O DIVISOR DAS AGUAS – por Artur Alonso

 


"Não é justo aquele que julga às pressas, ou usa da violência; o sábio serenamente considera o que é certo e o que é errado" (Dhammapada, verso 256)

A humanidade está a cruzar um divisor de águas, elemento de separação, ponto de inflexão ou mudança, que permita unir, pela essência – no final do caminho – aquilo que previamente, pelo desconhecimento foi “artificialmente” separado

Neste mundo de contraste, onde todos os humanos, junto ao que nos rodeia somos espelhos que, nas suas cintilações, vamos abrindo a consciência, paulatinamente, contemplando-nos uns aos outros – Contemplando-nos uns nos outros.

Neste mundo de contrastes a ideia de viver muito polarizados: esquerda – direita; bem- mal; calor – frio… nos afasta de entender, que essa suposta contrariedade não deixa de ser uma diversa gradação dentro duma mesma caixa de medidas: frio e quente estão oscilando no mesmo termómetro…

E todo tem sua relatividade – sendo essa dualidade, na que as vezes nos identificamos com uma das suas polaridades: a esquerda ou a direita, no político… nada mais e nada menos que dous ramos da mesma árvore. Duas planta nascidas da mesma raiz.

A unidade – dividindo-se em dois para gestar a multiplicidade. Mas essa dualidade, tem de unir-se para criar um terceiro – como o pai e a mãe se unem para poder ter um filho, filha…


Unidade – e – aparente Dualidade 



Os nomes desses dois mundos variam entre os diversos povos, mas a essência da conceção é a mesma. Na tradição zervanita dos persas, todas as coisas têm um duplo aspeto: o mênôk, invisível, e o gêtîk, captável pelos sentidos. Assim, fica provido o Universo de uma dupla face: a terra em que vivemos é mero reflexo de uma terra celestial; o mesmo ocorre com o mar, o céu ou a montanha; o sol que estamos acostumados a ver é simples manifestação de um outro sol, oculto "sob" o sol aparente” (do Livro “A linguagem dos Deuses” de Antonio Farjani)

A tradição teosófica bebe desta fonte (da unidade do dual – complementariedade da polaridade), na reminiscência oriental indiana de “Purusha” – espírito, “Prakriti” - matéria  – Assumindo a teosofia – o ideal dum sol oculto - invisível espiritual vivificando o sol visível material. Aquele “sol negro” mal interpretado pelo supremacismo nazista.

O Deus imanente e transcendente, aqui não são antagónicos, se não – resolvem e resumem a cosmogonia indiana – de Parabramha – transcendente, Bramha com presença no imanente - inerente a todo o material – Sendo Bramha o desdobramento do Parabramha transcenete no Uno-Trino – Sendo esse  Uno-Trino (imanente) projeção de Parabramha (transcendente) no momento da manifestação – Manvatara ou Manuantara.

Segundo Mirceia Eliade, no "Mito do Eterno Retorno" – as civilizações antigas, tanto da Mesopotâmia, como do Egito e a Pérsia, conceberam suas delimitações territoriais, cidades, templos e palácios, conforme a uma estrutura (humana) guiada por um modelo celestial correspondente.

Temos aqui a ideia duma civilização de inspiração divina – Seus templos e lugares sagrados, serão construidos de acordo a cânones ditados pela revelação – acordes aos planos celestiais. Daí observamos na passagem bíblica como Moisés desenvolve os planos para seu templo por inspiração da divindade.

Em Êxodo, 25: 8-9, o Senhor fala assim para Moisés: “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles. Conforme a tudo o que eu te mostrar para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus pertences, assim mesmo o fareis” Modelo que segundo Êxodo, 25:4O lhe foi mostrado ao Patriarca no Sagrado Monte do Sinai: “Atenta, pois, que o faças conforme ao seu modelo, que te foi mostrado no monte”

O modelo arcaico de povoação – e delimitação dum território – é legalizado pela implementação na face da terra do modelo cosmológico divino. Os rituais de sacralização dum território permitem sacralizar o mesmo, por meio da incorporação da energia divina ao plano terrenal. O direito humano a ocupar esse determinado território vem validado, aqui, através dos arquétipos celestiais. - mantendo essa conexão entre o espírito e a matéria, por meio da projeção da luz divina que é a presença viva do Deus Imanente.

O universo celestial tem assim presença sobre as criações humanas. O Templo Principal – e os templos auxiliares se tornam lugares intermediários onde o celeste entra em contanto com o terrestre – influenciando o plano material particular conforme a Lei Divina – Cósmica e Universal. O Templo toma o lugar na cidade, que no mundo arcaico mais rural – tem a Montanha Sagrada: aquele centro do mundo – ónfalos – lugar de interconexão, onde a terra e o céu se encontram. Onde o sagrado se une com o profano, para purificá-lo, espiritualizá-lo.

                                       

Observamos, pois, nos inícios de toda civilização a pertinência do sagrado como legitimador do espaço, do poder e da estratificação social – assim como da primazia orientadora – do Sacerdócio como representante do poder divino e da Instituição real ou Imperial – como representante terrenal

A pertinência do Sagrado no intuito da autoridade Legalizar

"Só há um templo no mundo e é o corpo humano. Nada é mais sagrado que esta forma sublime. Inclinar-se diante de um homem é fazer homenagem a esta revelação na carne. Toca-se o céu quando se toca um corpo humano" (Friedrich Novalis)

Em certos casos como no Egito, sendo o Farão a encarnação da própria divindade na Terra – o filho Divino – que faz de intermediário entre o humano e o espiritual. A figura dum Horus vivente. Ainda no Catolicismo atual o Filho Cristo – está diretamente representando na figura do Papa.

Em João, 14:6 Jesus afirma: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” - Em Mateus, 11-27: “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” – Temos, pois no catolicismo a figura do Papa – como nexo união do humano como divino – Como representante de Cristo - do Filho (poder no Egito reservado ao Farão) – a ele, ao Papa, corresponde a intermediação, pois ele recebe a inspiração e revelação do Filho Divino – Sendo que a revelação do filho – lhe confere um conhecimento maior sobre o Pai, tal como esta especificado em Lucas, 10-22: “Tudo por meu Pai me foi entregue; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar”

Sendo que a transformação humana depende da revelação divina – o caminho marcado pelo Farão no Egito marca o caminho de ascensão ao divino – assim como o Papa marca, como guia espiritual, o caminho de aceso a salvação no catolicismo.

A importância da monarquia divina – vem precedida desta visão do sagrado como forma de legalizar a pose material dum determinado território. Afirma-se que Emília a mãe de Júlio César teria instruído a seu filho – nas responsabilidades duma linguagem divina (segundo a tradição romana os Júlios eram descendentes de Eneias e da Deusa Vénus)

O ascenso divino ao trono, forma parte das lendas e mitos de coroação de todas as civilizações. A escolha da divindade como fator ilegalizador do poder terrenal. Assim no texto sumério da lenda de Sargão observamos a intermediação da Deusa Inanna – em seu favor, salvando-o da morte e revelando-o através de sonhos como destinatário à realeza. Mesmo que muitas partes do texto permaneçam, a dia de hoje danificadas, podemos inferir que a Deusa vai conduzindo Sargão até o cumprimento de seu destino. O dever do futuro imperador será pois um dever sagrado.

O direito ao Império Divino de Sargão também está registado num texto neo-assírio, do século VII a.C, que nos revela: "Minha mãe, alta sacerdotisa, me concebeu, em segredo me pariu. Colocou-me numa cesta de juncos, e selou-o com betúmen. Colocou-me no rio, que se elevou sobre mim, e me carregou a Akki, o carregador de água. Akki, o carregador de água, me aceitou como seu filho e me criou. Akki, o carregador de água, me nomeou como seu jardineiro. Enquanto eu era um jardineiro, Ishtar (Inanna) me concedeu seu amor, e por quatro e [...] anos eu exerci o reinado"


A filha de Sargão, Enheduana, Suma Sacerdotisa da cidade de Ur – no templo do deus lunar Nanna – foi a primeira autora literária conhecida. Ele teve um lugar de destaque na missão universal do seu pai, e na formação do primeiro grande império mesopotâmico da história. Enheduana foi precisamente a encarregue de sincretizar diversas divindades mesopotâmicas, para dar maior coesão ao império, em base a uma unidade maior espiritual.

Seu trabalho na exaltação da figura da Deusa Inanna, nos traz ecos do regresso do feminino sagrado (oculto na época do trunfo do patriarcado, e fim de ciclo do antigo matriarcal – ligado a Deusa mãe da natureza) – Inanna como consorte do deus Nanna – também resgata o ideal da parelha primordial Divina – que vai engendrar toda a humanidade.

Seus cantos, hinos e orações marcam um novo paradigma literário, que vai condicionar textos muito posterior, como o mesmo “cantar dos cantares” de Salomão.

Inanna – Isthar – Astarte - Aserah – e a Tanit fenício – púnica - Lembram a deusa primitiva hurrita “Ishara” – deusas que tem ligação com a Afrodite, grega e a Vénus romana. A brilhante Estrela da manha – a qual os filhos divinos estão ligados, como o Cristo – e Lúcifer, antes de sua rebelião e queda ou o Quetzalcoalth da cultura nahualt. O deus grego – de três faces: Phosphorus - Eósforo – Héspero, também aparece associado a estrela vespertina, estrela da alva.

As deusas do feminino lunar – associadas aos deuses do masculino solar – lembram aqueles deudes primordiais pais da humanidade – aqueles “Ometecuhtli” e “Omecihuatl" os "Senhores da Dualidade" - da cosmogonia asteca. Izanagi e Izanami, da mitologia japonesa, ou o El e Asserah da tradição semítica.

Nas civilizações patriarcais (onde o feminino sagrado é oculto) – o arquétipo de rigor dum Marte – filho da justiça – que se transforma em um pai protetor, defensor dos humildes – encaixa normalmente com o estamento militar; enquanto o arquétipo do amor dum Apolo / Júpiter – filho da misericórdia – encaixa bem com a instituição sacerdotal. Ambos braços da balança (coluna do rigor e do amor) são equilibrados pela mais elevada figura do Monarca.

Ideia promordial que resalta aqui, é a ideia de que a figura do Soberano Universal – que estende seu domínio desde a cidade Santa – por ele ou seu antepassados – com auxilio do Sacerdócio consagrada – ate os confins da terra  conhecida, é a terra consagrada, pufificada (simbolicamente a terra pelo divino, das águas, resguardada – Aquela terra cujas Instituições e autoridades resguardam o conhecimento do sagrado, vital para continuidade da humanidade).

Este Soberano Universal, como Sargão se auto denominaria com muita assiduidade como “Rei do Mundo”

O Rei do Mundo – governava desde a cidade sagrada – ónfalos, onde o céu e a terra se encontram, no centro do mundo. Sendo o Templo principal desta cidade o substituto da montanha sagrada das diversas tradições: os montes Meru, Sumeru, Haraberezaiti, o monte Alvand do zoroastrismo, o Taishan da tradição chinesa… O conceito cósmico e religioso, se unem em este ponto – do monte sagrado e a cidade e templo sagrado.

A cidade sagrada, tem sua primeira criação no céu, sendo a cidade terrenal uma simples projeção – representativa da mesma. A criação, pois, da cidade sagrada esta ligada ao ato cosmogónico, ligado a ordem que impera e neutraliza o caos. 


A presença da entidade divina na cidade, se realiza por meio do Alto Sacerdócio ou do Monarca Divino – como representantes ou encarnações da Divindade na Terra – No caso do mundo patriarcal como filho ou encarnação do filho da Divindade – Num reino mais universal – aberto ao sagrado feminino – a parelha dos gémeos espirituais – representantes ou encarnações do Filho Divino e da Filha Divina – como no período de domínio do Farão Amenófis IV, mais conhecido como Aquenáton –  Aquele que junto a sua consorte Nefertiti, exerceram uma revolução religiosa, numa das épocas de mais esplendor do Egito. Embora não se poda afirmar historicamente a ideia do matrimonio sagrado estar presente aqui– o papel de destaque nos cerimoniais e rituais religiosos da rainha, junto a seu marido, apontam a um Sumo Sacerdócio feminino.

A manifestação terrenal da dualidade sagrada – emanaria também da primitiva polaridade masculino sagrado – feminino sagrado – quando o simbólico ovo cósmico quebrou e se polarizou...no inicio.


A importância da Alta Magia

"A magia compreende a mais profunda contemplação das coisas mais secretas, sua natureza, poder, qualidade, substância e virtudes, bem como o conhecimento de toda a sua natureza" (Heinrich Cornelius Agrippa)

Ao observar que o espaço sacralizado – precisa dos conhecimentos rituais e cerimoniais precisos – para abrir a vertical de interconexão céu – terra, permitindo a interação do espiritual dentro do material, podemos inferir da necessidade de conhecimentos adquiridos e transmitidos através da Instituição Sacerdotal

Por outro lado está a necessidade da criação do Templo, em cujo interior se situe o Altar – local onde o Divindade – o Deus Imanente – fica com uma presença mais poderosa, forte – para irradiar sua luz a comunidade. Este Templo e altar, deverão ser construídos em base às medidas precisas, canónicas – que são transmitidas, é dizer reveladas pela própria Divindade ao ser humano elegido para tal honra (aquele que é Sacerdote pela graça outorgada pelo ente Divino)

O professor André Penha Granha afirmava que os Druidas tinham uma formação média de 21 anos (7 para estudo do corpo, 7 para estudo da alma, 7 para estudos sobre o espírito) – Esta formação era ainda muito mais profunda, para obter aquele conhecimento mais elevado – dum Druida de maior escalão

Daí o Sumo Sacerdócio ter de ser conhecedor de elevados conceitos de Teurgia, Magia Cerimonial ou Alta Magia – para exercer tanto a direção dos Grandes Cerimoniais e Rituais mais elevados, como ter um conhecimento profundo da doutrina, que permitam uma interpretação mais perspicaz da “vontade divina”

Afirma-se que Platão não permitia a entrada na Academia daqueles que não conheciam os princípios fundamentais da geometria. Pitágoras foi segundo muitos estudiosos o Pai da numerologia. Sendo Empédocles aquele que elevou ao sábio grego à altura de mito, ao afirmarem que Pitágoras sabia mais que o que qualquer homem podia ter aprendido em 10 ou 20 vidas…


Vemos que a construção do Templo, Altar e delimitação do espaço sagrado precisa dum conhecimento profundo da ciência da geometria ou matemática; se por cima temos em conta que muitos dos Templos e Locais Sagrados tem uma certa correspondência a certos alinhamentos astronómicos, vemos mais claramente a necessidade duma Instituição Sacerdotal bem preparada, tanto no conhecimento teológico, como em certos conhecimentos cientifico – tecnológicos.

No México, no complexo cerimonial de Teotihuacan, a Pirâmide do Sol está perfeitamente alinhada com o por do Sol, nas datas de 11 de agosto ao 29 de abril – datas que circunscrevem o calendário de 260 dias, utilizado na tradição de Mesoamérica. A mesma Avenida dos Mortos, do mesmo complexo, tem um comprimento de 5 quilómetros e 40 metros de largura. Sendo em numerologia o 5 representante, entre outras analogias, daquela Quinta-essência e o 40 o número da provação, preparação e transformação espiritual (40 dias de Jesus no deserto, 40 dias que Jesus permaneceu na terra antes de ascender ao céu, 40 anos peregrinação dos hebreus pelo deserto…)

No caso das três Pirâmides de Gizé (Quéops, Quéfren e Menkaure), no Egito, além de seu alinhamento com os 4 pontos cardeais – que delimitam (junto ao Zénite e o Nadir) o espaço material da manifestação, muitos autores estudam seu relacionamento com a constelação de Órion.

A Megalítica construção de Stonehenge mantém uma alinhamento peculiar com o sol no amanhecer do solstício de verão e, com o por de sol no solstício de inverno.

Na Camboja, no templo de Angkor Wat, durante o equinócio de primavera o sol nascente bate diretamente sobre a Torre Central.

Os conhecimentos guardados nas instituições sacerdotais – e o mais oculto, resguardado a elite sacerdotal, permitia tanto a construção dos templos e delimitação do espaço consagrado como o conhecimento profundo de numerologia, geometria sagrada, teurgia e compreensão dos ciclos vitais de nascimento, crescimento e passagem – renascimento; assim com sua projeção nos ciclos da natureza e do cosmos, assim como dos ciclos históricos


Os Ciclos

"Ciclos são feitos de processos e a cada novo ciclo um novo processo é determinado para sermos aperfeiçoados" (Michelli Ruiz)

A tradição indiana nos fala duma hierarquia de ciclos – que vai acontecendo, desde o período inicial da manifestação ate o final período do recolhimento – Aquele “Ragnarök” - nórdico, do fim do mundo, o Juízo final das tradições abraámicas. Com chegada da divindade, para separar os justos – fieis a Lei (seguidores do Dharma) – que seguiram o caminho da redenção, dos ímpios – transgressores da Lei (caídos em Adharma) - que desceram pelo caminho da perdição

Estes ciclos percorrem o seguinte esquema:

Kalpa – ou dia de Brahma (manifestação do mundo material) composto por mil Mahayugas, com duração de 4,32 bilhões de anos

Mahayuga – ciclo de 4 yugas, com uma duração total de 4.320.000 anos - Yuga – ciclo de 4 eras: Satya Yuga – de 1,728,000 anos Treta Yuga – 1.296.000 anos Dwapara Yuga – 864,000 años Kali Yuga – 432.0000 anos

Falando-se que existe um pequeno ciclo de Yugas – com duração mais pequena – permeando aquele outro ciclo de Yugas mais grande; onde a Satva Yuga ou Idade Ouro – duraria 24.195 anos, a idade de prata 18,146 anos, a idade de bronze duraria 12.097 anos e, a de prata 6,048 anos


Sendo a Kaly-Yuga - Era das Guerras - Idade de Ferro, aquela mais obscura - Assim fala o Vishnu Purana: Em Kali Yuga, haverá numerosos governantes lutando pelo poder entre si. Eles não terão caráter. Violência, mentiras e imoralidade serão a ordem do dia. A piedade e a boa natureza desaparecerão lentamente. Paixão e luxúria serão a única atração entre os sexos. As mulheres serão objetos de prazer sexual. A mentira será o fator limitante da subsistência. Pessoas cultas serão ridicularizadas e envergonhadas; no mundo, a lei dos mais ricos será a única lei” -  E não por acaso esta era tem tanta semelhança com aquela que estamos a atravessar. Com a esperança que estemos a fim duma pequena Kali Yuga de seis mil anos – dado que Krisnha esteve no mundo há 5 mil anos – e, tal como falam o textos sagrados indianos, sendo assim já estaríamos a transitar caminho duma pequena Idade de Ouro. 

Em estes ciclos se desenvolveriam os trabalhos das hierarquias divinas sobre os mundos. Sendo que os ciclos das yugas – iram experimentando um maior achegamento à divindade nas eras de ouro e prata, e uma maior afastamento da mesma, nas eras de bronze e ferro. Sendo a era da Kaki Yuga (atual) a que mais afastado o ser humano estaria do divino – e pelo tanto do “Amor Incondicional” que o representa e, pelo tanto, com mais focagem no mundo da guerra – concorrência – desconfiança – maior polaridade.


O pequeno ciclo do poder material

A materialidade da espiritualidade se apresenta harmoniosa e organizada, não é como o caos que apresenta a arte moderna" (Renata Tavares)

Na mesma tradição indiana também aparecem 4 ciclos – de revezo no poder territorial e no comando espiritual do mundo – que se correspondem com os 4 estamentos da divisão social indiana: os Brâmanes – da casta sacerdotal, Xátrias – da classe militar, Vaixás – da casta comercial e Sudras, da casta mais baixa: dos operários e camponeses…

Estes ciclos se corresponderiam – a um determinado estamento que dirige, durante um período histórico de tempo, uma determinada comunidade, sociedade, cultura o civilização.

Assim teríamos um ciclo em que a Instituição Sacerdotal – e polo tanto o aspeto religioso da vida teriam predomínio em essas comunidades. O caso do mundo celta – onde a Instituição Druídica fazia o nexo de união entre as diversas tribos e seus diversos coronos ou dirigentes, e suas estruturas de organização social – nos permite observar que o ciclo do Poder Sacerdotal foi em ela predominante, ate que o Poder romano com a captura de Vercingetórix (na Gália) e de Viriato (na Lusitânia) deu fim a este domínio. A insistência dos romanos em eliminar o estamento druídico, nos dá uma ideia de qual era o verdadeiro estamento dirigente daquela sociedade.

O México – da cultura nahualt – derrotada por Hernán Cortés – também estava insertada em este ciclo de poder Sacerdotal. Sendo os “Tlatoani” os dirigentes principais daquelas comunidades. O “Tlatoani” – era o governante duma cidade-estado ou “Altepeti”- que alem das funções de governante e dirigente militar, tinha a função de Sumo Sacerdote.


Tanto nas sociedades celtas como do Anahuac – mexicano, a religião marcava os ritmos da vida e os fundamentos éticos, morais, assim como os aspetos legislativos daquelas culturas.

Na Idade Média – com o “cavaleiro” como centro mesmo da espiritualidade – onde os mitos artúricos, a procura do Graal (caminho da transformação), o amor cavaleiresco e demais… marcam o devir de todo o imaginário coletivo… Não nos é difícil ver um ciclo de poder Senhorial – onde o estamento real – toma o foco de atenção – em todos os aspetos e âmbitos destas sociedades. Com a publicação do Quijote de Miguel de Cervantes – onde a cavaleira é ridicularizada – estamos a observar, na Europa, o passo do período medieval à modernidade, com a consequente transição dum ciclo de poder senhorial – a um outro ciclo de Poder Mercantil.

Após a crise estrutural, com a queda do sistema financeiro internacional, no centro do pulmão sistemático de Wall Street, Londrés e Tólikio (entre 2007 e 2008) vemos o inicio do começo do fim do ciclo mercantil em favor dum novo ciclo. Assistindo agora, tal vez, a irrupção, entrada paulatina – com seu período mais brusco ou mais suave de transação – para um novo período de Ciclo Cívico.

Quando o Templo foi invadido pelos mercadores – e o Deus Imanente e Transcendente – foi substituído ou houve tentativa de tentar substituí-lo pelo artificial “Deus Mercado”… Quando os valores do mercado focavam mais atenção da comunidade que os valores morais, éticos e os valores espirituais transmitidos pela Divindade… Sem saber estávamos assistindo a entropia e queda sistémica e a sua substituição (mais dolorosa ou mais suave, dependendo a tónica evolutiva dos mesmos seres humanos) por um novo sistema de valores.

Lembremos que a única vez, nos evangelhos, que Jesucristo abandonou o Cristo do Amor, para tornar-se no Cristo do rigor, foi quando teve que expulsar aos mercadores, para purificar o Templo em Jerusalém. Saibamos nós, em tempos de mudança sistemática, tomar este exemplo e combinar equilibradamente amor e rigor – para evitar atritos desnecessários.


"E, entrando Jesus no templo, começou a expulsar os que nele vendiam e compravam; e derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E não consentia que ninguém levasse coisa alguma através do templo. E ensinava, dizendo-lhes: Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Mas vós fizestes dela um covil de ladrões" (Marcos 11:15-18)

E esta mudança começa sempre pela “noosfera” ou esfera da consciência e do pensamento – que em seu dia estudou o cientista russo Vladimir Vernadski. Sendo mesmo, possível, que em este período histórico, esse divisor de águas, esteja acontecendo, segundo uma ordem natural e cósmica que tem a ver com a homeostase do sistema mundo.


Ordem Natural

"A ordem natural das coisas deve sempre ser: antes da mudança vem o descontentamento, e em seguida a realização, a felicidade" (Evan do Carmo)

Fundamental em todos estes ciclos diferenciar os processos evolutivos dos anti-evolutivos. Sendo seu divisor de aguas: a reintegração ou o isolamento.

Todo movimento reintegracionista procura achegar a unidade, aquelas partes que foram dividias do princípio. Pela sua contra todo movimento isolacionista segue a dinâmica diferencial de dividir, isolar e afastar as partes do todo.

A matéria, energia mais forte, para ligar as partes à Unidade - é o Amor Incondicional - A energia mais densa para separar é o ódio. O Reintegrar é puro Amor, na sua frequência mais elevada, o isolar - puro ódio na sua frequência mais baixa... 

Sabendo como afirmava o poeta Rumi que amor está na unidade e a dor na separação da origem – podemos deduzir, por lógica, que a inércia reintegradora é, por natureza, evolutiva – enquanto a isoladora é involutiva.

No plano religioso – a ideia de um só nome para Deus – um só livro para seu conhecimento – um só povo sacerdotal para cumprir o manifesto divino e governar o mundo – é uma ideia isolacionista – anti-evolutiva - na sua vibraçao mais baixa gera ódio

Enquanto o Ideal da Unidade – dentro da Diversidade – com um Deus Transcendente e Imanente – que pode tomar diversos nomes, nas diversas tradições culturais, assim como diversos tipos de cultos – com diversos livros e diversos povos, cumprindo de diversos modos seus preceitos – mantendo uma ética, moral e costumes sociais diferentes, mas não divergentes – constitui uma ideia de Diversidade – que se une na comum espiritual essência do Uno - Esta visão na “noosfera” na sua vibraçao mais alta transmite Amor Puro. 

Este tipo de ideal reintegracionista também tem esse carácter e caraterística de unidade, dentro da diversidade, no resto dos diversos planos sociais: políticos, culturais… das diversas atividades humanas. Transmitindo a luz do Amor em sua mais elevada frequência de onda.


Esta visão reintegracionista é a que guiou sempre a posta em marcha dos diversos impérios universais, que iniciando pelo de Sargão o Grande, confrontaram sempre a divisão e guerra permanente dos movimento isolacionista – em procura dum domínio de uma etnia e da sua pequena visão do mundo sobre o o resto.

Diversos movimentos políticos, sociais, culturais, filosóficos – reintegracionistas procuraram essa mesma universalidade, dentro da república universal ou da Universal Fraternidade – no intuito de realizar a Tripla Transformação – que no momento de uma tónica evolutiva adequada permitiria o abraço de todas as culturas e todos os povos


Tripla libertação – Transformação

"Nós nos deliciamos com a beleza da borboleta, mas raramente admitimos as mudanças que ela passou para alcançar essa beleza" (Maya Angelou)

Essa tripla libertação ou transformação consiste em: Transformação interior (trabalho individual de avançar da mente habilidosa, que procura cumprir os desejos egolátras – e servir-se dos outros – em favor da mente Ética – Mente Ética que procura a senda do Amor Incondicional – para servir-se a si próprio – e assim estar ao serviço humilde dos outros (o amor começa por amar-nos a nós mesmos). Esse Amor Incondicional – somente pode ser realizado vencendo aquele medo à morte, que é a raiz do medos que nos auto-limitam. Auto-limites que permitem que outros nos atemorizem e nos façam indignos e mesquinhos.

Esse caminho de libertação pessoal – pode levar mesmo vidas (se acreditamos na mentepsicose ou reencarnação) – ou ser um caminho de sacrifício de várias gerações, duma rama familiar ou linhagem, para uma certa pessoa, em um momento dado, deste medo libertar-se (se não acreditarmos na reencarnação)... Neste caso sendo o amor do sacrifício, simbolizado pela entrega de pais a filhos, geração a geração.


O segundo caminho é o da transformação social – procura duma maior justiça, equanimidade social, abertura de oportunidades formativas a maior parte da sociedade – E, a vez, entrelaçamento dessa determinada sociedade como entorno natural que a rodeia, procurando respeitar os ciclos da regeneração natural e estudando as redes de “ajuda mútua” do ecossistema. Redes estudadas em seu dia pelo cientista russo Piotr Aleksêievitch Kropotkin, para aplicá-las de forma consciente a “ajuda mútua” Social

Todo mundo fala de paz; mas ninguém educa para a paz, a gente educa para a competência e, esta competência é o principio de toda guerra. Quando eduquemos para cooperar e ser solidários os uns com os outros, esse dia estaremos educando para paz” – Escreveu em seu dia Maria Montessori, abrindo os olhos humanos para realidade, que ocultamos, por trás das eloquentes e habilidosas palavras, nascidas para perpetuar o Grande Engano.

E, por último, abrir o coroação no dialogo permanente, que procure o caminho da confiança sufiente para os povos poder realizar a libertação do medo ao diferente.

Trabalhando arduamente e, ao mesmo tempo, os três pilaras da transformação – apesar das quedas, recuos e pequenos avanços, próprias das diversas tónicas evolutivas, ainda muito baixas da humanidade, o porvir – pode em algum momento da historia achegar – aquele anelado sonho da Fraternidade Humana

Esse Tempo – em que todos os Templos de todas as comunidades, religiões e culturas humanas, podam ser o Templo de todas as nações – E cada ser humano orar, meditar e achegar-se ao divino pelo caminho e na forma que melhor resulte para ele, com respeito de todos os outros caminhos e de todas as outras tradições de valores.

E, em esse dia, após árduos, prolongados e profundos trabalhos possível será inaugurar o Tempo ou Idade de Ouro – onde o Sagrado e o Humano – caminharam juntos – dentro da Espiritual Fraternidade – Sendo aí que a Lei Natural – a Lei Humana – e a Lei Cósmica estarão definitivamente alinhadas – e a Beleza – a Justiça – e a Bondade – sonhadas por Platão terão-se realizado. Logrado emerger nos “Tempos que são Chegados” – na Mãe Terra, que nossos ancestrais reconheciam como Sagrada!

“Você pode estudar Deus através de tudo e todos no Universo, para descobrir que Deus não está confinado em uma mesquita, sinagoga ou igreja. Mas se você ainda têm necessidade de saber onde exatamente é a sua morada, existe apenas um lugar para olhar em sua busca: no coração de quem ama verdadeiramente”~Shams Tabrizi.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DERRUBE DA SÍRIA: FIM DO LAICISMO ORIENTAL - por Artur Alonso

ACORDO DE PAZ: EVITAR A III GUERRA MUNDIAL - Por Artur Alonso

"DISCERNIMENTO EUBIÓTICO" - por - HELDER RAMOS