Os Contributos da Luz –- por Artur Alonso

 

A Procura dum Modelo Universal

As ilusões são necessárias, porque a humanidade passa por diversas formas de educação nos seus diferentes estágios de evolução”  (Rudolf Steiner – “A Ilusão Arimânica – Palestra proferia em Zurique, 27-10-1919) 


A busca da humanidade por um modelo político e social que pudera auxiliar a ordenação justa, equitativa e motivadora do necessário empreendimento (para melhorar a mesma comunidade), tem curiosamente balançado (no plano filosofico) entre dois conceitos: o isolacionista – integralista e o reintegracionista – universalista

O primeiro (isolacionista) baseado na ideia dum movimento “puritano” de uma visão única, que conduz a uma organização retilínea da sociedade. O segundo baseado num esquema de unidade dentro da diversidade, coordenada pela comum essência que une o todo, que se manifesta numa organizaçao holística da mesma - mantendo uma hierarquia "flexível".

No mundo Ocidental esse conceito vai derivar, pela influência grego-romana, no abrolhar do ideal Platónico versus o afirmar-se do ideal Aristotélico. O primeiro associado a procura dos valores éticos, morais, políticos, científicos da sociedade, partindo da base espiritual da mesma. O segundo tendo em conta esses mesmos valores (mas num segundo plano), associados, estes, a experiência material, interpretada através do sentidos - relativizando o componente ético - moral... 

Tal como afirma o estudioso canadiano Matthew Ehret, Platão afirmava a necessidade de um alma previa para deduzir os princípios universais constitutivos da mente. Por sua parte Aristóteles argumentava, no seu “Tratado sobre a alma”, que a mente é como uma página em branco, que através da experiência materialista forma, com o passo do tempo, suas próprias ideias (por causa da interação dos sentidos com o médio ambiente, que nos rodeia) sem precisar da alma.

Por sua vez Platão, em seu diálogo de “Menon” faz referencia ao sagrado do livre arbítrio, mesmo chegado a afirmar que um escravo é capaz de compreender, pela sua própria conta, os princípios básicos da geometria mais avançada. Enquanto para Aristóteles existe a imutabilidade da escravatura.


Desta segunda apreciação se deriva o conceito de servo – servidão – e de “aristocrata” não como conceito etimológico de “governo dos mais válidos” – senão como governo dos destinados, por linhagem, a mandar sobre aqueles que os servem. E, pelo tanto, deles podem servir-se.

Do principio, primeiro, platónico deriva o ideal de – todo ser humano poder alcançar o conhecimento. Sendo os “aristos” aqueles mais capacitados espiritual, intelectual e socialmente (habilidades que vão desde a ciência, arte, artesanato, comércio…) que deveram guiar – conduzir – e ajudar a seus irmãos no caminho a abrir as portas, pelas que transborda, o diverso conhecimento – que nasce duma mesma essência

Aqui os governantes, pela contra, são servidores do povo

Assim que os movimentos mais “materialistas” – mesmo tendo um suposto ideal religioso ou espiritualista – mesmo sendo de outras tradições – comungam com essa visão aristotélica (de não precisar da alma – que é o recetáculo de nosso espírito imortal - para interpretar a realidade – Somente precisamos dos sentidos). Esta perceção do mundo vai formar a base da essência isolacionista e do Império Excecional. Em esse império excepcional o religioso - a mesma existência de Deus - seria confirmada pela razao e os sentidos. 

Enquanto os movimentos não materialistas – mesmo não tendo um ideal religioso ou espiritualista – mesmo não sendo ocidentais – vão trabalhar em favor dessa visão platónica, que vai formar a raiz da essência reintegracionista – e do Império Universal. Em este Império Universal o fato a existência dum Criador ou Causa Primera confirma a Criatura - ou causa segunda - No caso dos ateus - o Todo confirma suas partes... ... 

A Excecionalidade isolacionista imperial mantém a o paradigma dum Poder com uma visão única, ao qual por ordem evolutiva – lhe corresponde comandar o resto das coletividades baixo seu domínio. Estas comunidades tem de servir aquele poder central.


Pela contra a Universalidade reintegracionista se baseia num poder síntese – de todas as sensibilidades, culturas e povos baixo o seu domínio. Todas as comunidades servem a essência comum que unifica – de forma holística – e o centro redistribui a síntese, do todo, como raiz dessa natural unidade.

O Império Universal se proclama multi-confessional, multi-étnico, multi-cultural e multi-nodal. Por sua vez o Império Excecional – pode ser mais permissivo ou mais restritivo (permitir por baixo uma certa diversidade ou não) – mas vai trabalhar para desvincular aquelas outras culturas da sua raiz.

Outros povos, outras sensibilidades deverão abandonar seu caminho de acesso ao conhecimento primordial - Retirá-las da sua tradição e encaminhá-las para otra versão – ideal de unidade que é: a daquela cultura, arte, pensamento cientifico que se entronizada como superior – único - Assim funciona, na prática, o Império Excecional.

O isolacionista Império Excecional nos monstra que o centro "superior" deve ser visionado como mais "elevado", criando toda uma cosmovisão de modelo superior central a imitar – e modelos “inferiorizados” periféricos a desaparecer … Pois ele se reconhece como único possuidor da verdade – herdeiro da linhagem da “luz” – e sua hierarquia no poder – como única herdeira do verdadeiro conhecimento.

Esta dicotomia tem embatido na humanidade, durante todo o período de construção (início e auge) e destruição (queda) das diversas civilizações e seus legados

Para nós, enquanto a humanidade não atingir o elevado patamar de “perda do medo à morte” e se poda realizar o verdadeiro livre arbítrio “liberalismo espiritual” – associado à verdadeira comunhão social e cultural, não pode haver verdadeira libertação. 

Enquanto a evolução humana atingir esse “elevado patamar” (que permite a união da senda de luz da direita com a senda de luz da esquerda) – a única verdadeira via de elevação da tónica evolutiva humana – passa, pelo momento, pelo poder civilizacional do Império Universal Reintegracionista (aquele que une o diverso pela essência espiritual comum)


Sendo, que no seu caráter institucional o Império Universal Reintegracionista – trabalha com o conceito de “Sinarquia” – ordem hierárquico estabelecido no mérito – onde o governo e os governantes visam trabalhar para a população (não aproveitando-se da população) – em contraponto a desordem – Anarquia – que trabalha a favor do caos organizado, para favorecer a rapina das riquezas dos povos, em favor duma elite que manipula (nas sombras) aos impérios isolacionistas…

O Império Universal une seus esforçoes em favor do bom caminho que harmoniza a lei humana, com a lei natural e a Lei Cósmica – Beneficiando o Dharma (senda da redenção espiritualista) – em contra do Adharma (lei do mais forte – melhor adaptado – mais “esperto”- e pelo tanto com direito a impor) - noção que marca o caminho da perdição materialista.

A Instauração do Império Universal Reintegracionista – e a sua Sinarquia Institucional – trabalha em favor da Reconexão: seres humanos, natureza, espírito. Acumulando forças para atingir a Redenção ou possibilidade de recuperação do poder espiritual libertador dos indivíduos e da coletividade. Construíndo e em favor da Reintegração das diversas faiscas de Luz – no seu fogo sagrado original – “Agni” dos indianos – Aquela referencia na parábola da volta do “filho pródigo a casa". O local do Pai e da Mãe Cósmicas” – uma vez aperfeiçoado seu saber, no percurso material - físico, para obter aprendizagens nesta nossa realidade…

Hoje vamos ver alguns momentos da historia da humanidade, sucedidos em diversos pontos do planeta, que contribuíram decisivamente para a afirmação de esse Império da Lei, com suas luzes e sombras.

Vamos destacar as luzes, pois as sombras já tem sido muito referenciadas em outros estudos… Para assim, todos e todas, poder observar como a marcha do sacrifício, perseverança e vontade de mudança dos bons seres humanos, não tem sido em vão.

Essa marcha, tem permitido o acumulo de experiências e saber, que hoje permitem, de novo, manter a chama primordial do conhecimento viva e alumiando a rota da Libertação. Rota que ainda estando muito distante nos dá esperanças de seguir avançando e em favor do “bem comum” ... Nos permite seguir lutando…


Contributos ao Império Universal


Poder Acadio -

Sargão de Acadia, cerca de 2350 a.C. - e sua filha Enheduanna - Suma Sacerdotisa de Inana -Isthar – que nos ensina o equilibro do sagrado feminino e masculino – Assim como o conhecimento dos mistérios da Mãe Cósmica, que se encarnam na mãe natureza – e na mulher humana como ponte entre esses dois saberes. Sabedoria nascida do Amor e da profunda Compreensão  de aquele Poder de receber a semente, do feminino  é capaz de fertilizar, com a intenção de gestar e gerar a vida…

Este poder imperial contribuiu para unir, no respeito a diversidade, os saberes da Mesopotâmia


Poder Babilónico -

Hamurábi, cerca de 1700 a.C simbolicamente recebe o código das leis e sua autoridade (simbolicamente) das mãos do Deus-Solar Shamash – Legalização do ideal de monarquia divina – Assim o podemos observar nos relevos desenhados (que se conservam ainda a dia de hoje) onde observamos Shamash (sentado) outorgando a autoridade a Hamurábi

Nabucodonosor II (605-562 a.C)– levanta o templo de Shamash, na cidade de Sipar (atual local de Abu Habba ao sul de Iraque), no entanto esta construção começa a ruir 45 anos após a sua inauguração, ficando a ideia de que Nabucodonosor não tinha compreendido as fundações do Templo.

Será, posteriormente, o rei Nabonido (556-539 a.C), casado com Nitócris (filha de Nabucodonosor II) quem achara as fundações do Templo (feitas no Império Acadio, nos tempos do rei de Narã-Sim, filho de Sargão). Belsazar, filho de Nabonido – que co-governará junto a seu pai - será o último rei da Babilónia. O persa Ciro II conquistara este reino, em declínio, onde o culto lunar ao Deus Sin – era já mais relevante que o culto solar a Shamash.

No entanto Ciro II, o persa, vai receber o legado mesopotâmico do Império Universal que reintegra (e com ele o seu “saber Primordial”), que no seu declínio, se tinha perdido em Babilónia. Posteriormente, estes valores serão transplantados na cultura helénica, com a conquista de Alexandre, filho do rei Filipo da Macedónia.


Poder Chinês

Com a Dinastia Zhou (1046-256 a.C) – vemos claramente manifestado o conceito do Imperador – Filho do Céu – governante por direito divino, que reforça seu estatuto – de intermediário entre os homens e a divindade. A filosofia chinesa tem, em este período, as suas origens: Taoísmo – Confucionismo – Moísmo – Legalismo…

Sendo o Moísmo que nos vai transmitir a Ideia do Amor Incondicional ou União Universal – fundamento mesmo do “Império Universal Reintegracionista” – como ideal a alcançar (como horizonte) – mesmo que de ser obtida esta "utopia" diluiria (dissolução) o mesmo Império, ao chegar-se a fase final de unidade espiritual simétrica, e ruptura los laços com a materialidade. 

O ideal de todos serem iguais diante do céu – e a procura duma Lei humana, que trate de forma equitativa aos membros desta comunidade, em comunhão com a lei natural – e aqueles bons princípios celestiais – que estão resguardados na boa tradição primordial - navega tanto no moismo como no taoismo. Estas filosofias têm como ensinamento básico a aprendizagem do “desapego” ou desprendimento do material – passo prévio para alcançar a "imortalidade" espiritual.

O taoísmo, deste jeito, enfatiza a práctica duma vida acorde com a ordem geral do universo e a descoberta daquela “fonte-origem” ou força motriz, por trás do fluir de tudo o que existe. Essa ordem e harmonia, tem como base na terra – o mesmo Império Universal Reintegracionista - e seu modelo Institucional Sinárquico.

Esse Império, que a vez fomenta, entre seus súbditos, os três tesouros do “tao”: compaixão, moderação e humildade – encaminha à cidadania a simplicidade, serenidade, contemplação, compreensão e harmonização com a natureza. Deste bem fazer chega, pela observação exterior, um conhecimento aplicável em nossas vidas e pela introspeção interior a possibilidade da transformação interna.


Aqui o "taoismo" junta harmoniosamente os dois caminhos: o inferior (Aristotélico) do conhecimento pelos sentidos – material; e o superior (Platónico) do conhecimento Primordial espiritual – dos mundos elevados – O problema radica quando o primeiro caminho é mal aplicado – e o segundo ignorado…


Civilização Mesoamericana

Em ela temos o caminho de ascensão – evolutivo – da “Toltecayoth” – representando pelo Avatara – filho de Deus – Quetzalcoalth.

A primeira referencia a ele nos vem do período pré-clássico (século I a.C) Mas será no período clássico tardio quando sua influência se vai espalhar por toda a região. Os ensinamentos de Quetzalcoalth coletados em documentos chamados Huehuetlahtolli - ou "Palavras Antigas" – promovem a compreensão da interconexão de todas as cousas, o crescimento intelectual e a verdadeira criatividade. 

Aquela ação que cria em conexão com os mundos subtis mais elevados – servindo de ponte para trazer a beleza à Terra. Também potencia a transformação interna, reconhecimento das próprias sombras e transmutação por meio da harmonização dos aspetos duais da realidade.

Quetzalcoalth está associado a “aurora da manha” – referencia ao planeta Vénus- como Cristo ou Lugh.

É associado ao ouro metal solar, da pureza e brilho; e ao elemento ar, do poder da inteligência, e também ao signo mercurial de gémeos – possibilidade de harmonia na dualidade –

Nezahualcóyotl (1402-1472 d.C), o rei poeta e filosofo de Texcoco, vai ser o represente no período pós-clássico da "Toltecayoth" – realizando tarefas de bom governo, projetos de infraestrutura urbana favoráveis à população e harmoniosos com o meio ambiente.

Grande humanista, trabalhou para dotar de ética o mundo académico.



Atualmente se lhe reconhece em todo o México, onde a parte de monumentos, estátuas, nome de um município, sala de honra na UNAM (Universidade Autonoma de México) – mesmo aparece sua figura no bilhete de cem pesos.


O Centro Civilizacional Celta

No caso do mundo celta, autores galegos como Branca García Fernández-Albalat ou André Pena Granha, tem estudado profundamente o panteão, cerimoniais da religião celto-galaica, assim como a organização social e sacerdotal.


Acrescentarmos aqui somente a ideia do conhecimento druídico solar, vetor mais elevado que movimentava a sociedade e organização celta (que não constava dum centro imperial) ter sido subtilmente introduzido no cristianismo – através das lendas artúricas e da Demanda do Graal e a matéria de Bretanha, a partir de toda a Idade Media – ciclo do mundo feudal-senhorial – Daí a mística cavaleiresca – estar, em este ciclo, muito presente.

Ressaltar aqui o trabalho de Leonor de Aquitânia, como padroeira de figuras literárias de relevo como Bernart de Ventadorn, Wace e Benoît de Sainte-Maure. A importância da divulgação literária, que velava os mitos celtas, também “subtilmente” devolve a figura do “sagrado feminino”, que tinha sido relegada em aquela época.

Não esquecer que Leonor fora educada numa corte muito requintada, instruída e literária; havendo sido seu avó Guilherme IX, o Trovador.

 Leonor de Aquitânia foi uma mulher muito surpreendente. Era fluente em várias línguas; estudou astronomia, matemática e filosofia. E seu caráter e temperamento ficou, para a historia, bem representado na sua participação na “Segunda Cruzada” em terras da Palestina.   

Poder Assírio

Assurbanípal (668-626 a.C), com a famosa biblioteca de Nínive, contendo milhares de placas em argila com textos em escrita cuneiforme; que entre outros tesouros nos legou uma versão fulcral da “Epopeia de Gilgamesh”. 

A epopeia é um texto de interpretação exotérica e esotérica (que se calcula ter sido escrito em torno a 2 mil anos a.C)… Texto que promove o individual “caminho de transformação interna” do ser humano instintivo para transformar-se num novo ser humano racional e intuitivo.

Marca um roteiro na evolução – e possibilidade de encontrar nosso potencial espiritual – e tornar-nos “eternos”, liberados, sem ataduras ou amarras…

Fala o texto do caminho evolutivo em procura da luz do conhecimento, saber que nos permita descobrir o segredo da unidade – o saber original. Este caminho místico de conhecimento interior e relação harmoniosa com o exterior é uma das colunas basilares de todo Império Universal Reintegracionista. Pois reintegrar é integrar o disperso no todo.


Poder Medo passa às mãos dos Persas -

Dinastia aqueménida - Ciro II o Grande (575-530 a. C) - Dário I (550-486 a. C)

Com Ciro II – temos um dos mais antigos referentes ao respeito pelos direitos humanos – ao libertar escravos e permitir o direito das pessoas a escolher sua fé. Estabelecendo uma certa igualdade dos povos membros do seu Império, como garantia de paz, concórdia e comum convivência. Decretos gravados em escritura cuniforme em cilindros de argila falam a este respeito.


A prémio Nobel da Paz, do ano 2003, a iraniana Shirin Ebadi denominou o “cilindro de Ciro” como a “Primeira Declaração dos Direitos Humanos” – dado parte das suas disposições serem idênticas aos primeiros quatro artigos da “Declaração Universal dos Direitos Humanos”


O centro Civilizacional Budista

A partir do V a.C – as ideias do Buda Sakyamuni ("sábio do clã dos Shakyas"), Sidarta Gáutama, se estende pelo Oriente. O ideal de que “existe um caminho para a libertação do sofrimento” – toma corpo e vai, ir penetrando em toda filosofia, ate chegar atingir todo o Orbe, nos nossos dias.

A procura individual – interna, da superação de Dukkha (sofrimento) por meio de atingir o Nirvana, que nos permita sair da Roda de Samsara (encarnações e desencarnações sucessivas) com esta nova achega se complementa. 

Apoiado o ser humano, no seu empenho, pelo reto agir da doutrina Dharma e da comunidade Shanga. Esta cosmovisão vai ativar centros geográficos civilizacionais como o Império Jemer no sudeste da Ásia, cujas ruínas da grande e, em seu dia, esplendorosa cidade de Angkor Wat, ainda hoje, aos viajantes maravilham.

Poder Helénico -

Alexandre o Grande (356-326 a.C) - Dinastia Ptolemaica (303-30 a.C) – Dinastia Seleucida e outras surgidas das divisão do Império do próprio Alexandre (filho de Filipo), após sua morte, vão criar centros civilizacionais que serviram de ponte para, que o conhecimento mais profundo de Oriente e Ocidente se enraíze – Permitindo, mas tarde um florescer da cultura dominante na área mediterrânea: a do poder de  Roma.

Poder Fenício -

Família Barca - Amílcar, Asdrúbal, Aníbal (238-219 a.C) - confrontou a isolacionista família Hannon - o corrupto senado cartaginês  – e o poder “predador” Romano

Define o historiador espanhol, do século XIX, Modesto Lafuente a Aníbal, no seu trabalho “Historia General de España”: “Educado entre o barulho das armas, seu corpo endureceu no exercício da guerra (…), ávido de glória, com espírito arrogante e corajoso, tão calmo no perigo quanto ousado no combate, tão enérgico quanto prudente e tão sábio quanto espirituoso, reconhecido pelo melhor cavaleiro e pelo melhor peão de todo o exército, tão hábil em formar o plano de uma expedição como um trunfo para executá-la, tão disposto a saber obedecer quanto é capaz de saber comandar, tão paciente e longânimo no frio e no calor quanto é sóbrio e temperante no comer e no beber, modesto no vestir e habituado a dormir no chão duro, o primeiro sempre no ataque e o último na retirada…”

Estas caraterísticas, se bem enfeitadas pela visão “romântica” nacionalista (própria da época do autor) – é a credencial que define corretamente um guerreiro decidido – que no caso de Anibal, por referenciar-se no arquétipo dum Alexandre – “protetor dos povos” – transcreve o verdadeiro “arquétipo” do aspirante a “governante” dum império universal. 

Lembremos aqui que Alexandre, o grego, se observava, a si mesmo, no espelho do herói da “Iliada” – Aquiles – aquele que morre jovem para sua gloria permanecer sempre “resplandecente” – com o fulgor da mocidade.

Esta definição poderia bem recair, pois, sobre um Ciro ou Dario da Pérsia, um Viriato ou Vercingetorix, um Napoleão, um Zapata ou em nossa historia mais recente um Zhukov– o quais quer um que trabalhasse, na história, a favor do Império Universal Reintegracionista.

Este aspecto tem uma importância basilar a hora de definir um dos dous “arquétipos” mais poderosos na fundação do “Império Universal”: o do “protetor” – a coluna do rigor, dos guerreiros e o do sanador - a coluna do amor dos sacerdotes. 

Esta outra coluna, a do amor – correspondente aos sacerdotes, herdeiros dos verdadeiros ensinamentos dos “Avataras” filhos amorosos da “divindade” nos remete aqueles: Apolo, Júpiter, Odin, Quetzalcoalth, Lugh, Baal, Krishna, Cristo…e outros. 

No caso celta estes arquétipos, ainda trazem reminiscências dum período matriarcal – e ainda mantém nomes de mulheres como a Divina Brigantia e suas sacerdotisas, ou a guerreira rainha Budhica, recolhida pelos historiadores do Imperador Claudio, quando a invasão da Grão Bretanha.. Mas no resto de tradições já o “poder patriarcal” tinha tomado conta destas sociedades: somente o arquétipo do “guerreiro masculino” vai reluzir.

A mulher retirada do fogo da batalha, do fogo do altar e do trono da governação fora encadeada a fogo do lar: cuidado da família. Desse triste destino, dependente do poder masculino, nos falam as ilustras tragédias gregas como: Ifigénia, Medeia ou As troianas


Poder Romano


Do poder romano temos sobrados referentes, pelo que seria melhor ressaltar, que dentro deste império se deu o travasse do ideal politeísta e da herança do “Império Universal” helenístico, de convivência multi-étnica, com diversidade confessional e convivência entre diversos cultos, que se uniam pela essência; em favor dum novo conceito de universalismo católico – cristão (por necessidades de continuidade imperial, num tempo de confrontos entre credos), que teria como eixo basilar da mudança o famoso “Concílio de Niceia” de 325 d. C, onde o Imperador Constantino, mudará a suposta neutralidade do Edito de Milão de 313 d. C – fazendo o cristianismo a religião oficial de seu império.

Facto que no Oriente permitiria sobreviver o Império, 1000 anos mais, após a queda de Roma, no 476 d.C


O centro civilizacional Cristão

Por meio de Santo Agostinho de Hipona (que introduz certas ideias de Platão) e de Santo Tomé de Aquino (que introduz certas visões de Aristóteles) – A inspiração da filosofia grega entra no cristianismo, permitindo aquela famosa “união” entre a fé cristã e a razão.

O cristianismo com o fortalecimento da ideia dos homens iguais ante Deus – dou uma achega muito importante a visão de comunidade em igualdade, caminhando em comunhão com o mais elevado e transcendente

 A figura central do Cristo vai ser o eixo permanente do pensamento ocidental, durante séculos, ate praticamente a chegada da modernidade e pós-modernidade. E mesmo estes movimentos não poderiam ser entendidos fora do marco civilizacional cristão ocidental onde surgiram.

Como interpretar os ensinamentos do Mestre – filho de Deus – vai ser a constante de diversos movimentos e suas figuras teológicas, filosóficas e mesmo políticas mais relevantes. Não se pode esquecer que a figura de Cristo e seus ensinamentos inspirou diversos tipos de movimentos e aquele Amor Incondicional, do “amai-vos os uns aos outros” segue ser o horizonte final – para o qual se encaminha a fundação de qualquer Império Universal Reintegracionista …

O centro civilizacional Islâmico

Com a queda do centro geográfico romano do Ocidente – e o surgimento dos condados feudais – o declinar do legado helenístico grego (que trazia já inoculado em seu interior consigo saber egípcio, mesopotâmico, persa) se fez preciso levantar um novo foco civilizador (que mantenha este edifício levantado em milénios em pé). Esse novo epicentro vai ser ter no despertar islâmico uma nova versão de Império Universal Reintegracionista – que se inicia com a Dinastia Omeya, a partir do 661- Sendo Damasco sua capital em destaque.

Com a fundação do Califado Abbasi, em 749 – parte da dinastia Omeya foge às terras do Al-Andalus, na península Celtibérica. Onde essa ideia de “Império Universal Reintegracionista” vai permitir o “reinado em comunhão” das três comunidades abraámicas: judaísmo, islamismo e cristianismo (não sem suas situações conflituosas e peculiaridades) até seu declínio, no final do século XV

A dinastia Abbasida também terá seu legado de “Império Universal” – durante o período do Califa “Al-Mansur” - fundador da cidade de Bagdade, que no século X chegaria a ser a capital mais grande do mundo – No período do Califa “Al-Rachid” fundador da biblioteca de Bagdade – E no período do Califa “Al-Mamud” onde se estabelecerá a “Casa da Sabedoria” e onde movimento “Muztazilin” vai recreiar a o ideal integrador do “Império Universal Reintegracionista”

Finalmente fundamentalistas obscurantistas isolacionistas tomam o poder em Bagdade e iniciam a decadência deste local ate, que posteriormente os mongóis e turcos (aliados da Veneza aristotélica) deem conta daquele velho esplendor.

Os “Muztazilin” acreditavam que o mundo metafísico, que inclui objetos e propriedades, assim como espaço e tempo, causa e efeito; poderia ser fonte não somente para conhecer o mundo físico, se não também a natureza de Deus e da criação

Pela contra os integristas isolacionistas fundamentalistas acreditavam numa leitura literal do Al-Corão – no ideal de um só nome para Deus, uma só forma de adoração e um único livro sagrado.

Esse poder obscurantista acabará por apagar chama da luz Islâmica no Oriente, a qual era o centro do mundo, naquela altura, tal como nos lembra Toby E. Huff, em “The Rise of Early Modern Science: Islam, China, and the West" era de Ouro do Impñerio Abbasida: “Em virtualmente qualquer campo de pesquisa - em astronomia, alquimia, matemática, medicina, ótica e assim por diante - os cientistas árabes estavam na vanguarda do avanço científico”

E foi assim como a luz do Oriente Islâmico manteve a chama do “fogo sagrado” do conhecimento humano (legado por "Prometeu") ate começar Europa preparar seu revezo -com o Renascimento. E foi por causa do setor obscurantista tomar o poder que o Islão vai perder esse centro cientifico-espiritual, que com tão árduo esforço levantará a Escola filosófica Muztazilin – da famosa “Casa da Sabedoria”


Movimentos sociais e culturais em favor do Império Universal


O humanismo Renascentista

Como já temos falado, em diversos textos, aquele situar o homem no centro do universo – o “antropocentrismo” do Renascimento – e seu humanismo, tem muito a ver com aquele ressurgir da “Academia neoplatónica” pela chegada do Mestre Pleto, de Constantinopla (do velho Bizâncio da dinastia neo-platónica dos Paleólogos) – e pelo desempenho posterior do Mestre Marsilio Ficino, que juntamente com Pico della Mirandola vão dar seguimento a todos os trabalhos humanistas, iluministas e espirituais da Idade Média – associados àqueles centros cabalísticos da Provença, Girona e Castela (entre outros).

Assim como os tratados alquimistas (de transformação do pó material no ouro espiritual) de figuras como Cornelius Agripa, e humanistas e cabalistas como Johan Reuchlin e outros…


A Escola de Salamanca

Centro do pensamento humanista no Império Espanhol – O jesuíta Juan de Mariana, figura chave deste centro intelectual, cujo humanismo – e visão da “bondade natural” do ser humano inspiraria aos intelectuais da “Revolução francesa” –

De Mariana escreveu em seu “De rege et regis institutione” (Toledo, 1599) suas achegas políticas ao que deveria ser um Império governado pela Lei Moral. Escrito que se contrapõe ao “maquiavelismo obscuro”, auxiliando-se das teorias que Erasmo de Roterdam, postulou no seu “Enchiridion”

De Mariana faz fincapé nas 4 virtudes cardinais de Platão como base para retidão dos monarcas: Temperança, Prudência, Fortaleça e Justiça; adaptadas ao catolicismo por Santo Agostinho de Hipona e Santo Tome de Aquino.

A Temperança que permite o domínio da vontade espiritual sobre os instintos animalescos, permitindo um equilibro interno.

A Prudência que permite o discernimento racional e do conhecimento elevado – transcendente, que pode melhor distinguir a senda que conduz ao verdadeiro bem, no meio das encruzilhadas da vida.

A Fortaleça que assegura manter constante o caminho do bem diante das dificuldades

A Justiça que permite dar-lhe a cada um o que lhe é de lei.


Movimento Revolucionário pelos direitos da cidadania - Independência dos Estados Unidos e a Revolução francesafavorecem o direito a igualdade diante da lei, a liberdade de pensamento e consciência, a liberdade religiosa, de circulação e de expressão.

Em Diderot temos o compromisso com a verdade, a procura do bem comum, e a capacidade natural do ser humano de diferenciar o bem o mal

O ideal maçónico terá grande relevo nestas revoluções tanto de finais do século XVIII como de inícios do século XIX – Mesmo que suas fações não foram homogéneas: indo dos revolucionários norte-americanos em contra do Império Britânico (patriotas soberanistas), àqueles primeiros intelectuais revolucionários da “Enciclopédia francesa” mais aliados dos poder britânico. Ou Robespierre – Napoleão mais do sector patriota soberanista francês. Daí muitos analistas ver nas purgas de Robespierre uma limpeza do setor pró-britânico. E não podemos inferir o por que Lucien Bonaparte – após o golpe de Brumário, de 1799, interrompeu o já pouco democrático“Conselho dos 500” (junto seu irmão Napoleão) pronunciando um discurso contra os “conspiradores britânicos”

 As guerras entre as diversas visões “maçónicas” e de outro tipo de organizações secretas ou discretas, permeiam toda a historia da humanidade… Como um exemplo recente temos o primeiro desfile militar soviético, do dia da Vitoria, após a II Guerra Mundial, na praça vermelha de Moscovo, onde aos pés do Mausoléu de Lenine, foram arrojadas as bandeiras do III Reich e a maçónica tricolor bandeira russa – um sinal evidente de que o poder “maçónico soviético” (segundo a visão Estalinista) vencera ao poder maçónico russo aliado dos britânicos e a poder nazista da “Sociedade de Thule” - Não esquecer que o fundador da Sociedade Secreta de Thule – Adam Alfred Rudolf Glauer - era mação.

Os movimentos socialistas de meados do século XIX a meados do século XX – trabalham em favor do reconhecimento dos direitos económicos, sociais e culturais dos operários, oprimidos e “excluídos” do mundo - e também bebem, a seu modo, do ideal maçonico.


O Império Universal Reintegracionista hoje

Sempre que um centro geográfico cultural decaí, por inercia um novo deve levantar-se, para continuidade da marcha humana, em seus trabalhos para atingir a evolução, evitando a entropia do velho possa gerar caos, insegurança continua e implosão com perigo de extinção

Hoje vemos sintomas alarmantes de declínio entrópico no Ocidente: somente temos de visionar os últimos “festivais da canção” de Euro-visão ou a recente transmissão do cerimonial da inauguração e feche dos Jogos Olímpicos de Paris, para que quaisquer pessoa com um mínimo de visão crítica possa observar: a banalização do mal, a exaltação da ignorância, a normalização da procura de satisfação dos instintos mais baixos do ser humano...

O deterioro das normas morais individuais e coletivas, a importância da obtenção de lucro, poder e fama sem importar os meios, a falta de escrúpulos. A normalidade da corrupção, o trunfo da vaidade, da arrogância. O império da demagogia. Modelos sociais e culturais de deformação estão a mostrar-se no Ocidente, fazendo visível seu declinar no Abismo (o Averno - Inferno simbólico de “castigo eterno”) – Onde se sofre pelas chamas – E pelas chamas, em ocasiões, simbolicamente também se purifica …


Ocidente vive horas de queda no inferior, e outro novos centros – começam a rebelar-se contra seu domínio. Dessas novas sinergias, alianças e espaços novos, dos quais o poder ocidental começa pelo encolhimento da sua antiga espiral de expansão, (a dia de hoje em contração) a retirar-se, deverá surgir um novo conceito de “Império Universal Reintegracionista”

Agora os trabalhos de formação duma nova arquitetura económica -financeira, com novos relacionamentos políticos, sociais, culturais – em comunicação inter-nodal, multi-étnica, multi-confessional e multi-cultural, irão criando a nova rede e o novo centro “multi-polar” do qual ira surgir essa novo fluxo civilizador.

Centro que como todos terá suas luzes e sombras. Mas no seu período de formação, e no posterior de assentamento – a luz irá brilhar mais, ocultando as sombras. Será no período de declínio desta nova experiência humana, que as sombras ofuscaram a antiga luz, como hoje passa no Ocidente.

 Os fundamentos da Lei humana – Sinárquica – que rege o Império Universal, se baseia numa procura de religar a governança humana com a lei natural e a Lei Cósmica. Voltando aquela premissa de Kepler que acreditava numa Consciência Criadora – Mente Una – que regula as atividades da natureza através das Leis Cósmicas. Com Kepler voltamos reconciliar a ciência empírica com a ciência metafísica dos antigos gregos.

Sabendo que os gregos carregavam essa ciência metafísica, baseada nos princípios da ciência egípcia, mesopotâmica e persa… E, agora sabendo nós, que esta ciência – da “Sabedoria Primordial das Idades” estava embutida nas velhas filosofias, tanto de Mesoamérica, África, como Ásia e a Europa druídica celta… Podemos afirmar que esse futuro Império Universal Reintegracionista, em fase inicial de andamento, terá que voltar a esta raiz – para afirmar-se.

E qual será esse centro e como se ira a realizar terá de ser motivo de outro texto…



Lembrar-mos, somente aqui, que a capacidade de erguer e manter firme, durante seu ciclo pertinente, um Império Universal Reintegracionista – depende de seres humanos que tenham compreendido o Mistério da Esfinge, que se resume nas palavras da ação dos verbos: Saber – Ousar – Querer – Calar

a Cabeça humana – Inteligência – nos lembra o SABER

o Peito e Dorso de Leão – o valor de atrever-se – nos fala do OUSAR

Ancas de Touro – Força da Vontade Invencível – insinua o QUERER

Asas de Águia – capacidade de aprender da experiência em silêncio – afirma seu CALAR  

Por que o Império Universal Reintegracionista tem a capacidade de unificar as diversas culturas, mantendo seu caminho e a vez unidas pela essência comum?... Porque o Imperio Universal tem sua raiz oncológica no milenario saber de nós ser parte do Todo e o todo estar sempre em nós, tal como afirma Nassim Haramein :“Somos universo vivendo uma experiência humana. Somos a flor que se abre, somos a árvore que cresce. Somos a harmonia do mundo natural. Somos o universo infinito contido na estrutura finita do nosso ser”

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