ARTUR, REI URSO – Símbolo da Reintegração na Origem - por Artur Alonso

 O círuclo da Tabula 



Os 12 cavaleiros da Tabula Redonda, das lendas celtas artúricas, ligados aos 12 signos zodiacais relatam o esforço humano (trabalho interno de transformação do ser – associado ao trabalho externo de transformação da sociedade), para iniciar o caminho do retorno: reintegração na Origem.

Em 1925 Katherine Maltwood descobre ao sul de Glastonbury um conjunto de figuras colossais, que representam os 12 signos zodiacais, ligados a saga do mítico Rei Artur.

Poderíamos aqui falar também de uma espécie de local geográfico espiritual, com seus contornos bem definidos por rios, colinas, trilhas, pequenos vales e aterros. Tal vez em seu dia tiver um uso cerimonial, mas hoje não podemos afirmar com certeza…

No centro deste local o famoso Zodíaco de Glastonbury, aquele círculo de efígies, de 16 km de diâmetro, rodeando seu perímetro de 48 km por colinas, vales suaves e presença do elemento água. Água, ar, terra... Somente falta o fogo no centro, para o local ser consagrado pelos quatro elementos alquímicos. Mas o fogo dentro da terra – com a Senhora do Território, o anima.

Para a escritora canadense Maltwood não existia dúvida de este local representar o ponto axial onde a a famosa “Tabula Redonda” teve sua presença.

Artur aqui, em este círculo, ocupa o lugar de Sagitário, identificando-se com o Sol que todos os dias torna e retorna. Identificando-se com o filho Lugh (o Avatara Celta), que também torna e retorna. O simbolismo da morte solar e a ressurreição: a batalha entre a luz e as trevas.

Gémeos, lembra a Galahad o perfeito cavaleiro, sem mácula: único que pode constestar as perguntas do Santo Graal e beber da sua taça. Galahad pode sustentar a espada da vontade na vertical perfeita. Seu pai Lancelot era um cavaleiro invencível, no entanto seu amor (ainda que completamente espiritual) por Guinevere (Genebra), cria um apego a matéria, ao simbolizar a pureza espiritual num corpo humano. Esse apega impede a correta evolução, pois toda correta evolução é sem apegos e sem rejeitar. Animadversão e apego são as duas grandes sombras que tem que combater o ser humano, os dous lados puxantes da polaridade a ser neutralizados (como nos ensina o sagrado livro indiano do “Baghavad Gita”).

O nobre cavaleiro Balin é um exemplo de tentativa de utilizar a espada da vontade dominado pelo medo a dúvida: o medo de sentir medo - criando um medo contra-fóbico que não permite atingir o equilibro. Em este caso a desarmonia vai reinar dentro dum carácter colérico, carregando as ações impulsivas de Karma, e dizer ligação de causa – efeito, a ser pago no devir dos futuros acontecimentos.

Sendo que outros signos se iram associando aos distintos cavaleiros, para desenvolver o conceito oculto duma espiritualidade profunda, dum cristianismo que vai manter viva a raiz evolutiva celta.

Marcando-nos um “caminho do herói” para nossa transformação interna como ser humano e externa como coletivo – sociedade.

Sendo Galahad o exemplo do cavaleiro perfeito, equilibrado, livre de karma.


O culto do Graal

No ano 1135 Geoffroi de Monmouth publicou "História Regnum Britanniae" (História dos Reis da Bretanha). O poeta anglo-normando Wace, vai traduzir este texto para rainha Alienor.

Chrétien de Troyes vai dar um impulso definitivo a chamada posteriormente "matéria de Bretanha", que vai influenciar o imaginário coletivo da Europa ate bem entrado o século XX.

O mito literário vai tornar Artur um "herói espiritual" símbolo do soberano ideal, virtuoso e justo.

Sem as figuras femininas de Leonor de Aquitânia e sua filha Maria de Champagne (a qual Chrétien dedicou seu “Lancelot”) a novela artúrica não teria a difusão precisa. E quando falamos de Leonor de Aquitânia estamos a falar de uma mulher culta, educada e espiritualmente avançada que soube manter uma certa independência em um mundo governado por homens.

A tradição do Graal e a procura da eternidade espiritual transcendendo do efémero material é a forma, pela qual o conhecimento Primordial toma na cultura atlântica europeia do século XII, através da literatura, um veículo para seu espalhar seu brilho. Contendo esta difusão literária oculta aquela Tradição Primordial e busca do espiritual eterno, da qual já temos referencias desde o mesmo poema épico de Gilgamesh, na Mesopotâmia: uma das primeiras obras da literatura universal (cuja datação pode mesmo chegar a 2000 anos a.C). Uma obra de carácter iniciático.

A Taça do Graal lembra, por sua vez, aos Caldeirão mágico da espiritualidade celta.

E muito do sagrado celta pode ser observado neste cristianismo sincrético da tradição artúrica.

Os druidas trabalham os diversos aspetos do Eterno Uno-Todo, por meio das suas manifestações divinas. Sendo uma das tríades celtas Belenos – Taranis – e Hesus. Aquele Hesus (filho de Deus) tem também suas semelhanças como o Yesua, o filho de Deus do novo testamento: Hesus- Yesus – Jesus… Um mesmo principio adaptado a duas formas culturais diferentes, mas não contrapostas.

A tríade São José – Maria – Jesus, pode ser encarnada, de forma velada, na tríade Artur – Guinevere – Galahad. Sendo Lancelot o Gabriel anunciador – Guinevere a virginal esposa e Helena de Carbonek o aspeto puro de Guinevere, invencível as tentações… E Artur o carpinteiro que trabalha na construção de seu próprio templo sagrado - e na construçao da Jerusalem Terrestre - cidade da paz, do amor e a justiça - Cameloth.

Muito e diverso é o simbolismo espiritual escondido, adrede, por personagens com acesso a conhecimento Primordial, nas sagas artúricas. Que como as sagas nórdicas, de cujo conhecimento aquele “Anel dos Nibelungos” (Der Ring des Nibelungen) que o compositor Richard Wagner soube sintetizar em quatro geniais operas épicas... De novo na busca pelo eterno: transcender o efémero

Galahad e Percival fazem aqui as vezes do mito grego de Cástor e Pólux. Sendo Percival o gémeo mortal (Cástor), de algum modo salvado aqui pelo seu Gémeo imortal Galahad (Pólux); pois pela influência da senda perfeita de Galahad, Percival apesar das suas quedas humanas, chegará a ver o Cálice Sagrado, mas não estará ainda na perfeição (sem mácula) que lhe permita beber do mesmo…


O caminho da Vontade

Seguindo o itinerário zodiacal, com Gawin como Áries, o primeiro cavaleiro, o fogo original preciso para iniciar os trabalhos que conduzam a reintegração final na Origem; vemos que a espada da vontade joga um papel primordial como impulso para o caminho, seguindo o magnético atrativo do horizonte.

A Escalibur interior encravada na pedra mítica da coluna vertebral, fixada a pedra do cóccix é o elemento vital na transformação individual. Enquanto a Escalibur exterior retirada da pedra material marca o caminho para lutar – transformar – uma coletividade – sociedade em procura do bem, da bondade e a harmonia que traz a beleza e a justiça.

No entanto a má utilização da espada da vontade espiritual, pode conduzir a involução ao invés da evolução. Assim aconteceu a Artur, quando para vencer a Lancelot, vai ser tentado a utilizar os poderes mágicos de Escalibur, para uma ação egoísta. No lance a espada do poder vai ficar quebrada.

A rotura da Espada de Poder simboliza a quebra de Artur no Astral do seu astro-soma ou forma espiritual virtuosa, criando uma nova forma desequilibrada.

Fazendo Artur baixar sua vibração, pois a força espiritual da vontade somente pode ser utilizada em favor da transformação individual e coletiva. Quando Artur emendar e se arrepender a Dama do Lago, senhora das Portas que conduz a iniciação, devolver-lhe-há a espada já completa.


A Senhora das Águas

A Dama do Lago, representa o Poder Feminino do 2º Trono da Mãe Cósmica, na sua correspondência no mundo intra-terreno (a nossa Rainha Lupa do Pico Sacro galego). No interior espiritual de Gaia descansa. Ela pode consertar a espada da vontade e do poder. Ela tem a faculdade - postestade de abrir e fechar portas entre o mundo exterior material e o mundo interior (intra-terreno) espiritual. As águas fazem de linha divisória entre a terra acariciada pelo fogo solar e a terra interior desde onde irradia o fogo vulcânico espiritual (No caso da Rainha Lupa a divisão é feita pela Cova).

A Dama do Lago representa também a Almirall intra-terrena, senhora e guardiã da espada da vontade e o poder.

Allamirall - Almirall - que provem do árabe Amir Al-Ali ou “Grande Emir”, passando para o francês no sentido de “comandante de frota”, palavra da qual deriva almirante. Tendo a etimologia também de “aquela que olha ou mira para o mar” E dizer a representante do Feminino Sagrado que Olha para o Mar – Oceano Cósmico, que se reflete nas águas – do – oceano terrestre…


O Rei Urso

Artur o “Guardião da Ursa”, ligado a Constelação da Ursa Maior, ligado a “estrela venusiana da manhã” – a estrela de referência do Lúcifer caído, mas também do Cristo renascido. Pelo tanto o Rei Urso tem sua associação com os trabalhos de reintegração à Origem, de nós, o caídos nas atrações, distorções e distrações materiais, a espera da reincorporação à Fonte Espiritual de onde provimos.

E as aventuras de Artur e seus cavaleiros, que não são mais que aspetos das fases evolutivas da transformação individual do mesmo Artur e coletiva das sociedades que aspiram a trazer o Reino dos Céus à Terra, tem a ver com esse conhecimento hermético que pode abrir as portas da Ilusão para integrar-nos de novo da Realidade Velada por Maya. Fazer cair os “véus de Issis” como apontava em seu livro Helena Petrovna Blavatsky

Sir Heitor, representante da constelação de Touro, o protetor, resguarda nosso caminho.

Na Constelação de Câncer, vemos a abobada da deusa egípcia Hathor, a barca dos Argonautas, o Caldeirão da deusa celta Ceidwen, dando continuidade as espirais das galáxias.

Lancelot o guerreiro vitorioso desperta o Leão em nós e, com ele no peito, avançamos.

E assim Artur e seus cavaleiros vão fazendo sua rota em procura da eternidade, guiados pelo Urso, com sua sensibilidade, intuição, vigor e poder físico. Caindo e erguendo-se. Simbolizando o caminho interior do ser humano e exterior dos povos, com seus ciclos diversos, na procura de conduzir-se ate um patamar superior onde a verdadeira fraternidade possa ter começo.

Camaradagem somente realizável uma vez os seres humanos tenhamos polido nosso ego e, pelo erro e horror das guerras abandonar a senda de todo tipo de violências.

O Urso é destemido, mas também acolhedor, recetivo mas também sabe avançar – progredir.

Em todas estas experiências, através dos anos, séculos, ciclos, ele deverá chegar finalmente a encontrar, dentro de si, o Equilíbrio.

Artur simboliza o próprio sol e os ciclos individuais e coletivos da renovação. Ele morre em dezembro – acolhido pela velha mãe: a Anciã dos dias – a divindade feminina encarnada na terra e natureza, que no Inverno descansa nos mundos internos (a terra fica erma – despovoada de vegetação).

A 21 de dezembro na noite mais longa o sol decresce. A partir do 25 de dezembro o “Sol Invitus” se ergue, e começa a prepara em Janeiro entrada de ano e seu novo percurso pelo zodíaco, para ganhar na matéria experiência.

Os ciclos dos seres humanos, povos, impérios também simbolizam a procura de Artur e seus cavaleiros pela Imortalidade.


O Caminho de volta – reintegração à Origem

O caminho de volta somente pode ser feito uma vez vencidos os medos do próprio caminho, que é criado por nós ao caminhar. Em este sentido somente o verdadeiro amor pode dar a fortaleça, flexibilidade, perseverança, resiliência, capacidade, valor e vontade para ultrapassar os medos. As provações são impostas no nosso andar para testar esse amor – se for ou não concretizado. Se ainda teremos de seguir trabalhando, em novos caminhos, em novas vidas ou, se finalmente, teremos atingido a meta e, o retorno – reintegração fica no horizonte aberto.

Lembremos que a ciência cabalística da “guematria” nos ensina que palavras que tem o mesmo valor numérico tem uma relação ontológica, que as une.

Assim a palavra Uno em hebraico Ejad tem o mesmo valor numérico que a palavra Amor Ahavá, o que nos indica que somente desenvolvendo esse Amor Elevado (por meio de encontrar a chave do conhecimento que o concretiza) - esse Amor Supremo que pode vencer a todo medo, poderemos retornar à Origem: a Unidade – o Uno.

No caminho de regresso nossa Alma é aprimorada, para escalar a um patamar mais luminoso e alto, de aquele do qual partimos.

Esse é o sentido das nossas vidas: a Reintegração na Fonte Una – através de desenvolver, no caminho, o Amor mais Elevado – O Amor mais Elaborado!

A palavra Ejad – Uno tem o valor de 13; a palavra Ahavá – Amor também o valor de 13

(13+13:26 – 2+6:8) A Unidade somente se pode concretizar com o Amor. O Amor inerente a Unidade – formando a Unidade Amorosa tem o valor 8 – O Infinito.


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