A PIRÂMIDE INVERTIDA – QUEDA DO PODER OCIDENTAL? Por Artur Alonso
Na nossa etapa histórica atual a configuração geopolítica está dominada pelo embate do globalismo financeiro internacional do modelo de controle privado corporativo, contra o soberanismo regulador do modelo de controle estatal. Em este período de poder mercantil virado a financeiro vemos já claros sintomas de decadência deste mesmo poder, e tal vez já o começo da transação em favor de um novo poder cívico. Sintomas palpáveis, desta lenta deslocação, aparentam ser o crescimento depoderes mafiosos, de exércitos e milícias ligadas ao narcotráfico, a trata de seres humanos… Junto ao deterioro da rede natural que gera a vida (por causa da sobre exploração dos recursos, contaminação, deforestação), profunda crise económica,social, e de valores.
O DEUS MERCADO
O “Deus Mercado” triunfal durante o período de poder unipolar ocidental, a partir da queda da União Soviética, que trouxe a efémera ilusão dum “continuo progresso” e prosperidade compartilhada, finalmente abriu os olhos para outra mais triste realidade: A mercantilização da vida.
Os valores éticos (sonhados pelos nossos avós na sua luta contra o nazismo na II Guerra Mundial),foram absorvidos (no final da Guerra Fria) pelo valor “fulcral” do culto ao “Deus Mercado” –
Abandonando a virtude do trabalho, a honestidade e a lealdade, que de maneiras diversas (com maior democracia ou maior rigidez) foram exaltados em ambos lados do muro, durante o período da bipolaridade mundial, entre os modernos e progressistas Estados Unidos e mais tradicional e conservadora União Soviética. Sem que em nenhum momento este cultuar de valores fosse perfeito. No entanto eles motivaram a reconstrução daquelas novas sociedades.
Finalmente com o trunfo do Poder Mercantil sobre o poder Comunista, a necessária sociedade tampão dos mais equilibrados “Estados Providência” ou do “Bem Estar” europeias, foram demolidos em favor das proclamas neo-liberais e pós-modernas.
Mercantilizada foi a vida quotidiana, a cultura, a educação e a formação: os valores substituídos pelo consumo.
Os coletivos sociais perderam dinamismo e entraram em uma fase de narcotização profunda, a través de uma cultura de “entretenimento das massas” programada em favor do enriquecimento imediato. Os meios de comunicação foram os mecanismos adequados para entorpecer as mentes das pessoas.
A HIPNOSE
As pesquisas académicas em favor da “manipulação mental” tomaram forma muito alem dos clássicos estudos de “engenharia social” – ate chegar ao adormecimento e deformação de milhares de seres humanos por meio dum sistema de valores culturais invertidos, onde a virtude principal se tornou na invirtude de obter dinheiro rápido para cumprir desejos, fantasias e sonhos efémeros;criados numa necessidade artificial de maior “consumo” – Gerando uma sociedade de acumulo de resíduos.
Novas Gerações que deveriam converter-se no revezo das gerações que arduamente combateram por melhorar a vida física, psicológica e a ambiência espiritual das suas respetivas sociedades, são em realidade jovens massas absorvidas pelo impulso imediato de satisfação de todo tipo desejos (desde os mais triviais aos mais espúrios) e o medo – pavor a qualquer tipo de sofrimento, trouxe consigo também o medo e pavor a qualquer tipo de verdadeiro compromisso.
Dado o compromisso real com a sociedade, pátria e humanidade requer grandes doses de esforço e sacrifício. Algo que já não foi inculcado as novas gerações, como sim foi aos nossos avós, a dia de hoje heróis que nos permitiram, a nós, viver na relativa abundância, relativa paz e relativa social harmonia de meados e finais do anterior século. Hoje também banalizada esta historia, pois a banalidade da vida tomou, em nossos dias, corpo.
A PERDA DE VALORES
A banalização da ciência (através da imediatez superficial da consulta rápida de Internet), a banalização do arte (por meio da exaltação da desconstrução da beleza), a banalização das relações humanas (por meio da procura exacerbada dum intercâmbio por benefício – morto, na maior parte dos casos, o altruísmo). A banalização da sexualidade, vendida como consumo de prazer – a banalização da prostituição e mesmo as tentativas da normalização de todo tipo de deformações em este e outros campos, através dum trabalho minucioso da normalidade de todo tipo de vícios.
O ocultamente sistemático dos “abusos a menores” por parte de pessoas pertencentes a “diversas instituições” com suficiente poder… junto a utilização de menores adolescentes, são sombras que saem a luz e deixaram de arrepiar-nos.
A confusão inserida em menores e adolescentes sobre sua identidade, sexualidade… Nos presentam um panorama onde o valor do consumo e a procura hedonista de qualquer tipo de prazer, que estimule a fugida as múltiplas dores do indivíduo e da sociedade, se tornaram como norma.
Estes decadentes comportamentos, ao invés de ser retaliados, são exaltados como lógica basilar dum “falso” pós-modernismo. Na realidade vivemos dentro duma sociedade que perdeu a raiz tradicional que lhe dava sentido e o acervo espiritual que lhe abria as portas da esperança. Foi perdida esta raiz pelo novo poder ocidental mercantilista, e este mesmo poder no seu evoluir foi incapaz de criar uma nova, virado como estava na desconstrução duma base civilizacional, consolidada em séculos e mesmo milénios.
O Ocidente diluiu a velha Egregóra do Cristianismo, e sua velocidade foi tão letal, que no caminho não deu tempo a quanto menos transitar ate uma nova Egregóra de Ecumenismo, abrangendo quanto menos as três religiões abraámicas. Será, ao melhor, no ressurgir a Eurásia que esta nova Egregóra terá começo?
O progresso continuo sonhado pelo Ocidente globalista em procura duma universalização mercantilista, se esqueceu dos valores mais “universais” – os espirituais. Esses valores somente podem vivificar-se por meio do conhecimento da “tradição primordial” que é raiz de todas as tradições religiosas e filosóficas do mundo.
ORIENTAR DE NOVO
Um progresso sem conservação não é viável e este mundo do Poder Financeiro Ocidental, que procura um modelo universalista baseado na regra do “Intocável Deus Mercado” – manipulado em favor duma Elite Corporativa Privada – assemelha ter tocado fundo. Finalizado seu ciclo por causa, precisamente, de tentar iniciar um ciclo sem suporte real no mundo das ideias, que como Platão bem explicitou, a quem tiver ouvidos para ouvir, é um mundo de espiritual essência – substância elevada, por cima da materialidade.
Em contraposição um novo poder estatal “tradicionalista” multi-polar aparenta começar a edificar um novo organograma económico – social – cultural e, por cima de todo espiritual, onde os valores coletivos comunitários por cima dos valores individuais privados (virados em niilismo auto-destrutivo) construam um novo edifício – arquitetura sobre a que assentar as novas relações internacionais – hoje viradas ao confronto.
Aparenta que estamos em uma etapa em que o velho se resiste: ainda tem capacidades para combater em diversos locais e regiões do mundo, mas o impetuoso ousado vigor do novo dá-lhe batalha em todo canto do mundo, virando as tendências
COMEÇO DO NOVO COMEÇO?
E mesmo aparenta, sem o velho poder saber, os tempos já começam a ser marcados pelo novo eixo – apesar de na aparência da superfície todavia podemos observar o velho seguir por cima tendo os mecanismos de controlo, criados por ele, ainda em funcionamento.
Mas por baixo dessa realidade a ser olhada no espelho do ilusório mundo, oculto um novo marco governante em criação (e ainda com muitas contradições no seu seio) começa a marcar os ritmos, os tempos, e a mudar o epicentro da “toma de decisões”, enquanto o velho se aferra a um passado acreditando serem presente.
Sendo que o impulso espiritual, a pesar dos estudos sobre o desenvolvimento material serem os que prevalecem, por baixo de todo esse deslocar, marca as inércias.
No filosófico poderíamos algum destes sintomas observar entre a progressista aposta do novo“transhumanismo” de Yuval Harari, em Israel e o neo-conservadurismo de Alexander Dugin, na Rússia, ou o neo confuncionismo de Jiang Qing, na China.
Comentários
Postar um comentário