DA NECESSIDADE DE HARMONIZAR O MASCULINO E FEMININO - por Artur Alonso
“O Caminho Aberto, mal chegaste ao seu fim, levar-te-á a rejeitar o corpo bodhisattvico, e far-te-á entrar para o estado três vezes glorioso de Dharmakaya , que é o eterno esquecimento dos homens e do mundo” (Helena Petrovna Blavatsky - do livro "A voz do silêncio")
Para caminhar, com maior fluência, pelo "Labirinto das Sombras" em procura da luz; e depois poder sair desta cova a caminho da "Montanha Sagrada" ascensional (simbolismo da transformação na senda do “herói-heroína”), preciso será equilibrar o poder masculino e feminino, dentro de nós. Sendo, também, aquela "Montanha Sagrada" a senda espiralada que permite o escalar do profano ao sagrado.
Terá o discípulo, que tal bênção anseie conquistar, chegar as portas de "Dharana" controlo do pensamento. Para atingir essa perfeição de manter o pensamento baixo controle, preciso será também conhecer e transcender as emoções e sentimentos. Sendo o sentimento ligado ao feminino simbólico e, o pensamento - mente ao masculino, melhor compreenderemos, então, a necessidade de conhecer e equilibrar os mesmos.
Dharana - da raiz dhri, com significado de segurar ou reter, nos remete aquele exercício de concentração em único ponto e controlo da respiração. Esta concentração facilita combater o dispersar típico da mente.
Obtendo, com atenção, esforço e perseverança, esta prática, poderemos chegar a Dhyana - ou meditação profunda. Esta profunda meditação permite ultrapassar o poder de distração da mente.
Concretizado este objetivo o caminho para Samadhi ou compreensão da existência e comunhão como o Todo - com o Universo, fica aberto o ponto de re-integração – comunhão com todo quanto nos rodeia.
Samadhi - que vem de samyag, com significado de "correto" + ādhi, com significado "contemplação" - A contemplação correta do mundo é pois a contemplação de todo dentro de nós e de nós dentro de todo -ou - a fusão com a Unidade: Reintegração verdadeira.
Assim, neste caminhar pela senda de busca do caminho certo - a união equilibrada do masculino e feminino, vai permitir concretizar aquela neutralidade, que permite chegar aquela senda do meio - que nos adentra no óctuplo caminho do Budha. Aquele que permite superar a dor - sofrimento, que observáramos nas quatro nobres verdades – bem plasmadas no mundo: Dukha ou a realidade do sofrimento, Samudaya ou a realidade da origem do sofrimento, Nirodha ou a realidade da cessão do sofrimento e, finalmente, Marga ou o caminho para cessão do sofrimento.
Este último é aquele “Caminho Óctuplo” da: Compreensão correta – Intenção correta – Fala correta – Ação correta – Meio de Vida correto – Esforço correto – Atenção correta – e – Concertação correta
A harmonização dos contrários, começando pela inicial divisão aparente do masculino e feminino, é fundamental para empreender este caminho
Ultrapassar a dança dos contrários
Vamos, pois entender essa necessidade de conciliar a primeira polaridade - masculino – feminino – para depois caminhar acima de todo o que está polarizado, aprendendo a não identificar-nos com um dos lados da balança. Sabendo nós estamos muito além da identificação psicologia. Daí a primeira libertação começar por desindentificar-nos das filiações a que nos ataram desde o nascimento: o corpo como única realidade (nós não somos somente um corpo) a religião que professa nossa família (a religião pode ser uma guia no caminho, mas não somos nós) a ideia de mundo, a ideia política, filosófica (são formas de ver, entender, experimentar o mundo, mas não somos nós)…. Evitando ver aqueles que são “contrários a nós” – outra religião, outra opção política, outra opção de vida… Ser identificados como “inimigos”...
Entendendo, finalmente, que em este mundo das polaridades, os ciclos também se revezam: os ciclos religiosos, políticos, filosóficos... Assim, deste modo também, quando finalizar um ciclo Matriarcal, por inercia, um novo ciclo Patriarcal começa - por reação a ação decadente dum ciclo em declínio. Quando o ciclo patriarcal chegar, após seu nascimento e amadurecimento, a um declínio – entropia – queda, um novo ciclo matriarcal, em reação surge. Ate finalmente atingir a neutralidade entre estas duas polaridades, em aparência concorrentes, mas na essência complementares.
No período de domínio patriarcal a mulher é retirada do Fogo do Altar, do Trono da governança, da custódia dos portais da cultura e do emblema civilizacional. A sua vez é retirada da Balança da Justiça - Sendo reclusa ao fogo menor do lar, o fogo do cuidado familiar: atenção ao marido e aos filhos. Negação do seu poder expansivo - concentração no seu poder receptivo. Dar-se aos outros, como única forma de dar-se a si mesma. No ciclo patriarcal em auge, para a mulher o maternal comanda sobre o pessoal.
O Arquétipo feminino presente nas tragédias gregas como: "As troianas" - "Efigénia" - "Electra"- arquétipo da "Mulher vulnerável" - tem mais peso, que o arquétipo da mulher poderosa, rebelde, auto-suficiente ou insubmissa - que no dia de hoje séria mais relacionado com o movimento feminista tradicional (não o novo feminismo "woke")
Terá, a mulher, em este período patriarcal, com grande esforço, que conquistar seu direito de usufruir daquele território que perdeu no declínio do seu ciclo matriarcal
Numa realidade guerreira – de concorrência social - a guerra entre os sexos (que se manifesta muitas vezes inconscientemente) também permeia esse mesmo tecido social
Na nossa época (de declínio patriarcal), segundo os diversos graus de manifestação do arquétipo guerreiro patriarcal dominante, e do feminismo em ação reativa, nas diversas sociedades se manifesta um diverso confronto entre os sexos.
Desde sociedades mais assentes no patriarcado - com um forte submetimento da mulher, ate sociedades com um feminismo mais radical (onde o masculino é visionado como semente tóxica a destruir - única via possível para o feminino se manifestar em todo seu esplendor) vamos passando por diversos graus de confronto feminino - masculino - que em aquelas sociedades mais evoluídas, menos polarizadas, pode mesmo chegar a abrir amplos espaços de conexão - fusão - unidade - e prática de equilíbrio e valorização do feminino e masculino, no seu devido valor relativo.
“Tem paciência, candidato, como quem não teme falhar, nem procura triunfar. Fixa o olhar da tua Alma na estrela cujo raio és tu mesmo, a estrela flamejante que brilha nas profundezas sem luz do ser eterno, nos campos sem limite do desconhecido” (Helena Petrovna Blavatsky - do livro "A voz do silêncio")
A possibilidade da Complementaridade
Toda focagem extrema - se desvia do caminho do meio - que simboliza a "Balança da Lei" - conduzindo a um atrito permanente - guerra continua; que não permite assentar a necessária paz social, para o bom desenvolvimento das diversas comunidades.
No entanto, a pesar, de existir sempre espaços de comum convívio, a realização duma verdadeira feminilidade e masculinidade complementaria, fica, a dia de hoje, ainda muito longe, por causa da baixa tónica evolutiva atual da humanidade.
A ignorância do feminino não poder desenvolver-se plenamente, sem a sua contraparte masculina; junto a ignorância do masculino não poder também realizar-se, sem a sua contraparte feminina, conduz ao erro recorrente do confronto entre os sexos.
Guerra que se manifesta em um poder masculino que nega o elemento emancipador feminino; e uma reação na contra - feminino - que por evolução histórica - se radicaliza chegando negar o elemento emancipador masculino. E ambos negando, a vez, essa emancipação não ser complementa, sem a parte complementar do sexo visionado como oposto - que unida - faz a libertação possível.
Sem essa união, a libertação não pode ser dada.
Conhecer pois a complementaridade masculina - feminina conduz aquela senda do meio, caminho libertador, do qual também nos falou Frei Luís de León, quando afirmava esta senda ser seguida por aqueles poucos sábios que no mundo têm sido
Enteder feminino e masculino, requer entender os atributos simbolizados nos Arquétipos Primordiais da Mãe e o Pai Cósmicos.
Como atributos da Mãe Divina temos a Beleza, Bondade, Castidade, Pureza, Proteção, Alimentação – é dizer o Amor Revigorante – Amor-sabedoria em receção.
Como atributos do Pai Divino temos a inteligência racional, perspicácia, vontade na ação, vigor e rigor na construção, pensamento ativo - Conhecimento em expansão.
Deste modo o masculino se referencia com semente que expande e o feminino com o útero que recolhe. Gestação que dará a forma - os limites - no Útero – Taça - que acomoda a potencialidade da semente masculina àquela possibilidade dos limites do conduto feminino.
O Pai Cósmico - injeta a semente - na Mãe Cósmica - que gera a vida universal. A Mãe natureza encarnação da Mãe Cósmica permite dar a vida no planeta. A mulher humana - ponte entre a Mãe Cósmica e Mãe Natureza - traz ao mundo os filhos que deverão realizar os trabalhos adequados no território, para espiritualizar – de modo criativo - à matéria morta. Pois todo material precisa dum espírito – indutor – que lhe outorgue sentido. Qualquer obra humana, mesmo uma Grande Catedral, Templo, Edifício Académico… não tem sentido sem aquele espírito por trás da realização – construção – que lhe de uma utilidade.
Eis aqui que a feminidade equilibrada com a masculinidade permite realizar esses trabalhos, na procura do Império Universal Reintegracionista, que volte integrar as partes no todo, por meio da essência comum que todos os seres humanos, animais e floresta compartilham.
Os filhos e filhas – homens e mulheres, em conjunto ao uníssono – realizam esses trabalhos, aqui na Terra, com a permissão da Deusa da Natureza. Não sendo, estes filhos – filhas, donos do planeta, se não seu gestores, por legação da Mãe Terra.
Sendo assim o legado dos filhos e filhas das boas linhagens, tem precisamente a ver com os trabalhos em favor das novas sociedades da ajuda mútua, o respeito a raiz ancestral (que traz consigo o respeito a Mãe Natureza) e comunhão (comum da união) entre todos os povos - através do conhecimento mútuo da essência comum de todos.
O conhecimento sagrado de nós mesmos
“Acreditar em vós, a verdade é simples e revelada, enquanto a mentira é complexa, profundamente escondida, orgulhosa, e seu conhecimento do mundo fictício, aparentemente um brilho com brilho divino, é muitas vezes confundido com a (verdadeira) sabedoria divina” (Manly Palmer Hall - do livro "Os ensinamentos secretos de todos os tempos")
Para conhecer essa essência preciso será abrir nosso coração ao transcendente, tanto dentro de nós, como em todo o que nos rodeia.
Para este conhecimento também será fundamental observar aquela primeira complementaridade masculino - feminino. A semente do impulso masculino da vontade de renovação, continua mudança - terá de ser acolhida, recebida, no útero, taça da gestação feminina. E dizer o impulso de progresso deverá ser contrabalançado harmoniosamente pela necessidade de conservação.
Ainda o ser humano tem de aprender que da complementaridade feminina - masculina, depende o impulso da vida na continua mudança, ser acolhido pela necessária conservação. Na natureza não pode haver renovação - sem conservação. O conservar permite revigorar
Temos pois de entender, que o progresso científico tecnológico atingido no último século deverá deixar passo, agora, a uma profunda e prolongada fase de conservação – dentro da tradição; pois a humanidade não está preparada para o seguinte passo na progressão daquele mesmo desenvolvimento cientifico – tecnológico; é dizer a aceleração da hibridação ser humano - inteligência artificial. Passo que deverá ser adiado, entrando num período de conservação - onde a Inteligência Artificial ainda terá de ser conhecida, avaliada, testada e provada com muita cautela, senão quisermos por em risco o equilíbrio delicado do eco-sistema e o mesmo equilíbrio social, em estes tempos de transição multíplice. Dos quais já falamos em outros artigos.
(Referência texto – da transição múltiple)
https://pgl.gal/a-humanidade-na-transacao-dos-5-ciclos/
Significar a complementaridade
Vamos descobrir alguns aspetos do feminino e masculino, para juntos ver a facilidade da sua aproximação – união e conjunta reintegração no Todo.
“Eu fui enviada da parte interna do poder
Eu fui enviada para aqueles que refletem sobre mim
Eu fui encontrada por aqueles que procuram por mim
Olhai para mim, vós que me contemplais.
Ouvis-te; ouvi-me”
(O Trovão – Mente Perfeita – Manuscritos de Nag Hamadi)
A antiga deusa soberana do território europeu - aquela nossa Antiga Deusa Mãe Celta (entre outras culturas europeias) - da qual ainda conservamos muitas reminiscências na Península Celtibérica - pode ter seu reflexo mais próximo naquelas Deusas - Mães - Sagradas da Mesopotâmia, e posteriormente na Deusa Aserah - dos cananeus... Aquela Deusa associada ao Deus Supremo El-Elyon - da qual Baal será um dos filhos mais ativos.
Inanna – Istar- Aserah seguramente sejam diversas formas de representar – nomear – o mesmo princípio feminino no Oriente Próximo – no que agora começa a denominar-se Ocidente da Ásia.
As antigas sacerdotisas do Oriente fértil, que acreditavam encarnar os conhecimentos dados pela Deusa, nas suas iniciações respetivas - dançavam no Templo como forma de comunicação mística entre o "corpo e a alma". Essa dança podia provocar o êxtase místico.
Hoje em dia temos o caminho da "bio-dança", que sem procurar em princípio o "êxtase" - permite uma comunicação corpo - sentimento - emoções, que ajuda a harmonizar o princípio feminino de todo ser humano.
Começa a esperada dança, Dueto de passos firmes, O ritmo se espalha, Pulsa, como pulsa o coração. (Davi Khouri - do poema "Um giro")
Permitem estas praticas junto a outras como "ioga", meditações, terapias várias, ligar melhor o emocional feminino com o mental mais masculino.
Sendo práticas em auge, numa sociedade, que já trilhou em excesso o caminho racional materialista, bom no seu início para acalmar o prejuízos duma religiosidade caída na "superstição" - ajudando a acomodar a mesma religiosidade. Mas hoje precisa, já muitos seres humanos, iniciar um caminho a descoberta do seu transcendental - interior - que mantendo o racional masculino, caminha também a procura do intuicional mais feminino... Da união equilibrada de ambos, será iniciada a nova mudança.
“Quando o feminino divino, a Deusa, deixa de ser reverenciado, estruturas sociais e psíquicas tornam-se super-mecanizadas, super-politizadas e super-militarizadas. O pensamento, o julgamento e a racionalidade tornam-se fatores dominantes. Necessidades de relacionamento, afeto, carinho e respeito pela natureza permanecem negligenciadas” Nos adverte Nacy Qalls-Corbett no seu fabuloso livro “A prostituta sagrada” – fazendo finca-pé nessa presença maioritária do lado masculino ativo-mental-racional encaminhado ao lado dominador expansivo - conquistador e predador da natureza; em detrimento do lado feminino acolhedor, carinhoso e protetor do entorno natural – quando o ciclo patriarcal predomina dentro dum ciclo de guerra – aquela chamado pelos indianos de “Khaly-Yuga”.
Fazendo-se, nos dias de hoje, evidente por necessidade de sobrevivência a complementaridade entre o mental - racional ativo masculino e o emocional - sentimental recetivo feminino.
A recetividade é uma qualidade do princípio feminino que ajuda a libertar os seres humanos das suas pesadas cargas psicológicas. O amigo ou amiga que escute e compartilhe, desenvolve esse lado recetor, preciso para limpeza da alma.
Uma sociedade que valoriza somente o conquistador nº1 que impõe sua vontade - domina, por cima do recetor - que tende pontes para manter unida e coesa a sociedade - não entendeu ainda o princípio da complementaridade.
"Liderança não significa a dominação. O mundo está sempre abastecido com pessoas que pretendem governar e dominar os outros" (Haile Selassie, o Príncipe Tafari)
Signficar o Feminino
A misericórdia feminina - deverá equilibrar o rigor masculino, para o amor rigoroso e o rigor amoroso possam dar viabilidade a uma sociedade mas consciente da sua missão histórica específica. Evitando perda de estímulo entre seus membros, ao ignorar a maior parte dos mesmos, qual é o papel que a cada quem lhe corresponde em estes trabalhos.
As antigas festas da fertilidade, nos solstícios de verão (no hemisfério norte) achegavam o aspeto gerador da Deusa Feminina - como senhora da fertilidade; doadora da vida, do alimento e da proteção - do amamentar
Na civilização suméria observamos à associação desta deusa da fertilidade ao princípio lunar - Sendo a Lua a senhora do emocional, dos sonhos oníricos, dos sonhos premonitórios... Contraparte do deus solar masculino mais mental - da vontade em andamento - ação.
Na sociedade acádia, por volta do ano 2270 ao 2215 a.C - a filha do rei Sargão, de nome Enheduana, poeta, escrivã e Suma-sacerdotisa de Inanna, oficiava o culto ao sagrado feminino no tempo de Nannar ou Templo da Lua
Sendo ela a máxima autoridade no relativo ao conhecimento sagrado feminino, ela representava a conexão entre a Deusa da Natureza e a Deusa Cósmica, do 2º Trono - sendo pois ponte - pontífice, para trazer aquele conhecimento mais elevado celestial e complementá-lo como o conhecimento natural - para dar a conhecer à humanidade os mistérios do corpo humano - natureza e cosmos. Mistérios que permitem no seu equilíbrio fazer reinar a Lei Divina dentro da Lei Humana.
Seu nome, etimologicamente, o podemos decifrar: EN- Título de Grande Sacerdotisa HEDU- Adorno – Enfeite AN- Céu - É dizer “A Grande Sacerdotisa enfeite do céu”
Voltamos aqui a relação mística do feminino com a lua; pois a lua é o enfeite do céu a noite. Sendo o templo onde Enheuuana praticava o sacerdócio feminino o templo da Lua - Nannar.
Endehuana, filha da rainha Tashlutan, escreve assim sobre a Deusa Inanna - Deusa do Amo - Sabedoria, da fertilidade, alimentação – acolhida:
“Senhora de todas essências, cheia de luz;
boa mulher, vestia de esplendor;
que possuí o amor do céu e da terra,
amiga do Templo de AN;
teus adornos são maravilhosos.
Tu desejas a Tiara da Alta Sacerdotisa
cujas mãos seguram as Sete essências”
Sendo que as essências espirituais são guardadas na Taça da Mãe Cósmica no 2º Trono - e concentradas na Luz, é acertado este hino - oração a Inanna, que representa precisamente essa Divindade Cósmica
Por sua parte a Suma-Sacerdotisa é a guardiã das 7 chaves do conhecimento sagrado. Aquelas que permitem achegar-se aos portões femininos do Aquém e o Além. Portões que somente pode abrir uma divindade feminina. Observamos que no mundo celta-galaíco o encarregue de transportar as almas ate o portão é uma deus masculino Laros, enquanto as senhora das portas e um divindade feminino Lera... Vemos outra vez o masculino condutor o feminino conduto.
O poema oração a Inanna remata afirmando:
“Ó minha Senhora, guardiã de todas as boas essências, tu as reunis-te e as fizeste emanar das tuas mãos. Tu colhes-te as essências santas e as trazes contigo, apertando-as em teus seios”
Eis aqui claramente descrito o papel do feminino sagrado, como local - útero, desde onde as essências primordiais promanam ate a humanidade e o entorno natural. A Deusa Mãe contem a semente da vida - a essência do ser está nas suas mãos - O aspeto sanador - de alimentação e manutenção da vida - está ligado ao feminino; ligado ao poder emocional lunar. Em contraparte como o masculino solar ativo, mental, da inteligência em ação - que comanda o impulso renovador - o feminino comanda o intuito conservador do renovado. Equilibrar ambos é a chave.
O Equilíbrio preciso
“A iniciação de Mercúrio inflamou o novo pensamento, a iniciação de Vênus revela ser-sentimento, a saber, um sentimento baseado em uma ração superior. A iniciação de Mercúrio originou a renovação do santuário da cabeça; a iniciação de Vênus velará pela renovação do santuário do coração. Mercúrio é o aspecto masculino, enquanto Vênus envolve o aspecto feminino”
(Jan Van Rijckenborgh)
Estando equilibrado, em nós, os aspetos masculino e feminino poderemos iniciar a mais profunda transformação da alma: a simbólica "Subida da Montanha" de todas as mitologias; evitando carregar o peso do mundo nas costas, como Atlas, ate ser construídos os pilares por Héracles – Hércules, que nos permitam ser libertos.
A montanha sagrada contem a ascensão aos céus, mas também a queda nos abismos: o inferior - inferno.
"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles será o reino dos Céus"- assim começa o Sermão da Montanha
No poema iniciático da "Epopeia de Gilgamesh, a montanha sagrada na sua encosta contem a íngreme subida ao céu, mas também a rápida queda nos abismos.
“Finalmente Gilgamesh chegou a Mashu, as grandes montanhas que guardam o nascer e o pôr do sol e sobre as quais ele havia ouvido muitas histórias. Seus picos são gémeos e da altura das muralhas do céu; suas encostas descem até o mundo inferior” (trecho do poema épico de Gilgamesh)
Aquele que pretenda escalar a montanha sem ter equilibrado seu masculino e feminino (conciliado toda polaridade), junto com a vontade, coragem, firmeza, força física e espiritual necessária, deve entender que o abismo – inferior: inferno interior é o que lhe aguarda.
E tal vez, por ainda não termos equilibrado nosso masculino e feminino interno, e nosso masculino mental e feminino emocional nas nossas sociedades, seja por isso que os infernos na terra persistem, sem deixar-nos ver o paraíso natural que precisa da conciliação dos contrários, e também da colaboração dos mesmos na famosa ajuda mútua...
“A competição é a lei da selva, a cooperação é a lei da civilização” (Piotr Kropotkin)
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