer; vibra -ação – ação vibrando - acontecendo. A palavra vibra, tem som e cria uma frequência – ação, que interage com outras frequências em outros campos eletromagnéticos, atraído aquelas mais similares, mais semelhantes- Aqui a ação vai tomando forma: formação.
Passamos em este processo por três mundos cabalísticos: o da Emanação em Aztiluth (inicio da pronúncia), o da criação em Briah ou Beriah (palavra já pronunciada – ativada- gerando uma ideia determinada) e o da formação em Yetzirah (ideia materializando-se) – Aguardando o quarto momento de tomar consciência - existência no plano físico do mundo de Assiah – daí na numerologia o 4 estar associado a fisicalidade. Aquele 4 dos 4 pontos cardeais que delimitam o espaço.
Essas palavras de poder podem ir associadas, também, a uma certa realização naquele plano material nas que foram invocadas (podem ser pronunciadas na inauguração dum monumento). Podem estar associadas a um desenvolvimento individual (mudança na psique de personalidade). Podem ir associadas a um desenvolvimento coletivo (plantação no plano mental de uma determinada Egrégora)…
Eis por que o Druida iniciado nos mistérios a criação utiliza sempre a palavra poética – como forma de expressão - pois tal como a denominavam os povos originários do Anahuac, no México – a “flor e canto” – a voz poética contem o aroma ou essência e a vibração adequada a mesma essência – e dizer o canto.
Ao emitir a palavra dá-mos voz, presença a ideia que queremos realizar. Essa voz da-lhe a modulação – força, suavidade… Determinada ondulação aquele som emitido. A energia com que a palavra é emitida fixa no plano físico sua afirmação maior ou menor, segundo o poder da pronuncia e as vezes reiterada.
As letras carregam uma determinada energia. Combinadas numa palavra, combinadas as palavras numa frase, criam uma outra determinada energia, pelo geral muito mais poderosa: encontramos, aqui, o poder da sugestão: o mundo sugestivo da palavra oral e escrita – trabalhando na noosfera e na nossa psique.
Isso deve fazer-nos reparar sobre as palavras e frases que pronunciamos em relação a nós mesmos; pois elas tem o poder de moldar, determinar nossa pisque presente e preparar-nos para as nossas provações e retos presentes e futuros.
Do mesmo jeito o pensamento e pronuncia de viva voz molda, modela, nossa perceção da realidade e, tem a capacidade de somatizar (segundo a frequência e insistência em determinados pensamentos, nascidos de determinadas emoções) no nosso próprio corpo; criando doenças ou afirmando nossa saúde.
Olha os avanços em neuro-ciência, quando já nos advertem que a dor se sente no cérebro – pois a reação dolorosa é produzida no sistema nervoso central, num eixo que compreende cérebro e medula espinhal. Sendo já um facto científico que a forma como pensamos, compreendemos nossas circunstancias de vida; percebemos como e onde estamos inseridos no nosso entorno e, o jeito como nos comportamos, influenciam diretamente nossa sensação e perceção da dor – Daí o poder da palavra expressa nossa forma de ser e estar no mundo. Uma palavra pode aliviar outra ou a mesma palavra usada noutro contexto pode ferir, semear dúvida, incerteza ou mesmo irritar. A palavra que encoraja, mal utilizada pode desencorajar…
A palavra pode, pois, danar-nos, mas também libertar-nos, abrindo processos de sanação, se a emoção e o pensamento associado em nossa psique trabalhar com insistência, paciência e convicção, sem fanatismo, no processo de mentalizar a cura – por meio de afirmar-nos saudáveis.
Diz o Dhamapada, o livro da “sabedoria do Budha”: “A mente antecede todos os estados mentais. A mente é o seu criador, pois são todos forjados pela mente. Se uma pessoa fala ou age com uma mente impura, o sofrimento segue-a como a roda que segue o pé do boi (...) A mente antecede todos os estados mentais. A mente é o seu criador, pois são todos forjados pela mente. Se uma pessoa fala ou age com uma mente pura, a felicidade segue-a como uma sombra que jamais a abandona”
Sendo que a palavra é a transmissora das emoções que reflexam o estado mental. A palavra pode ser como um punhal que fere e somatiza.
Somatizar, segundo o dicionário Estraviz, é manifestar doença orgânica provocada por problemas emocionais. A manifestação se realiza no plano Astral (é dizer no emocional plano da psique) em início, passando ao mental (é dizer o plano racional) por meio das emoções ligadas aquele campo astral, que podem desenvolver pensamento negativo ou positivo naquele outro plano mental: o espelho da ração. Influenciando assim as reações químicas do nosso cérebro.
Estes planos supra-racionais foram estudados por insignes mestres espirituais de todos os tempos. Livros sobre o tema temos, a dia de hoje, os suficientes. Como exemplos o clássico “O Conceito Rosa-Cruz do Cosmos” de Max Heindel; teosóficos como os do Coronel Olcolt e seus textos sobre o “Plano Astral” e “Plano Mental” ou os imprescindíveis “Cadernos Fiat Lux” do grande pesquisador brasileiro Roberto Luciola, onde nos fala além do Plano Astral e Mental, se fala do resto dos planos supra-racionais que conformam o Universo não-visível
Sem esquecer os estudos feitos pelo filosofo indiano Sri Aurobindo, que complementaram os trabalhos de Sigmund Freud e Carl Jung. Enquanto Jung reparou no sub-consciente, Sri Aurobindo estudou o supra-consciente, afirmando cousas tao extraordinárias como: “O homem vive em uma consciência mental entre um vasto subconsciente, que é para sua visão uma escura inconsciência, e um vasto super-consciente, que ele é inclinado a tomar por uma luminosa inconsciência. É nessa luminosa super-consciência que repousam as extensões da sua supra-mente e do seu espírito”
Assim que temos de mentalizar que como faiscas, que somos, de luz do fogo cósmico “Agni”; como centelhas divinas do Corpo Total da Divindade Criadora ou “Logos” – pedaços, frações daquela “Inteligência Cósmica” – temos capacidade também de co-criar …
E onde primeiro usamos esse poder co-criador, sabendo ou não, é em nosso entorno imediato, começando por nós mesmos. Assim que cuidado com as as influências que nossas emoções e os pensamentos por elas criadas, podem tecer no nosso corpo, pisque e no meio ambiente em que nos desenvolvemos, por meio da palavra. Podendo afetar a família, amigos, companheiros de trabalho…
Se entendermos, bem esta questão, entenderemos bem por que ainda vivemos no meio de tanta guerra, confronto, agressão – devido precisamente aquelas emoções alteradas interiores, que descarregamos no exterior, na forma inicial de palavras violentas que levam a ações violentas. O que demonstra, sem dúvida, a baixa tónica evolutiva das nossas sociedades, que tem avançado muito cientifica e tecnologicamente, pero pouco no controle da nossa própria psique.
O mesmo Roberto Luciola nos indica no seu caderno Fiat Lux nº5: “O nosso Eu Divino, a Tríade Superior formada pelo conjunto Atmã-Budhi-Manas, para adquirir experiências nos Mundos formais cria uma Personalidade constituída por matérias do Mental Inferior, do Astral e do Físico. Isto implica num comprometimento da parte divina do ser com a parte humana. É precisamente o Corpo Mental o elemento comprometido, por ser o que estabelece a conexão entre o Eu Superior e a Personalidade” – O que nos dá pé a nós para advertir aos humanos seres de terem cuidado de pronunciar ou levantar aquelas “falas testemunhas” e de vigiar seus sentidos. Dado esse corpo mental racional, vai processar nosso estado emocional, e emitir de voz as palavras que refletem aquele mesmo emocional calmo, inquieto ou verdadeiramente alterado.
Aprimorar nossas emoções e advertir o por quê e através de quê nascem aqueles pensamentos mais destrutivos, se torna vital para nossa saúde, e para nossa saudável convivência com aqueles que nos rodeiam.
Devemos, se for o caso, procurar o conhecimento e auxilio de profissionais da psicologia e livros ou textos percetivos de referência, para tentar mudar toda emoção negativa e toda negatividade acumulada em nosso campo Astral-Emocional, antes de chegar a nossa mente; porque essa energia densa se acumula também no nosso coração. Criando problemas em nossa evolução: limitando nossas capacidades e a vez nossas possibilidades. E podendo tornar nossa vida e das pessoas que nos rodeiam em dor verdadeira, envolvendo-nos em um tempo continuo, dentro dum campo de inúmeras batalhas…
O conhecimento das letras sagradas, e da formação das correspondentes palavras sagradas e palavras de poder, nos pode auxiliar na procura de alcançar a abstração, por meio do exercício da razão pura. Podemos então desenvolver uma melhor intuição, elevando nossa mente aos planos mais sublimes.
Toda língua tem um sentido oculto, não por que haja nada que ocultar, se não porque toda língua contem um significado místico, profundo, que dá sentido a linguagem magica e sagrada que cada língua, ao longo dos séculos, desenvolveu e, que cada pessoa tem de descobrir dentro de si, procurando os caminhos e chaves que acedem a esse saber sagrado.
No património cultural mais profundo, de cada povo, se encontra esse conhecimento.
O galego-português como um língua de relevância espiritual no passado, presente e futuro, contem esse legado druídico, cabalístico e teosófico, que transmite a nossa cultura comum oceânica o saber milenar primordial de todos os tempos.
Oceânica por que os povos que compartilham essa comum língua, fincam sua voz, em todos os continentes, em todos os oceanos…
Por isso vamos cuidar nossa linguagem. Observar que as palavras emitidas por nós correspondem a um certo estado de animo. Vigiar nossas construções emocionais, delas dependem as palavras emitidas e os pensamentos. E saber que todo este desenvolvimento influencia nossa saúde, o meio em que nos desenvolvemos e a gente com que interagimos, assim como a gente a qual amamos…
“Segundo os cabalistas, nada chega ao mal na natureza; o mal é sempre absorvido pelo bem; as cascas mortas podem ainda ser úteis quando amontoadas pelo lavrador, que as queima e se aquece ao seu calor, depois faz de suas cinzas um adubo nutritivo para a árvore, ou, então, em se putrefazendo ao pé da árvore, elas a alimentam e retomam à seiva pelas raízes. Nas ideias da Cabala, o fogo eterno que deve queimar o mal é, pois, o fogo regenerador que o purifica e, por meio das transformações dolorosas, mas necessárias, o faz servir à utilidade geral e o devolve eternamente ao bem, que deve triunfar. Deus, dizem os cabalistas é o absoluto do bem, e não pode haver dois absolutos: o mal é o erro que será absorvido pela verdade; é a casca que, apodrecida ou queimada, retornará à seiva e concorrerá, de novo, à vida universal” (Do livro “A Cabala: tradição secreta do Ocidente” de Papus)
Procuremos então falar as palavras belas da bondade, do amor, da justiça e da fraternidade, para que o Bem governe e o mal se recicle dentro da nossa natural alma.
Aqui a reler teu belo texto e confirmar a importância das palavras ditas/escritas.
ResponderExcluirUm alerta sobre a importância de sermos cocriadores da realidade nessa dimensão física, bem como já realidade invisível.
Gratidão 🌹
assim é prezada amiga. Grande e fraterno abraço
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