FIM DO PROGRESSO CONTÍNUO - Por Artur Alonso

 


Robert J. Gordon, professor de economia norte-americano sustenta que os limites de decrescimento económico têm sido atingidos.

A taxa de decrescimento do PIB pér capita chegará a um limite de declínio absoluto em um futuro.

Mas ele não pensa, todavia, que a manutenção do sistema capitalista, na sua versão atual de poder financeiro privado, seja insustentável.

Nós acreditamos, pela contra, que este sistema tem chegado a seu fim. A impossibilidade de reabilitar o mesmo se torna verdadeiramente um impossível. Esta realidade, oculta pelos véus da manipulação financeira, forma parte duma das raízes dos tempos conturbados e da situação internacional de confronto e desloque do eixo hegemónico atual. A época das encruzilhadas, na qual segundo Gramsi, surgem os monstros…

Devido a que esta nossa época atual, e suas conjunturas, são o reflexo dum declínio dum poder central (Império Ocidental) que organizava o mundo (em base a este sistema mercantil capitalista) e, a sua vez, a ascensão dum novo centro multipolar (Eurásia como matriz) que pretende reorganizar num novo mundo (em base a um novo sistema socialista mercantil). O velho sistema com predomínio do poder privado corporativo o novo sistema com predomínio do poder estatal público.

Com ameaça de embate (em diversos pontos de fricção) entre a conceção globalista corporativa e a soberanista estatal

Esta queda do antigo poder mercantilista financeiro, já a vista, teve seu começo em 2007-2008 com a quebra do pulmão económico na City Londrina, Tóquio e Wall Street. A partir daí os rumos do mundo começaram a falar (já não em murmúrios) do fim da etapa de controlo do Poder Financeiro Privado (fim do Ciclo Mercantil) e do futuro nascimento dum Novo Poder, em auge, de controlo Estatal da economia e as finanças (inicio do novo Ciclo do Poder Cívico).

O ideal do progressismo na economia, inaugurado por Robert Solow, nos anos 50 do século passado, com sua visão dum processo contínuo de crescimento, tinha chegado a seu fim. O velho modelo Keynesiano, misturado com a revisão do socialismo ao estilo chinês, que bebeu das fontes do desenvolvimento brasileiro da década de 70, começou a seduzir com seu desempenho aquele antigo mal chamado “terceiro mundo” – hoje mudado o conceito pelo “Sul Global”

Lembrar que aquela política económica brasileira dos anos 70 levou a taxas de crescimento do PIB na casa de dois dígitos, chegando a atingir um recorde de 13,9% em 1973.

Os economistas chineses estudaram a política iniciada em 1968 pelo ministro brasileiro Antônio Delfim Netto (e continuado pelo ministro João Paulo dos Reis Veloso), de reorganização do sistema financeiro e investimento público em infraestrutura, mantendo baixos salários e, no entanto, elevando o poder aquisitivo das classes meias.

Observaram, os especialistas chineses o por que do surgimento de certas problemáticas sociais, qual o motivo que causara inflação de finais da década de 70 e a problemática do endividamento externo, assim de como melhor gerir o afluxo de capital estrangeiro... E também acomodaram estes estudos com a observação do desenvolvimento económico e urbanístico da Singapura: criando seu próprio modelo, entre os diversos comparados...

Lembrar Deng Xiaoping ficara muito assombrando da evolução de Singapura, chegado a manifestar seu convencimento de ser possível desenvolver 1000 localidades chinesas tomando como referente o modelo de Singapura

Da Economia produtiva a Economia Financeira

Robert Solow sonhava num crescimento permanente baseado numa boa gestão da oferta, a produtividade e a inversão; evitando ter somente em conta o resultado exclusivo da demanda.

Estas eram as ideias em destaque e ponto fulcral do seu trabalho. Num artigo no "Quarterly Journal of Economics", em 1956, lançou esta pensamento ao mundo. Opondo-se em este trabalho aos que foram os fundamentos económicos da década anterior (1940).

Fundamentos desenvolvidos, em aquele período, por Roy Harrod e Ersey D. Donar, que focavam sua atenção no crescimento proporcional do produto e do capital produtivo, com o objetivo de tentar atingir um equilíbrio com o pleno emprego.

Em esta conceção, de Donar e Harrod, a obtenção duma taxa natural de crescimento teria de ir ligada ao crescimento da oferta de trabalho. Tendo em conta o número de trabalhadores, junto às horas que, estes, estejam dispostos a trabalhar. Assim como o aumento da capacidade produtiva, ligada a produtividade destes trabalhadores.

Robert Harrod focava sua ênfase nas variações da demanda, enquanto Solow, em contra ponto desenvolveu uma nova teoria, com achegas da competência perfeita de Leo Walras (o fundador da "económica matemática"). A estas ideias acrescentou os estudos de Keynes (fundamentais na recuperação da crise de 1929, por meio do “New Deal” de Roosevelt), chegando à conclusão de que os salários, por si mesmos, não dependiam da quantidade de postos ofertados.

Solow se centra, assim, na capacidade produtiva e na renda "per capita"; supondo que toda a população duma nação é igual a "força de trabalho total" da mesma; do mesmo jeito que o produto "per capita" é igual ao produto por trabalhador.

Neste modelo simplificado se estuda o crescimento, sem contar com o comércio internacional (nem importações, nem exportações). Modelo no qual a inversão doméstica é equivalente à Poupança Nacional.

Assim o PIB dum país é avaliado pela soma de Rendas nacionais. Para aumentar o PIB deveríamos, então, aumentar as dotações de capitais e realizar inversões tecnológicas, que permitam um futuro crescimento da produção. Parte dos impostos dum país devem ser destinados a melhorar sua produtividade.

Ao estimular a inversão e aumentar a oferta de emprego, aumentam as poupanças, nas quais estava baseado o crescimento económico dos Estados Unidos naqueles anos 50 do século passado. Esse crescimento económico deveria aumentar ao aumentar a inversão de capital.

A Lógica do Poder Financeiro impõe o modelo económico

A implementação do modelo de Robert Solow, ultrapassando as ideias de Donard e Harrod, e chegado seu máximo vital de implementação, vai abrir as portas aos estudos da escola económica de Chicago baseado na expansão da oferta monetária como principal motor do crescimento económico.

Esta visão económica vai comandar o mundo desde a era Reagan e Thacher (dos anos oitenta do século passado), permitindo, devagar, a expansão do poder privado financeiro, que tanto favoreceu à expansão das Corporações Privadas Ocidentais, após a queda a União Soviética.

Demolido o equilibro de blocos, a assunção duma possibilidade de governo mundial – Globalização – dirigido pelo poder financeiro ocidental privado, vai tentar afiançar-se no mundo. Ate a implosão sistémica de 2007-2008, já mencionada com anterioridade.

Em aquela data da “unipolaridade” novas realidades como a "democratização" do consumo: abertura do crédito as camadas mais populares da sociedade (junto com a manutenção dum “exército permanente” de parados que puje abaixo dos salários, aumentando o crédito familiar), tem mudado radicalmente nossa sociedades.

A unificação do mercado mundial (globalização) sob a égide do Poder Financeiro Privado Internacional fez predominantes as Instituições Financeiras internacionais, ate finais dos anos 2010-2015.

A quebra das "bolhas" financeiras das tecnológicas em 2000-2001 (na bolsa eletrónica de Nova Iorque ou Nasdaq) impulsionou o salto, translação deste financeiro problema ate o setor imobiliário (como refúgio de ativos após a queda do Nasdaq) criando a nova bolha, que iria estourar em 2007-2008. Esta que a sua vez impele a solução de resgate financeiro do setor privado pelo setor público (socialização das perdas, privatização da ganâncias), criando, de novo, uma nova bolha de "divida pública soberana"-

A conjunção divida privada familiar, divida privada empresarial e divida soberana, começa a carregar os alicerces sistémicos, sobre os que se assenta a pirâmide social.

Problema, este das "dívidas soberanas" que lembrava o derrube sistémico financeiro ocorrido durante o século XIV, que daria passo a uma nova visão humanista, a Nicolau de Cusa, durante todo o século XV. Para nós uma semente do novo futuro do poder cívico, que hoje está em curso.

Semente que ressuscitou na Europa após o final da II Guerra Mundial ate a queda da União Soviética, onde nasceria o chamado "Estado Providencia” ou do Bem-Estar.

Esta ideia de Estado Providencia, nasce na Suécia, a partires da crise de 1929, pressionado o governo entre a situação geral de pobreza, quebra social e expansão do contagio soviético, entre os dirigentes sindicais e das camadas populares - e a poder empresarial a contra. Mas anteriormente o modelo de “Estado Social” diferenciado do ideal liberal e do socialista, de Otto von Bismarck, que deram ao Estado o poder e regulamentar a sociedade e garantir ao indivíduo certos direitos, como o acesso a bens de primeira necessidade e serviços como educação, sanidade, seguro de desemprego ou proteção a infância entre outros… Já iniciaram este caminho... 

Em meados do século passado, após a II Guerra mundial, a pressão entre a expansão do capital - poder anglo-americano – e a expansão do poder soviético, obrigarão a Europa a procurar um modelo intermédio entre os dois centros de pressão, surgindo o Estado do Bem-Estar, que daria ao “velho continente” a maior tónica evolutiva da sua história.

Derrubado um dos vértices de pressão o modelo será abandonado em favor daquele neoliberalismo de Margaret Thatcher, que no seu ponto de esgotamento vai chegar, nos nossos dias, à conjunção fatal de excesso de dívida privada e pública. Na procura dum novo modelo, surgem as encruzilhadas.

A encruzilhada do fim dum modelo esgotado e inicio dum novo

As tragédias, no entanto, se formam nas encruzilhadas: quando um modelo em declínio se aferra a sua manutenção e um modelo em início não é capaz, ainda, de vencer as inércias de pressão na sua contra...

Sendo que a tónica evolutiva da humanidade vai marcar o caminho de eleita: acomodo hegemónico, superação do velho e inicio do novo pela negociação (compreensão da gravidade do problema) ou disputa hegemónica, com rutura do dialogo e guerra (domínio da cegueira, ignorância)

Lembrar que as tragédias do século XIV, tem muita semelhança, com os sintomas de entropia sistémica deste novo século XXI: ciclos de fome, mudanças climáticas, revoltas populares, guerras e peste negra...

Entenderemos as implicações da necessária mudança do sistema económico capitalista de poder privado em favor dum novo sistema socialista de pode público, como inevitável? Como cíclica? Lembraremos, que ao igual que o poder sacerdotal teve de ceder ao poder senhorial-real, o senhorial ao comercial, agora o comercial terá de dar revezo ao poder cívico, como parte dum processo necessário?

Entendermos que todo sistema tem seus lados luz e sombra, e todo sistema seus ciclos de ascensão, máximo esplendor e declínio?

Entenderemos que se não houver acomodo pelo amor, surgirá a disputa pelo rigor?

Entenderemos que a destruição, desolação e sofrimento extremo, somente é um sintoma da baixa tónica evolutiva da humanidade, e pelo tanto dos dirigentes da mesma, representantes dessa humanidade cegada na ignorância da guerra? Seremos capazes de abrir nossos corações ou o medo da mudança e o primitivo desconfiar, junto a falta do nosso controle emocional nos levarão, de novo, à desconfiança que gera ódio aquele visionado como adversário, morte e continua guerra?

Sendo aqui, que a missão de todo verdadeiro ser esclarecido, será abrir os olhos à humanidade para esta nova realidade, onde de novo na encruzilhada deveremos, em conjunto, escolher o caminho da paz, conciliação e diálogo de coração dos "bons e generosos" – Numa tentativa de evitar o caminho da guerra, confronto e feche do coração, abertura dos baixos instintos dos "filhos do eterno medo"...

Estamos diante desse cruzamento de caminhos, que caminho escolher: o do coração ou o dos baixos instintos?



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