O CAMINHO DA REINTEGRAÇÃO - por Artur Alonso

 


O caminho de descoberta que é a vida, nos monstra a "Jornada do Herói, da Heroína" da que nos falou Joseph Campbell: aquele transitar intrascendente, do início, até chegar, pela consciência, ou pela força de fazer caminhos, a descoberta do Transcendente


Carl Jung estudou os arquétipos do Livro de Thoth ou Taroth (que encobrem o saber da Torah ou Lei). Não aqueles dos adivinhos corruptos em procura de ingénuas almas para alimentar seu desejo de obter lucros a costa destes humanos infelizes. Devemos entender o que Campell nos transmitiu, ligando nosso percurso ao percurso dos arcanos, maiores e menores, junto com os estudos por Jung, em esta linha, realizados. Este conhecimento é mesmo que obtem aquele que realizou seus 12 trabalhos de Hércules - Herácles, os 12 passos do "Nucteremon" da Apolônio de Tiana; a metamorfose de  Siddartha Gautama ao voltar-se Sakyamuni o Buda, de Yeshua Bem Pandira ao encontrar-se o seu Cristo interno; de Lugh ao achar a luz da estrela da manha dentro de si; de Quelzalcoalth ao  descobrir a Toltecayotl; ou de Krisnha ao revelar sua iluminação a Arjuna, no sagrado "Baghavad Gita".


Em definitiva o significado do "caminho iniciático" que todo ser humano dever percorrer para sua transformação e libertação da sua alma, encarcerada pela atraçao do desejo (o Narciso enganado pelo reflexo nas águas do rio da vida). Desde o louco, que se desconhece ate aquele desvendar de todos os véus que ocultam nosso verdadeiro ser, e não nos permitem ver a realidade. A "Matrix" ocultando a verdade.


O louco atravessa, confuso e desorientando a dualidade pessoal presente no "Mago" e na "Papisa" Entende ser esta polaridade uma projecção da dualidade Cósmica Maior da "Imperatriz" e do "Imperador" - Dualidade cósmica desenvolvida no seio do "Deus Homem-Mulher" - o "Parabramha" indiano (Não Ser - Não - Manifesto, Não-Monádico e que, no entanto, contem em latência, dentro de si, todas ás mónadas). Não Manifesto Parabramha que para manifestar-se teve de transformar-se no Bramnha - Uno-Triplíce. A Trindade de todas as mitologias - onde o Pai Cósmico, aqui representando pelo "Imperador" introduz a semente sagrada no útero sagrado da Mãe Cósmica, aqui representada pela "Imperatriz" para dar a luz os mundos: os Filhos e Filhas, aqui representados pelo "Mago" e a "Papisa"...


Essa dualidade em conflito descobre o caminhante em procura da verdade pode ser neutralizada pelo amor dos "Namorados" (que se for somente corporal, traz uma felicidade incompleta). Segue avançando em seu "carro" (o carro representa a inércia) e aprende a desenvolver suas realizações através do afecto protector e serviçal, descobrindo certo impulso vigoroso.

Entende na sua rota de descobertas (a sonhada "ilha dos namorados" de Camões") o valor da "justiça", o sentido da lei, que permite aos humanos deixar de viver sem rumo.

Aqui, acende dentro de si a primeira chama do "candeeiro guia" do "Eremita", descobrindo mais tarde na "Roda da Fortuna" o significado da "Roda do Samsara" - e as cadeias que atam e condenam ao seres humanos, pelas suas eleitas ignorantes, a "reencarnação" ate achar a perfeição. De não encontrar a senda da perfeição a encosta da perdição se assoma desde o abismo. O medo aqui nos pode evitar deixar-nos cair ou esbarrar por ela.


Assume, depois, que o impulso das tendências, negativas e positivas, do carro - deve, no seu interior, ajudar a ativar a chama: a energia moral, a calma e a coragem, se quiser seguir a frente dentro do labirinto obscuro dominado pela brêtema (O labirinto do Minotario, ao qual somente Teseo pode descer ao estar sustentando pelo fio de Ariadne). Esse ativar da calma, com a moral ética da coragem, permite emergir do lago a "espada céltica" da vontade, que é entregada pela Senhora das Águas aqueles bons e generosos: os justos, que foram purificados pela sua honesta caminhada (a trajectória dos esforçados).


Com a espada da vontade resulta mais fácil, para nós, abrir a senda do Espírito que tem a capacidade de controlar as paixões e distinguir (com a mente sossegada) o verdadeiro do falso. Podemos, com mais segurança, utilizar o poder físico que auxilia na determinação, precisa, para vencer ou contornar os obstáculos e pedras que são naturais em todo caminho. E, finalmente, chegar a exercer um domínio harmónico sobre os trabalhos que são necessários fazer no plano material: modelar a pedra cúbica ate achar, na escultura, o reflexo da Pedra Filosofal que nos conduz ao encontro com a nossa divina essência.


Preciso será passar pela "crucifixão ritual" (Via Crucis), inscrita no "Pendurado", para entender que a entrega - o sacrifício pessoal encaminhado ao cumprimento do dever - permite germinar a semente do futuro: morrendo para o material, pendurado cabeça abaixo.

Renascendo para o espiritual elevado cabeça arriba.


Na descida penetramos no abismo das nossas sombras: nosso inferior - Inferno. Sendo encadeados aos nossos demónios internos; ate com grande sofrimento, primeiro pela aceitação e depois pela transformação, tornar nossos demónios em anjos. O lúcifer voltado Cristo, o Huitzilopochtli tornado Quetzalcoalt; o Seth convertido em Ossíris (por meio dos esforços de Horus)... Renascendo então na elevação da "águia", do "falcão" que pode visionar o mundo desde as alturas.

Na "morte" é que se realiza esse processo alquímico (das Bodas de Christian Rosenkreuz) de abandono dos "velhos hábitos" nocivos. Se morre para os apegos materiais, se renasce para comunhão espiritual.

Vamos a encontrar-nos depois com a "Temperança"- o espírito da conciliação que permite unir as velhas falsas polaridades, encontrando as afinidades entre as mesmas. Na ausência de paixões já nos é permitido realizar bons julgamentos. Desenvolvendo tolerância, paciência e resiliência


Encontramos, atrás, no espelho ao "Egoísta" - aquele "Diabo"

O diabo que não se preocupa com o bem, o bom e justo. O diabo, que dentro de nós, vivia na inconstância, na avidez de quem procura por todos lados novas atrações, para saciar sua sede de desejos. Mas estamos alegres de haver abandonado estas ciladas e enganos (que foram, em determinado momento, precisas para nossa aprendizagem).

Em retrospetiva vemos a "Torre" - o "Atalaia de Marfim" onde estávamos aprisionados, alimentando com nosso medo ideias fixas. Identificando-nos com nossos ideáis, como se nós fossemos eles. Vemos, ali retido, ao dominador que tentava exercer seu controlo déspota sobre os filhos, família, amigos, empregados, companheiros e companheiras de viagem...


E como resultado de ver este nosso "velho interior" ser removido, o herói - heroína abre no centro da sua frente a estrela da alba (aquela que Castelão refletiu no caminho coletivo da Galiza - aquela que Curros colocou na frente de Rosalia).

Na "Estrela" de novo é possível a conexão com a natureza. Em equilíbrio emocional, inspirado pela mente intencional ética o peregrino em procura da luz (o herói - a heroína) pode conectar-se, desde seu interior (em comunhão com a natureza) com todo o Universo: o micro-cosmo unindo-se ao Macro-Cosmos.

Atinge assim no "Sol" a glória do Altruísmo. O "Julgamento", a sua vez, o prepara para retornar ao Estado Superior do Ser - onde a Reintegração é possível - A devoção do coração aos outros aberto realiza o pertinente exame de consciência. Aqui a antiga dúvida existencial, na presença do Ser Espiritual (com a Shekinah em todo seu corpo brilhando) desaparece. O Sol da verdade, a justiça e bondade no seu peito para sempre permanece e sobre toda sombra a luz prevalece.

No "Mundo" a reintegração do uno individual temporal - com o Todo Eterno se concreta. A união amorosa trunfa. A Alma fica livre de Macula - Liberta!



Comentários

  1. Fascinante viagem, Amigo, a química hormonal e emocional responderam a esta prenda dos Amigos mais velhos, ABRAÇO FORTE NO CORAÇÃO, Amigo.

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    1. Agradeço imenso o profundo coméntario. Vamos refletir nessa prenda dos amigos mias velhos

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