NA PROCURA DA LUZ – por Artur Alonso

Não cobiceis a riqueza de ninguém (…)Aquele que vê todos os seres no Eu, e o Eu em todos os seres, não odeia ninguém (…) À escuridão estão destinados os que cultuam somente o corpo, e a uma escuridão ainda maior os que veneram apenas o espírito (…) Os que veneram tanto o corpo como o espírito, pelo corpo vencem a morte, e pelo espírito atingem a imortalidade”  (Os Uspanishad)


A astrologia traz consigo a integração da razão (matemática, frequências orbitais, ciclos) e da intuição (referência simbólica do mito).

O magnetismo celestial explica influência dos planetas sobre a natureza humana.

O racional, a nível de pensamento ligado a sentimentos, tem por médio destas ligações subtis diferentes tipos julgamentos. As emoções criam a base magnética sobre a qual os pensamentos surgem. Emoções descontroladas geram pensamentos alterados. Emoções pacificadas geram pensamentos mais harmoniosos.

A irracional intuição, ligada as sensações, reconhecem o mundo em associação com fatores mais inconscientes. Registando naquele inconsciente as impressões dos órgãos mais sensoriais.

O pensamento pode auxiliar a intuição. O sentimento normalmente é afetado pela sensação.

O supostamente racional e o supostamente irracional, se unem aqui, na descoberta das raízes que nos trazem certos conhecimentos.

O pensamento, em ocasiões, pode antagonizar como sentimento. Mente e coração, em estas oportunidades, podem debater e rebater-se. Assim mesmo a intuição pode, em ocasiões, confrontar com a sensação. A contraparte espiritual, se estiver bem desperta, pode de novo unificar – guiar: permitir que a reconciliação seja um fato. Essa contraparte espiritual a sinalizar como essência.

Aceitar sentimento e sensação influenciando-se mutuamente com pensamentos e intuição, sem entrar em profundas contradições internas, forma parte de uma observação consciente, possível só quando a introspeção profunda e a meditação serem práticas já desenvolvidas desde faz tempo.

Estas praticas permitem o lado espiritual vibrar mais dentro de nós, criar um espaço de neutralidade, que permite uma mais equilibrada observação das alterações, que ainda prevalecem, em nosso interior...


Pensamento Coletivo


A Mente Coletiva se forma por meio da Unidade Mental - aglomeração do mesmo pensamento coletivo que é a Egrégora. O conjunto de pensamentos, sentimentos, anseios e intenções de uma certa comunidade, fica impregnado no ambiente, criando o que se chama de egrégora. Nomear as Egrégoras permite dar-lhe uma reorientação às ideias iniciais do grupo, para melhor controlar o mesmo.

A finais do século XIX Gustave Le Bon fez um estudo exaustivo da psicologia das massas, destacando fator emocional como o mais característico, em contraposição ao fator racional, mais predominante no indivíduo. A manipulação emocional das massas permite veicular as motivações das próprias massas num determinado sentido. Controlando e manipulando a Egrégora, é possível chegar a um certo controlo e manipulação duma determinada massa, a este Egrégora adscrita.

Sabendo ser certo aquele axioma de Maquiavelo de: “Quem domina o medo das pessoas, controla suas almas” - o Poder tende a controlar as massas pelo medo, e manipula-las a seu interesse. Daí ser preciso ultrapassar no individual e coletivo, a raiz dos medos: o medo à morte. Mudar a Egrégora carregada de medos. 

A irrupção da Egrégora, como condensadora do pensamento raiz, dum determinado imaginário coletivo, permite diluir a forte personalidade individual consciente, dentro dum determinado rol coletivo, reorientando sentimentos e pensamentos ao marco referencial da unidade que é a mesma Egrégora. Sendo que por meio desta Egrégora a massa se organiza: se volta organizada. Surge o conjunto por cima do indivíduo. E o indivíduo solicitando realizar seu papel (segundo suas características, necessidades, capacidades) dentro do conjunto.

A personalidade individual ajusta, assim, sua visão mundo, a visão coletiva demarcada pela Egrégora. Essa personalidade se liga a certos "arquétipos" para desenvolver sua função dentro do grupo.

Carl Jung estudou os 12 arquétipos psicológicos, aos quais a personalidade se amolda para encaixar dentro do coletivo grupo.

O inocente, o amigo, o herói, o protetor, o amante, o bufão, o explorador, o rebelde, o criador, o sábio, o mago e, o governante.

Estes 12 arquétipos no seu lado mais evolutivo, podem relacionar-se com a "jornada do herói". O herói ou aquele que procura a verdade. Aquele que busca a transcendência. Aquela interior aventura, que Joseph Campbell estudou, referenciando sua evolução em 12 jornadas. E o ideia do "mono-mito" - visualização dos aspetos exteriores, como projeção dos aspetos interiores.

Esta procura da verdade no interior, nesta “jornada do herói” faz que os arquétipos psicológicos, que definem o rol de cada indivíduo no grupo, guiando uma determinada conduta particular, sejam ultrapassados, no debate interior, com o fim de alcançar aquela anela e utópica conquista: a busca da verdade, como realização somente aos valentes e limpos de coração reservada. O valor emerge ao ultrapassar os medos.


Os ciclos


Esta jornada evolutiva tem sua correlação com aqueles mitológicos trabalhos de Hércules. Também referenciados no número 12. Ligados cada um deles a cada uma das casas zodiacais, por onde o sol atravessa, durante sua trajetória anual. Ligados aos míticos 12 cavaleiros do tabela redonda do valoroso rei Artur - cada um dos quais, dentro daquele "mono-mito" desenvolve uma das personalidades do próprio rei Artur, senhor da utópica cidade da Lei – a mítica “Cameloth”

Representando um outro Hércules ou filho solar do Deus encarnado, todavia imperfeito, que na procura de seu aperfeiçoamento (transformação interior) descobre o caminho para a transformação do mundo – no caso do céltico mito cristianizado de Artur – essa transformação se realiza na procura do Graal – que da a eterna juventude – a vida eterna.

O filho solar – o Hércules – Héracles - tornando-se guia, vida a imitar - para que ascensão individual poda realizar-se. Unido o caminho do filho ao pai, indicando-nos assim que somente através da transformação interior do filho a morada do Pai se atinge.

Na árvore cabalística da vida a esfera de Tiphareth abre a via para conectar a ponte Kether – pacificando o mundo psicológico, emotivo, das sensações – sentimentos do Zeir Anpin voltando a unificar o masculino Pai (Chokmah) com a feminina Mãe (Binah), uma vez a cruz solar – da ressurreição seja realizada, ao transformar em luz a sombria cruz do sexo.

Na luta contra suas tendências inferiores, animalescas (instintivas) Hércules se transforma no racional ser superior (razão elevada) - que pode dominar todo seu mundo. Razão superior – intuitiva – conexão espiritual – vencendo a reação inferior instintiva da conexão terrenal.

Revelação obtida no sacrifício da transformação - transmutação das sobras (inércias auto-destrutivas) em luz – Em esse processo o filho se torna Pai - e acede ao saber superior, desenvolvido na experiência, que modifica a inicial inocência e suas ignorâncias.

Pelo caminho erros e quedas, mas também a firme vontade de levantar-se, ascender, seguir a frente, ate concretizar a proeza: fechar o círculo. Recolher de cada ciclo sua aprendizagem – ate não precisar repetir as cíclicas caminhadas.

Os 12 dos ciclos representam esse necessário percurso mítico (as 12 horas do "Nucteremon" de Apolónio de Tiana, os 12 meses simbólicos passos do início, meio e fim – Letras hebraicas Aleph, Mem, Shim). O percurso mítico perante o qual o iniciado - inocente todavia e ignorante - desenvolve seu conhecimento, através da superarão das provas, que em cada etapa aparecem no caminho. As provas superadas que trazem as experiência e o entendimento da Lei natural e cíclica.

O conhecimento analógico – associativo – vai nascendo e crescendo em este vital percurso.


O Princípio

"Puer aeternus é o nome de um deus da antigüidade. As palavras vêm da Metarmophoses de Ovídio e são aplicadas ao deus-criança nos mistérios eleusinianos. Ovídio fala do deus- criança Iaco, dirigindo-se a ele como puer aeternus e cultuando- o em seu papel nesses mistérios. Posteriormente, o deus-criança foi identificado com Dionísio e com o deus Eros. Ele é o jovem divino que, de acordo com esse típico mistério eleusiniano de culto à mãe, veio ao mundo em uma noite para ser o redentor. E o deus da vida, da morte e da ressurreição — o deus da juventude divina, correspondente aos deuses orientais Tamuz, Átis e Adônis" (Marie-Luise Von Franz- do livro "A luta do Adulto contra o Paraíso da Infância")

Vemos que é preciso o esforço, sofrimento, para desenvolver aquela mítica morte para o material e o renascimento na luz espiritual (crucifixão ritual - perda do medo à morte - descobrir a falsidade da morte) para o ser caído nas sombras da matéria volte a seu lugar de Origem - a Luz Primordial.

Todas as mitologias nos falam, algumas mais veladamente que outras, desta realidade. E nos deixam aberta a porta do retorno por médio da transformação, sublimação e reintegração, após o tempo da redenção ter chegado (em cada pessoa esse tempo é variável). O Shamadi, a Iluminação, a obtenção do paz interior, a santificação, em todas as escolas místicas sugere este caminho - de transformação: abandono dos apegos, criados na atracão material ilusória, falsa (dado ser efémera) e a reintegração na elevada senda espiritual. Recuperação da nossa dignidade divina - aquele voltar a viver no eterno. Sendo o Eterno o plano do qual descemos à efemera vida na matéria. 

Manly P. Hall nos seu magnífico trabalho "Os ensinamentos secretos de todos os tempos" - nos relata esta realidade, resgatando aquele entroncamento entre a mitologia egípcia e grega, que teve sua génese, no tempo da helenização dos Ptolomeus.

Aqui o Thot egípcio se mistura com o Hermes grego, em seu papel de filho – a caminho da luz. Eis também que nesta época como necessidade desta fusão, aparece o Deus Serapis, mistura do egípcio Osíris e o grego Hades. Este culto encobre o segredo do princípio dentro fim; da multiplicidade dentro da unidade, e do regresso do homem terrenal ao seu local de origem, como Homem Universal – Para o qual é preciso transitar pelo caminho do Filho – em este caso Thot ou Hermes – aquele Hércules dos 12 trabalhos – que ensinavam o caminho de volta a Unidade- Origem.

E assim em este trecho do livro, o autor nos revela o segredo encriptado do Principio, que traz consigo o segredo também encriptado do Fim - e a culminação do individual ciclo, dentro dos ciclos coletivos. Assim afirma Manly P. Hall, este ensinamento lhe foi transmitido a Hermes, por "Poimandres" - a Mente Única: "Antes do universo visível ser formado, o seu molde foi lançado. Este molde era chamado "arquétipo", este arquétipo estava na mente suprema muito antes de o processo de criação ser começado. Contemplando os arquétipos, a mente suprema apaixonou-se pelo próprio pensamento; assim, tomando verbo como um poderoso martelo, abriu cavernas no espaço primordial e lançou a forma das esferas no molde arquetípico, semeando ao mesmo tempo nos corpos recém-formados as sementes dos seres vivos. As trevas, lá em baixo, ao receberem o martelo do verbo, moldaram-se num universo ordeiro. Os elementos separaram-se em estratos e cada um deu origem a criaturas vivas. O ser supremo - mente -, masculino e feminino, criou o verbo; e o verbo suspenso entre a luz e as trevas, deu à luz outra mente chamada "artífice", mestre construtor o criador de coisas. - Assim se cumpriu, ó Hermes: o verbo, movendo-se como um sopro pelo espaço, criou o fogo através da fricção do seu movimento. Assim o fogo é chamado de "filho do esforço". O artífice passou como um turbilhão pelo universo, fazendo as substâncias vibrar e brilhar com a sua fricção. O "filho do esforço" formou então sete governadores, os espíritos dos planetas, cujas órbitas demarcavam o mundo; e os sete governadores controlavam o mundo através do misterioso poder chamado "destino" que lhes fora concedido pelo fulgurante "artífice". Quando a segunda mente (o artífice) ordenou o caos, o verbo de Deus ergueu-se imediatamente da sua prisão da substância (...) Logo, a segunda mente, junto como verbo ressuscitado, instalou-se no meio do universo e fez girar as rodas dos poderes celestiais. Isto continuará de um infinito princípio a um infinito fim, pois princípio e fim estão no mesmo lugar e no mesmo estado"

A raíz do apego: o desejo.


A seguir Manly P. Hall, nos amostra o caminho da atracão - e como foi formada a matéria inerte. Matéria que precisa do espírito para ser vitalizada. Aqui temos a fábula de Narciso, e os conhecimento das gnósticos da Pithis Sophia e a Hipóstase dos Arcontes, reunidos e resumidos. Continua a voz de "Poimandres" a revelar o oculto a Hermes: "Então, os elementos descendestes e irracionais geraram criaturas sem razão. A substância não podia conceder razão, pois a razão deixara-a ao ascender. O ar produziu coisas voadoras e as águas seres que nadavam. A terra concebeu estranhos animais rastejantes ou de quatro patas (...) Assim o Pai, a mente suprema, sendo luz e vida, criou um glorioso homem universal, a sua imagem; não um homem terreno, mas um homem celeste que habitava na luz de Deus. A mente suprema amava o homem que criara e concedeu-lhe o controlo das criações e trabalhos. O homem, desejoso de trabalhar, tomou a sua morada na esfera da geração e observou as obras do seu irmão - a segundo mente (o artífice) - que se sentava no anel de fogo. E, tendo contemplado os feitos do fulgurante artífice, quis também fazer coisas, e o seu pai deu-lhe permissão (...) O homem ansiava por trespassar a circunferência dos círculos e entender o mistério daquele que se sentava sobre o fogo eterno (,..) Ao olhar para as profundezas, o homem sorriu, pois contemplava uma sombre sobre a Terra a uma imagem refletida nas águas, sombra e imagem essa que eram reflexo de seu. O homem apaixonou-se pela própria sombra e quis descer até ela. Coincidindo com o desejo, a coisa inteligente uniu-se à imagem ou forma irracional. A natureza, ao contemplar a descida, enroscou-se no homem que amava, e os dois misturaram-se É por isto que o homem terreno é composto. Dentro de si, está o homem do céu, imortal e belo; de fora, encontra-se a natureza, mortal e destrutível. Assim o sofrimento é resultado da paixão do homem imortal pela sua sombra e da sua renúncia à realidade para habitar nas trevas da ilusão; pois, sendo imortal, o homem tem o poder dos sete governadores - e também a vida, a luz e o verbo -, mas sendo morte é controlado pelos anéis dos governadores - pela sorte ou destino. Deve dizer-se que o homem imortal é hermafrodita, ou seja, masculino e feminino e está eternamente vigilante. Nunca descansa, nem dorme, e é governado por um pai que é também masculino e feminino"

Assim a resolução do enigma da Esfinge (do querer, ousar, saber, calar) é a compreensão, de no caminho cíclico, voltar a descobrir o sagrado conhecimento que nos permita nossa alma “iluminar” ate chegar a encontrar do novo o caminho de volta à casa, o “retorno do filho pródigo”- a reintegração na Origem –

No caminho cíclico marcado pela Esfinge – o querer do adolescente impulsa ate o ousar do jovem, para em este ousar realizar suas conquistas efémeras na matéria: criando, demarcando seu território. Dentro dele situado sua morda. Chega então a maturidade do saber – e a possibilidade de encontrar o segredo verdadeiro, aquele da “eternidade” que o mistério do Graal esconde – Se tudo correr bem, as lutas, quedas e levantamentos do herói desde a adolescência, juventude à maturidade, a conquista poderá ser realizada. Então chega o momento de regresso – caminho de volta – da velhice – e o calar tem seu simbolismo maior, se a obtenção da luz – iluminação, conhecimento, for concretizado.

Estamos diante do portal do retorno, regresso, volta.

Volta ate nossa dignidade de “Ser” - Homem Celeste – no mundo real – dissolução do engano no mundo irreal – do “Ter” apego ao “efémero sonho de possuir” - no mundo terrestre - por causa do desejo despertado pela atração às sombras – da matéria.

A saudade experimentada, neste falso mundo ilusório e efémero – não é outra que aquela morrinha – desejo superior de voltar a nossa dignidade real, na Fonte do Eterno. O desejo real cabalístico de receber a bênção superior da paz interior ser um fato, não dependente de situações externas. Pois toda calma que precisar de uns determinados externos condicionantes, sempre será efémera.

Precisamos, nesta etapa de regresso, daquela Paz somente possível de ser obtida na redenção. Na superação anterior, no tempo da ousadia, do caminho obscuro da matéria, que nos conduz a perdição da nossa alma. Chegar ao momento do saber quando o desejo inferior de viver e experimentar prazeres efémeros materiais, se torna muito inferior aquela ansiedade de voltar a compreender a nossa verdadeira essência. Possibilitando o calar – de entender ser possível Ser integrados no Eterno – como filhos do Amor Incondicional, que permite regressar aquela Suprema Unidade.


O Caminho

"Não vivas sobre a terra como um estranho

Um turista no meio da natureza.

Habita o mundo como a casa do teu pai.

Crê na semente, na terra, no mar.

mas acima de tudo crê nas pessoas.

Ama as nuvens,

as máquinas,

os livros,

mas acima de tudo ama o homem.

Sente a tristeza do ramo que murcha,

do astro que se extingue,

do animal ferido que agoniza,

mas acima de tudo

Sente a tristeza e a dor das pessoas.

Alegra-te com todos os bens da terra,

Com a sombra e a luz,

com as quatro estações,

mas acima de tudo e a mãos cheias

alegra-te com as pessoas"

Nazim Hikmet


Precisamente trilhando o caminho de Hermes, Lugh, Horus, Quetzalcoalth, Mitra, Krishna, Cristo - o caminho do "filho" - através da superação - morte para os apegos matérias da carne - Ressurreição para dignidade original - espiritual - surge a livre senda dos “iniciados”. Surge, no trabalho feito pelo herói o "Salvador do Mundo"- Aquele que abre uma rota para voltar a unir o espírito imaterial com o ser encarcerado na matéria.

O ser se liberta dos trabalhos dentro da esfera coletiva da Egrégora e, marca um desfiladeiro para outros seres, chegado seu momento (acumulação de experiências precisas que permitem o fim da roda das encarnações) realizar o prodigioso milagre: na cruz espiritual elevada diluir a cruz do sexo à matéria apegada.

A Egrégora coletiva - que emanando do plano mental mais elevado do mundo das ideias - que unifica as diversas individualidades - personalidades, dentro da mente coletiva - é transcendida. Os véus que encobrem o real mundo eterno - da não-morte - são levantados.

O véu cabalístico de “Paroquet” que impede a transcendência é destruído – transmutando a carne morta (em matéria viva espiritual – corpo eucarístico), por meio da crucifixão ritual: entrega daquela carne (desidentificação do corpo) - perda do medo à morte.

Geoffrey Hodson, no seu trabalho “O Reino dos Deuses” – reflexionava que:“O aparente propósito pelo qual o universo vem à existência, é transformar potencialidades em poderes ativamente manifestados” – Para concretizar esses poderes, tanto a evolução individual como coletiva, são precisas. No caso da evolução de cada pessoa – chegado seu momento de maior compreensão – expansão da sua consciência – o caminho da transformação, deixa de ser uma “quimera” e se torna numa necessidade. O "arquétipo do filho" começa a ressoar dentro dele com força.

Transita, a partir de aqui, o Filho Solar aceitando a morte material, conquistando a ressurreição espiritual - da nova vida. O mundo psicológico é abandonado - o mundo real atingindo. A tradição gnóstica do verdadeiro conhecimento obtida, a radicação dialética diluída, tal como J. Van Rickenborgh nos indicou, em seu trabalho sobre as 12 horas do Nucteremon de Apolónio de Tiana...

O filho do Eterno, na sua crucifixão solar, permite esse véu para toda a humanidade levantar - deixando o caminho da reintegração na unidade aberto.



As etapas

E este caminho trabalha com as suas etapas, vinculas ao simbólico número 5 da quinta-essência.

Reconexão

volta a matéria - por meio do ciclo das encarnações - reencarnações - ate encontrar o conhecimento da "chave" que abre todas as portas (a simbólica chave de Púshkara). Roda necessária do Samsara

Renovação

Nova personalidade, adquirida na nova encarnação, com sua nova alma (como recipiente que contem, segura, o espírito) – Alma com suas maculas – pesadas cargas cármicas de esta e outras vidas, que como fardos devem ser aligeirados – sombras que devem ser pela luz da boa razão, que emenda os anteriores erros, diluídas.

Realização

Busca do poder interior. Ativação da vontade superior para enfrentar os medos. Lutar e conquistar o direito a entender que através dos diversos trabalhos na presente vida, podemos obter por meio do bom esforço a sanaçao das velhas feridas. Podemos obter nobre conhecimento por meio do devido sacrifico que permite encontrar o bom caminho da ética, moral e justiça: o caminho do meio. Seguir por ele com vontade ate ir liberando o fardo cármico negativo - herdado de outras vidas e os acumulos da vida presente. Preparando nosso corpo para num futuro receber a bênção do definitivo trunfo.

Redenção

Após ultrapassar todos os grandes desafios interiores - Superar todas as personalidades egoístas, das anteriores encarnações - Ter oportunidade de limpar definitivamente, na presente vida, todos os restos de sombra do desejo original (namoro do reflexo no espelho material)- que criou o "amarre" cármico à Roda das Reencarnações – Permitindo-nos, esta vitoria, chegar as portas da verdadeira Libertação: da cárcere dos efémeros desejos.

Reintegração

O ser humano se eleva - pouco a pouco - até finalmente seu corpo limpo de mácula - se torna num corpo "eucarístico" que pode receber a luz do Todo - Espírito - integrando-se de novo no Todo-Uno.

O simbolismo da "crucifixão ritual" encerra todo este sagrado conhecimento da morte para o material - e a Ressurreição - Renascimento para o Espiritual caminho de união ou " Bodas Alquímicas" de Christien Rosencrantz - da alma libertada pelo o espírito sempre puro (a face oculta da princesa libertada pelo príncipe daquela torre – onde o espírito é encerrado).

A dor gerada pelo apego - desejo, e finalmente pelo "Amor Incondicional" - libertada, sanada...



Este é o caminho do herói – da espiritualidade ocidental – quem tem outras semelhanças com outros caminhos, visionado desde outras óticas, por outras tradições. Diferentes nas suas práticas, idênticos no seu resultado.

O Império Universal - que recolhe a essência do Amor Incondicional - permite a diversidade de caminhos - mantendo a unidade da essência espiritual por cima. Permitindo cada comunidade e indivíduo (dentro de seu ambiente cultural), poda procurar a sua senda mais adequada, e sua particular porta de entrada naquela superior unidade. O portão de volta – regresso.

Unindo as pessoas e os povos no caminho da verdadeira irmandade, na procura da verdadeira liberdade.

Sonhando aquele longínquo horizonte em que todos os seres livres dos restos de desamor – ódio, ressentimento, ira, inveja… medo à morte… possam em comum participar da verdadeira fraternidade.

O soberano de si mesmo, senhor do seu mundo, deve, previamente, confrontar e integrar os seus aspetos duais, que habitam ocultos dentro da sua própria psique. Aspetos que são refletidos no seu exterior pela sua personalidade, seu cambiante humor e pelo seu carácter. O seu equilíbrio pisco-emocional depende de obter esse vitoria. A verdadeira conquista, refletida no simbólico voo da águia: voar por cima das polaridades e dos apegos à materialidade…

Devemos ter em conta que as contradições e fricções dos opostos, sendo bem harmonizadas por cima, resultam sendo altamente criativas – auxiliando e ajudando a pressão da mudança continua a realizar seu trabalho de progresso, sem descuidar a necessária conservação

Como bem afirmara Heirich Zimmer, na “Conquista psicológica do mal”: “A interação dos opostos conflituantes, sobre o controle magistral do rei perfeito não é de maneira alguma desastrosa, mais completamente criativa, manifestando-se em ela a oposição Yang e Ying, integradas na plenitude da ordem do Tao” 

 Mais adiante, no mesmo estudo, o próprio Zimmer nos indica: “Também nos antigos mistérios de Issis e Osiris exigia-se do iniciado que atravessa-se a água – que atravessa-se em outras palavras a ameaça e a experiência da morte, da qual emergiria renascido, como “Conhecedor”, “Compreendedor”, transcendendo o medo e libertando-se de todos os liames da perecível personalidade do ego. Essa é a via tradicional da iniciação…” Ficando claro a aqui a necessidade de superar o medo à morte, como fundamental para obter o ser humano o fundamental domínio sobre suas emoções e pensamentos, alterados sempre pelos medos… Sendo que os pequenos medos tem como raiz o medo maior a não sobrevivência.  

Daí que somente quando a maior parte dos seres humanos tenhamos obtido – o domínio sobre nossa personalidade inferior – harmonizando nossas polaridades internas, superando nossa guerra interna – a guerra externa será finalizada. Vencido o medo a morte, vencemos, a sua vez, o medo ao diferente. Em este momento a paz social e a fraternidade entre os povos poderá ser realizada. E a sonhada Idade de Ouro - da que falam todas as mitologias - de novo alcançada - conquistada. 



Oh! Escapou-me dos laços rígidos da terra,
E dancei nos céus em asas prateadas de riso;
Subi em direção ao sol, e juntei-me à alegria tumultuada
Das nuvens rachadas pelo sol, --e fiz cem coisas
Que você não sonhou --Girei e voei e balancei
Alto no silêncio ensolarado. Pairando ali
Eu persegui o vento gritando, e lancei
Minha embarcação ansiosa através de corredores sem pés de ar...
Para cima, para cima, no azul longo, delirante, ardente
Eu superei as alturas varridas pelo vento com graça fácil
Onde nunca andorinha ou mesmo águia voou --
E, enquanto com a mente silenciosamente erguida eu pisei
A santidade intocada do espaço,
Estendi a mão, e toquei o rosto de Deus.

(Poema "O Voo Alto" de John Gillespie Magee)

https://www.youtube.com/watch?v=dJ4GS9rteXY&t=88s








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