A GUERRA CONTRA O ISOLAMENTO - por Artur Alonso
"A consciência é a estrutura das virtudes" (Francis Bacon)
A Divisão dentro do MAGA
Donald Trump acedeu a presidência dos Estados Unidos prometendo ré-industrializar o país, acabar com a política de guerra permanente no exterior, retirar a agenda “Woke” do imaginário coletivo, combater a desinformação e ocultamento, permitir um debate aberto sobre a eficácia de certas vacinas e interromper a agenda globalista… Entre outras prioridades
Conseguiu apagar, em certo modo, a Agenda Woke. No caso Epstein, não somente não revelou a listagem prometida, se não novas revelações implicam o próprio Trump nas viagens a famosa ilha (sejam verdadeiras ou tentativas de desprestigiar ao mandatário – alguns comentarias afirmam o novo foco posto num novo confronto com Irão, tem por objetivo desviar a atenção do caso Epstein)
Estas acontecimentos enfraqueceram a base MAGA do presidente.
No tema das vacinas, o nomeação de Robert Kennedy Jr. Secretário de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, deu aços a este debate vir a tona, no entanto a obrigatoriedade de vacinação para a infância, trouxe de novo detratores dentro do Movimento MAGA contra Trump.
O apoio incondicional a Israel e sua política belicista no Oriente Próximo, levantou vozes de advertência como as do próprio Steve Bannon – e a disidencia do jornalista Tucker Carlson, que chegou a entrevistar ao mesmo presidente do Irão Masoud Pezeshkian. Situação que todavia agravou mais a crise dentro do movimento por uma América Grande de Novo.
A Divisão dentro do MAGA se faz patente, e a briga contra Elon Musk, pola retirada das subvenções estatais a sua empresa Tesla, ajudou ainda menos. No entanto a criação do America Party, por parte de Musk, é visto por algum analista como Adrian Zelaia (director do Ekai Center) como uma manobra patada, entre Donald Trump e Elon Musk, com o objetivo deste novo partido recolher o voto dos descontentes.
Tentar dar um giro na decadência económica dos EUA – achegando soluções a setores brancos desfavorecidos pela economia das finanças e perda de empregos por causa da reconversão, poderia elevar a popularidade do presidente. No entanto a herança do passado e a realidade atual teimam em fazer o contrário.
A Herança do passado
Para conseguir Voltar América Grande de Novo (Make American Great Again – MAGA) – era preciso retirar os EUA do caminho trilhado desde inícios dos anos 90 do século passado, com a exteriorização da maquinaria industrial até a preferia do Novo Sistema Mundo (novo reparto do trabalho), dentro do ideal de Aldeia Global - Enquanto o centro irradiador das capacidades económicas, que recolhia a mais valia gerada nos extremos do novo engrenagem do organograma global, ficava com o poder financeiro. Problema essa toda rede de poder Ocidental – virado agora para as finanças – tecido durante decénios (a partir da II Guerra mundial, a queda da URSS) e acelerado a partir da visão neo-liberal de Margareth Tacher e Ronald Reagan… Explodiu em 2007*-2008, quando o sistema de poder financeiro global atingiu seu limite
Desde aquela altura novos concorrentes – agora fortemente industrializados – como a China, viram sua oportunidade para na contração do poder ocidental – poder implementar novos relacionamentos políticos e económicos, que permitiram a novos atores globais e regionais afirmar uma maior autonomia política e maiores oportunidades de crescimento, para implementar agendas menos dependentes nos três tabuleiros que comandam a geopolitica: militar, económico e cientifico-tecnologico-social-cultural.
Estes novos atores, fortalecidos pela implosão no pulmão económico ocidental, de Wall Street, Tókio e London, criaram novas alianças tanto militares, como económicas, como culturais-sociais e e cientifico – tecnológicas.
Assim surgiram entre outros organismos e foros colaborativos os BRICS, a ASEAN, a OCX – que tomaram consciência das novas possibilidades e capacidades do chamado “Sul Global” – e da denominada “Multipolaridade” -
Daí surgiram os projetos comerciais das novas rotas das seda e as iniciativas práticas e pragmáticas do “Cinturão de Rota” ou “Belt and Road” impulsionadas pela China – cujos corredores comercial estratégicos, se complementavam com novos corredores de energia e novas realizações e canalizações de recursos em novas infraestruturas – Virando os velhos caminhos que partem e chegam de novo a “Roma” – simbologia da rede global ocidental – que partia do nexos de poder do ocidente e regressava de novo a este centro – através da emissão dólar e recolhida das mais valias geradas, e dos dólares recebidos pelos bancos centrais do mundo – para serem reconduzidos, de novo até os bónus do tesouro norte-americano, permitindo aumentos sucessivos dos deficits orçamentais, que a sua vez permitiam manter a maquinaria militar de controlo e policiamento do mundo dos EUA em plena projeção e expansão do coletivo Ocidente.
Os três tabuleiros militar, económico e cultural-social-científico-tecnológico – se retro-alimentavam e interagiam, desde um centro de comando ocidental unificado.
Este comando estava liderado, no tabuleiro económico, pelo poder BIS (Banco de Compensações Internacionais – com sede em Basileia, Suíça), que dentro do sistema financeiro global controlava todos os bancos centrais do mundo.
No tabuleiro militar pela NATO ou OTAN – organização militar que controlava quais quer dissidência sistémica e, expandia suas fronteiras fechando a expansão de rivais e cercando presente e futuros inimigos – contraindo os mesmos contra suas fronteiras (na velha tática da anaconda).
Se precisar a mesma NATO podia intervir tanto para dar um golpes a infraestrutura estratégica, como para remover regimes ou dividir e debilitar países: balcanização territorial, mudança de regimes, junto a outro tipo de pressões e manobras de dissuasão militar
E no tabuleiro científico-tecnológico-social-cultural – tanto pelas academias e universidades ocidentais, como pelo controlo da narrativa – dentro da Noosfera (estudada por Vernadski e Teilhard) pelo controle da narrativa académica, como de entretenimento, assim como da narrativa política, cultural, económica e social. Hollywood funcionava muito bem em este terceiro tabuleiros
No entanto, a partir da queda de 2007-2008 (no tabuleiro económico que irradiava a energia vital das realizações materiais, a todo aquele sistema mundo – globalista) uma nova realidade dos novos relacionamentos multipolares do “Sul Global” sem passar pela rede de controlo económico - financeiro e pelo organograma de controlo militar e social ocidental – começavam a realizar-se, iniciando uma lenta, mais segura, tentativa de saída da rede de poder do dólar (o euro fora enfraquecido pelo próprio poder ocidental globalista, a causa da crise que já não permitia duas moedas de reserva mundial).
A Nova Realidade
Retirada do dólar que permitiria, devagar, uma contração do poder ocidental – não permitindo o “almoço gratuito” do ocidente, que se podia permitir o luxo de mesmo atacar militarmente um país do sul global, pagando o esforço bélico o mesmo sul global – com a reciclagem dos dólares de volta ao sistema de controlo ocidental – através dos bónus do Tesouro, emitidos pela Reserva Federal norte-americana.
Assim com esta contundente realidade, desenvolvendo-se no teatro mundial a dia de hoje, Trump tinha de tentar levantar a industria e as infraestruturas norte-americanas, para cumprir sua promessa eleitoral, no entanto para isso era preciso debilitar o dólar – para tornar as futuras exportações norte-americanas mais competitivas. Tentativas foram feitas em este sentido (tanto no oferecimento do território norte-americano a industrias europeus e fondos de investimento asiáticos, como na busca duma baixada dólar com respeito a outras moedas refúgio – de fato o dólar tem baixado exponencialmente com respeito ao euro, libra, franco suíço… -Mas o sonho dum poder industrial e um dólar competitivo – a vez atrativo para seguir garantindo sua posição global, não pode ser concretizado.
Em parte devido a que um dólar mais fraco se torna menos atrativo para servir como moeda de reserva global. Desta contradição entre a necessidade de enfraquecer o dólar para atrair competência industrial ao território norte-americano e, a sua vez manter um dólar como referente de refúgio de segurança internacional em tempos conturbados… Poderíamos entender as ameaças diretas do presidente Trump, aos países do BRICS, que seguem, lenta mais firmemente, abandonando o dólar nas suas transações comerciais diretas.
O dilema da nova administração Trump, está na tentativa de tentar conciliar a necessária reativação da economia industrial norte-americana e, a vez, não desistir de seguir controlando o mundo financeiramente – E dizer recolher-se dentro do país e tentar resolver seus múltiplos problemas económicos (reativando a economia através da renovação das infraestruturas, da criação dum novos setores industriais – ligados ao desenvolvimento cientifico e tecnológico…) e, a sua vez, manter a expansão geopolítica que o poder financeiro e do complexo militar industrial, lhe outorga aos Estados Unidos…
Mas essa possibilidade parece muito difícil ou mesmo impossível de realizar-se, devido a própria estrutura e estratificação da própria sociedade norte-americana, desde a aposta a favor das rendas, e não da economia produtiva, feita a inicios da década dos 90, do século passado.
Esta impossibilidade pode ter sido bem resumida, pelo brilhante economista norte-americano Michael Hudson, em entrevista recente com Nima Alkhorshid.
Afirmava Hudson sobre o novo projeto de Lei da administração Trump, denominada Big Beautiful – Grande e Bonita -: "Bem, acho que o projeto de lei de Trump — o Big Beautiful (Budget Deficit) Bill — juntamente com a sua política tarifária terá o efeito de acabar com a hegemonia do dólar e levará a uma queda na taxa de câmbio do dólar (...) Portanto, é uma fantasia que, de alguma forma, baixar a taxa de câmbio do dólar vá curar o défice comercial dos Estados Unidos e permitir que se obtenham muito mais lucros e, consequentemente, que se paguem impostos. Tudo isso é fantasia. É teoria económica lixo (...) Portanto, vai acabar o efeito – o almoço grátis do dólar –, este privilégio exorbitante de poder ter enormes défices militares e comerciais, sem ter de ver a sua taxa de câmbio cair e os preços subirem. Agora, estamos a assistir a uma fuga do dólar. A taxa de câmbio do dólar caiu 10%. É a maior queda desde que Franklin Roosevelt o desvalorizou em 1933. Estão a correr para a saída. Por isso, estamos a assistir ao fim de uma era. Esta é a importância deste projeto de lei. Foi uma era que permitiu aos Estados Unidos financiarem tanto o seu défice da balança de pagamentos como o seu défice orçamental através da emissão de títulos de dívida – obrigações do Tesouro – que supostamente nunca teriam de ser reembolsados. Porque quando os Estados Unidos gastam dinheiro no estrangeiro, sobretudo para fins militares, esses dólares acabam nas mãos dos bancos centrais estrangeiros. E o que vão eles fazer? No passado, até agora, nos últimos 54 anos, tinham apenas uma opção: reciclá-los em títulos do Tesouro dos EUA, que são seguros, ou em títulos de agências federais que rendem um pouco mais.Mas, pela primeira vez, eles estão a correr para a saída. É isso que está a acontecer hoje (...) Na última semana, enquanto este projeto de lei se tramitava no Congresso, os investidores têm feito arbitragem, contraindo empréstimos a juros baixos aqui e comprando títulos de alto risco na Europa. E é uma bonança — mas trata-se apenas de ganhar dinheiro financeiramente, não industrialmente"
Observamos, pois, que este novo projeto de Lei – que corta gastos com previdência social e baixa impostos de forma tangencial as grandes fortunas, no intuito desse dinheiro ser empregado na reindustrialização e criação de mais emprego (que de algum modo paliaria, desde a visão da nova administração, os recortes na ajuda social) – ao invés de traduzir-se no enfraquecimento do sistema financeiro em favor da nova base industrial, fortalece o poder especulativo.
As grandes fortunas utilizaram, como observa Hudson, o montante acumulado em rebaixas de impostos, para obter muitos mais rendimentos na economia não produtiva, através da especulação em diversos ativos, desvirtuando assim a suposta ideia inicial da Lei.
Por sua vez o sector cientifico-tecnológico dos EUA está muito ligado a sector financeiro, do mesmo modo que o complexo militar industrial e ao forte sector de seguros privados.
Fazer eleger a elite norte-americana entre inversões industriais e em infraestrutura, mesmo não sendo de risco, que não estiverem apoiadas dentro mercado especulativo que multiplica os rendimentos em percentagens muito mais elevadas, que a simples económica clássica capitalista, não aparenta uma possibilidade real.
Para tentar combater os “silos de poder globalista financeiro” dentro da própria administração Trump, e da sociedade norte-americana em seu conjunto, seria preciso uma forte batalha interna e um forte apoio externo, não isento de graves riscos, mesmo da guerra generalizar-se em um confronto social profundo – que sempre pode derivar uma guerra aberta dentro dos Estados Unidos.
O risco é muito alto.
Trump poderia conseguir isso – chegando a um acordo prévio sobre a divisão do mundo, dentro dum novo esquema Tripolar – onde Rússia, China e os Estados Unidos – se reconhecessem mutuamente como novos poderes geopolíticos – com conexão e diálogo permanente. O que para muitos analistas requeria uma espécie de novo consenso ao estilo de Yalta – Um Yalta 2.0
Mas aliados profundos do partido republicano, que foram fundamentais no financiamento da campanha presidencial, como Lobby pró Israel – formando tanto pelas diversas associações judaicas sionistas, como pelos sionistas evangelistas cristãos, nunca permitiram um realinhamento deste tipo, que dificultaria a sobrevivência do Estado do Israel – Daí a dificuldade dessa possibilidade.
A necessidade de Eleição
"As flores do campo e as paisagens têm um grave defeito: são gratuitas" (do livro "Um mundo novo" de Aldoux Huxley)
Esta realidade cria uma certa fraqueza no novo inquilino da Casa Branca. Donald Trump, tem de eleger – e tal como se afirma em Mateus 7, 15-16: "Eles se aproximam de vós disfarçados de ovelhas, mas no seu íntimo são como lobos devoradores. Pelos seus frutos os conhecereis. É possível alguém colher uvas de um espinheiro ou figos das ervas daninhas?" - Assim que pelas ações da Trump, que darão seus frutos – mais nutritivos ou mais tóxicos – sabemos (após o ataque ao Irão, a expansão do endividamento por cima de 5 pontos, superando o 120% do PIB e, subida dos juros dos títulos do Tesouro a 10 anos) que o presidente se está a inclinar até um novo tipo de globalismo – onde o poder financeiro norte-americano tenha uma aliança com o poder tecnológico, energético e o sector das asseguradoras.
A manutenção da NATO – OTAN, baixo novos parâmetros de reparto, no seu conjunto do financiamento da mesma entre todos os seus membros, mas mantendo os norte-americanos o comando efetivo da mesma. E utilizando dita organização para evitar tentativas militares de industria concorrente (como o sonho duma independência militar da Europa) obrigando a seus sócios à compra de armamento norte-americano
A sua vez no plano da noosfera, Trump lança o novo pensamento da chamada “Iluminação Obscura” – do filosofo Curtis Yarvin, apoiada pelo importante empresário – cofundador de PayPal, Peter Thiel, e pelo influente assessor do novo movimento global de extrema direita, Steve Bannon… Aparenta ser o novo pensamento a trunfar dentro deste novo globalismo de caráter neo-fascista corporativo. Se bem aparenta estar num combate, permanente?, com o velho globalismo "liberal" e neo conservador, e com aquela agenda Woke progressista, impulsionada por filósofos como Yuval Harari – Em apariência existe uma guerra, entre estes globamismos, mas na raiz compartem o ideal duma nova sociedade tecnocrática – transhumanista – Uma "Nova Atlântida" de Bacon - desfigurada - onde a redução populacional será necessária ( pois com a revolução robótica – o proletariado assalariado não tem cabida social…) e o poder de uma elite corporativa no comando, impulsionará um novo contrato social – desvirtuado do de Rousseau .
No caso de Yarvin essa elite teria de tornar-se uma nova aristocracia – dentro dum novo organograma piramidal, com um novo poder monárquico na pratica, que substituía a “caduca democracia” – No caso de Harari essa elite tecnocrática avançaria com a agenda Woke, que por lógica evolutiva deconstruria o velho conceito de humanidade – muito limitado – abrindo novas possibilidades, que demandariam a hibridação de humano e cyber, permitindo acelerar o processo, a causa da demanda social.
O ponto de fricção aqui seria precisamente o percurso para chegar a esse objetivo comum de hibridação humano – cyber – dentro dum processo claramente aceleracionista. O mesmo Elon Munks, que tem certas divergências, agora com o presidente Trump, bebe das fontes de seu avó materno, Joshua Norman Haldeman – um dos impulsionadores do movimento tecnocrata no Canada.
Este novo poder nascido em EUA através do movimento MAGA – agora caminha firmemente – na aliança dum novo Poder Privado Corporativo Globalista Tecnocrático – de caráter neo-fascista; mas não todos no movimento gostam desta deriva. Alguns, como Carlson, seguem a sonhar com a Independência real dos Estados Unidos – dos poderes internacionais globalistas. Mas isso significaria uma ruptura com a anglosfera.
Yanus Varoufakis, explica magistralmente no que consiste esse novo Tecno-feudalismo, baseado no poder da Nuven – que controla as transações económicas – dentro da rede informática (internet) internacional. Solução de continuidade, que pensam muitos na elite da anglosfera, permitiria transitar dum sistema capitalista em desintegração ate um novo sistema que mantenha no topo – suas famílias.
Esse poder, na sua nova tentativa de expansão global (substituindo, em certos territórios e em outros convergindo, com o velho poder globalista, enquanto a elite ocidental, por cima, controla os dous lados da balança) começa embater com o novo poder do Sul Global. Sendo este poder ocidental privado de caráter progressista – Procurando este progresso agora, por meio duma aceleração da implementação da agenda da revolução tecnológica, que permita superar a crise do sistema capitalista atual – avançando ate um novo sistema Tecno-feudal de caráter hierárquico neo-fascista
O Embate
Esse confronto se verifica com um novo poder emergente – que utiliza o Estado – para confrontar o poder Privado Ocidental – Onde a Tríade Irão – Rússia – e China, por motivos de sobrevivência, começa a idealizar um novo organograma global – que expanda sua nova visão de Estado conservador – neo-socialista comandado o processo da revolução tecnológica, de maneira mais pausada, e mantendo a raiz tradicionalista de cada território, como garante da soberania estatal contra o poder global ocidental.
Como apontamento – achegar a conversa na Rússia entre o presente Vladimir Putin, e o máximo dirigente do Partido Comunista da Federação Russa – onde ambos chegaram a condizer, que um debate sobre um novo modelo socialista na Rússia deveria ser aberto a toda a sociedade, para a Rússia dotar-se dum modelo de estado que lhe permita superar – vencer o seu confronto com o poder Corporativo Privado, que tem, desde o ponto de vista russo, um ponto quente de atividade na sua guerra da Ucrânia (guerra que desde a visão de muitos analistas internacionais se converteu numa guerra, onde tanto a NATO como a Rússia lutam pela sobrevivência) –
Esta nova deriva russa , que tem a ver com as circunstancias internacionais (a direita ocidental ser anti estado ou de estado mínimo e, a aliança possível com a administração Trump, assemelhar difícil de concretizar) volta dar peso dentro da Federação russa, aqueles sectores que avaliam uma integração total do sistema político e económico russo com o chinês.
Este novo embate se desenvolve no mundo entre a tentativa Ocidental de isolar na região do próximo oriente (oriente meio) o Irão – após a tentativa falida de derrubar o regime xiita – e manter Israel como organizador das alianças e poderes dentro da região.
A sua vez tentar isolar China, em Ásia – Pacífico, por meio da pressão do AUKUS (Austrália, Reino Unido e seus Aliados como Japão, Coreia do Sul e Taiwan) – Impedindo a expansão das rotas da seda pela Ásia – tentado confrontar Índia com a China e o Paquistão – E tentando aproveitar as contradições entre certos atores regionais da Ásia, para organizar confrontos, revoltas e evitar a potencialidade das rotas do comercio chinês, se afirmem pela sua fluência…
Na África a tentativa de travar o impulso soberanista – dos países do Sahel – comandado pela figura mediática do presidente da Burkina Faso – Ibrahim Traoré – cuja aposta por um estado social que exercite o comando das industriais vitais estratégicas para o país, ao tempo que mantém a terra em poder estatal – não cedendo território a corporações transnacionais – se torna num inimigo frontal do poder Corporativo Privado. Sendo Traoré um firme aliado da Rússia, China, Irão e da Coreia do Norte…
No caso da Rússia, já temos comentado em outros textos – a implantação de bases NATO arredor das fronteiras ocidentais da Rússia – e em regiões da Ásia Central – na tentativa de pressão desde as fronteiras ao centro, junto as tentativas isolamento económico, comuns a outros países que desafiam as narrativas ocidentais …
Na América do Sul – tentando isolar uma futura tentativa soberanista do Brasil – e, a partir dum estado forte brasileiro, que recupere suas empresas estratégicas vitais - e desenvolvendo alianças regionais e mundiais, se afaste da anglosfera – atingido maior autonomia. Uma autonomia mais real, que lhe possibilite – reorganizar seu tecido industrial, económico, cientifico-tecnológico e, o que seria mais mortal para ocidente, procurar uma independência real militar (o Brasil hoje depende do guarda chuvas nuclear e militar do EUA) –
E com um esforço, em este sentido, aproveitar a situação de declínio evidente do poder norte-americano, no mundo, poder liderar uma futura tentativa de criar um poder regional- na América do Sul. Algo hoje muito difícil, a maiores desde que o presidente Milei na Argentina cedera sua soberania económica ao poder corporativo ocidental e sua soberania militar ao comando Sul norte-americano que opera e controla a Patagónia e as rotas do Pacifico Sul e Atlântico Sul – na América, junto o caminho a Antártida. Somando aqui as bases norte-americanas em Colômbia e a base inglesas nas Malvinas
Brasil está hoje no dilema de eleger o modelo do Poder Privado Corporativo, do presidente Javier Milei, na Argentina ou um modelo soberanista de Estado Forte – que confronte aquele poder privado. E, com o tempo terá de debater-se entre o modelo do tecno-feudalismo neo-fascista do poder privado ou o modelo tecno-social do poder estatal neo-socialista…
Sendo que a melhor alternativa para o Brasil, como a para Índia ou a África do Sul, seria poder seguir durante muito tempo a manter uma terceira via – e manter aberta suas sociedades a ambos poderes: Ocidental e do Sul Global – O que permitiria, de certa forma, um poder equilibrante entre ambos combatentes. Mas semelha que este espaço intermediario, está sendo fechado na guerra atual de cerco e isolamento dos rivais geopolíticos.
Por sua vez o Eixo Rússia-China-Poder Iraniano, agora já mais em colaboração reciproca (após o ataque de Israel e EUA ao Irão), por necessidade de sobrevivência (uma queda do Irão houvesse suposto um perigo existencial para Rússia e a China) – marca uma tentativa de reverter o jogo ocidental de implementar um isolamento regional e global de seus concorrentes. A Tríade China-Rússia-Eixo da Resitência oriental, nasce com a ideia de reforçar os laços associativos, políticos, culturais, cientifico-tecnológicos regionais e globais – tentando isolar o Ocidente dentro de as próprias organizações mundiais como a ONU (os vetos a favor de Israel dos EUA, são efetivos para manter Tel-Aviv com força combativa, mas mostram isolamento ocidental em um foro internacional) – assim como em foros regionais (tentando diluir as contradições dos diversos países e avançar nas unidades comerciais, políticas dos seus membros)
Deste embate pelo isolamento pode surgir um realinhamento de dous blocos – que pode marcar o caminho para uma guerra global pela controlo da humanidade – ou, uma derrota por asfixia político-económica dum dos contendentes, o qual lhe daria o comando ao vencedor para marcar os destinos do mundo…
Um terceiro cenário seria o acomodo geopolítico, após tentativa falida de isolamento ou esgotamento por pontos de fricção em aumento, que obrigaram a um recuo, de um ou ambos combatentes. Em este caso o Brasil, Índia e África do Sul (que juntos formam o ISBA) – poderiam do novo abrir essa terceira via, dum poder equilibrante, entre ambos modelos diferentes.
Consolidando, em esta terceira hipótese (a dia de hoje não contemplada, por estar em andamento a tentativa de isolamento e a guerra contra o isolamento) – Consolidando esta terceira via um poder mais democrático, que manteria sua posição, dentro do território do Brasil, Índia e África do Sul–
Atualmente as democracias ocidentais rumam a converter-se num poder totalitário corporativo (que dissolve pela sua natureza a democracia) – pelo que esta terceira via, se num futuro florescer – tomaria esse revezo das velhas social democracias do Estado Providencia, de meados do século passado, idealizadas na Europa - dentro dum marco de guerra fria - e e pressão do modelo coletivista soviético.
Lembrando que o mais importante para realizar uma tarefa política real, seria centrar o foco nas pessoas – mesmo dentro dum desenvolvimento geopolítico. Lembrando aqui as seguintes palavras de Thomas Moro, no seu livro “Utopia”:
"Não é injusto e ingrato que uma sociedade prodigalize tais presentes àqueles que chama de nobres (...), pessoas ociosas que vivem apenas de bajulação e da busca de prazeres vãos? Por outro lado, que benevolentes provisões são feitas para fazendeiros, carvoeiros, operários, carroceiros e carpinteiros, sem os quais ao Estado lhe seria impossível de sobreviver?"
O caminho de toda libertação é o caminho da Reintegração das partes na unidade – toda tentativa de dividir, isolar, afastar – para reinar e governar acima – mantendo guerras na base… Toda tentativa desde o poder que divide, de impor uma visão única e determinada do mundo é “isolacionista” e anti-evolutiva.
Pela contra o dialogo aberto, as tentativa de dissolver problemas através do mesmo e impedir guerras e confronto, formam parte do caminho evolutivo da união – que finalmente, na altura devida, no tempo chegado, reintegrará a toda a humanidade – em torno da “ajuda mútua” e a procura do bem comum…
Excelente reflexão e muito elucidativa 💯
ResponderExcluirUAU! VOU LER TUDOOOO COM BASTANTE TRANQUILIDADE, POIS CREIO NA HONESTIDADE DE VOCÊS!
ResponderExcluirDEPOIS VOLTAREI PARA TENTAR OPINAR. SE HOUVER CONDIÇÕES!
GRATIDÃO!