Acaso Existe o Paraíso? Por Artur Alonso
Aquele Paleolítico, tempo arcaico – pré-histórico, começou há perto do 2,5 milhões de anos. Nossos antepassados começaram a produzir os primeiros artefactos em pedra lascada. Durou este longo período, de longa e lenta aprendizagem, ate o ano 10 mil a.C.
Comunidades nômades de caçadores–recoletores começaram a realizar nosso périplo pela Terra. Iniciando os trabalhos precisos, com seus erros, emendas e acertos, para escrever na mesma simbólica pedra o “sino mais propicio dos tempos” Afirmando-se na procura de cumprir sua intuitiva missão de criar melhores condições para sobreviver, muitas vezes sem ser conscientes dos cambios que esta marcha ia depara na historia (como a descoberta do fogo – que abriu a portas da combustão e do melhor aproveito dos alimentos).
Em épocas de muito rigor físico, criando as terríveis condições que foram garantido melhor, como espécie, nossa adaptação ao meio. Continuando aqueles tempos do Paleolítico, àqueles outros do Neolítico da invenção e à disseminação da agricultura, da lógica sedentarização. O período da Pedra Polida, que a partir do III Milénio a.C vai dar lugar a Idade dos Metais. Desde as primeiras aldeias nas proximidade de rios, de modo a usufruir da terra fértil, até sociedades mais estratificadas e com organização mais diversa - que darão surgimento a cidades e Impérios. Surgirá o comércio e aparecerá o dinheiro (a cobiça seguramente já tinha aparecido, talvez nasceu connosco)
O Passado olhando o necessário Culto a Deusa Mãe – Deusa Natureza, que nos doava o alimento – Período Matricial das culturas do igualitarismo, baseada no seu momento mais propício na criação de gado, ré-coleção e orientação espiritual pelo xamanismo - ia, aos poucos, esmorecendo
Algumas pessoas acham serem aquele o tempo arcaico o do “Paraíso” – que evoca a literatura e o arte. O “Natural e Bom Selvagem” que os missionários espanhóis e portugueses sonharam observar nas culturas tupís e guaranís, da América do Sul - e tal vez Colombo nas Caraíbas?
Expulsos deste paraíso nós os “civilizados” (daí o mito de Adão, Eva e a Serpente?) fomos avançando até a dor do “Paraíso perdido” – com o declínio talvez da cultura Matricial protetora da Natureza?
Entramos no “Inferno” das culturas guerreiras patriarcais, que por lógica assentariam nas estruturas mais hierárquicas das grandes civilizações? Permitimos que a Pirâmide fora sendo ocupada pelas linhagem guerreiras e sacerdotais – fazendo aos de abaixo padecer grandes opressões? Retiramos o Deus Amoroso da instrução formativa – colocamos, em seu lugar o deus vingativo guerreiro da deformação? – Tal como os Chichimecas - mexicas - retiraram Quetzalcoalth das alturas colocando em seu lugar Huitzilopotli?
Para chegar agora (no final dos tempos?) obrigados a mudar os “tormentos da guerra”? E com muito esforço mudar o rumo ou auto-destruir-nos?… Teremos de trabalhar arduamente para conquistar a volta – “Retorno ao Paraíso” – que teremos, talvez, que efetuar em três etapas: “Aceitação” – “Redenção” e “Reintegração”? – Pode ser esse o destino - uma lógica dos ciclos? Descida inicial – ascenso final?
Em primeiro lugar chegaremos a saber, que em realidade o Paraíso é o local da Origem – o Espiritual local Eterno, Infinito e Sem Limites, fora da matéria e do espaço – tempo?– Será essa a verdade guardada, que nos será revelada? Estará essa verdade na sagrada palavra, que falam os mitos os sacerdotes passavam somente aos iniciados de ouvido a ouvido?
A Perda o Paraíso foi, realmente criada, após a atração de Narciso? Ao ver nosso reflexo no espelho do mundo físico? Perdemos assim a imortalidade, paz profunda e amor incondicional, por olhar um espelho, que cria ilusórios desejos?
Sendo assim na queda na materialidade, encontramos o esquecimento da espiritualidade? O mito de Lúcifer. o ser de luz perdendo sua esmeralda, situada na fronte, onde os orientais situam o espiritual terceiro olho – nos lembra, de algum modo, aquele triste acontecimento?.
A palavra grega “Alétheia” – de a- negação – e lethe – esquecimento. Negação do escondido: desocultamento. A verdade como desvelamento, encontrar aquilo que esquecemos. Recuperar aquela consciência espiritual que perdeu Lúcifer? - O verdadeiro como o que se manifesta aos olhos do espírito? A verdade descoberta pelo tempo, como na maravilhosa escultura de Gian Lorenzo Bernini?
A verdade (Alétheia) como oposição à opinião (Doxa) como manifestou Parménides no seu poema “Sobre a Natureza”? Procurar essa “verdade” pela senda de renúncia aos prazeres, manifestar indiferença (Ataraxia) com o que é efémero, secundário, como os desejos ou paixões terrenas . Como ensinavam os discípulos de Zenão, os estoicos?
O desejo de experimentar os prazeres materiais efémeros, trouxe consigo, uma focagem cada vez mais centrada no material (hoje centrado na atração publicitaria de consumir para obter mais efémeros prazeres e despertar mais sensoriais, sensuais e imaginativos desejos? Criação de estímulos para o consumo, por meio duma publicidade baseada em criar falsas necessidades?). Abandono das virtudes?
Foi este caminhar pela matéria, que de devagar nos levou a fugir da conexão com o espírito que procura a paz interior e paz com o mundo? – E essa fugida nos proporcionou a chegada ao inferno da atração material onde Deuses artificiais – como o Deus Mercado atual, nesta era de domínio das finanças, está a substituem o Divino - Virtuoso, que ainda resta, em nós – pela artificial sociedade da artificial inteligência?
Será essa I.A. (inteligência artificial) um desafio com oportunidade, para nós, ou um maior aprofundar nos infernos? Estaremos a altura para trabalhar com ela, fazer que sirva a um propósito maior, ou, com nossa tónica evolutiva totalmente afundada no perverso, este desenvolvimento cientifico – tecnológico ainda nos afundará mais na parte corrupta do mundo, que aparenta começar a poluir todo nosso planeta? Saberemos aqui criar um caminho do meio: aquele de receber para dar, servir aos demais como agradecimento por ter-nos também prestados seus serviços? – Ou ao invés egoístas vamos tentar dos demais servir-nos?
Para recuperar-nos o Paraíso Espiritual é preciso primeiro aceitar que esse Paraíso existe – está dentro de nós – e pode de novo ser ativado – tal como nos ensinou Leão Tolstoi, no seu maravilho ensaio “O Reino de Deus está dentro de vós” – ré-lembrando o saber do Cristo. Será que ainda existe em nós algum resto destas velhas crenças ou nosso sonho tem mais a ver com um continuo desconstruir na procura de tonar-nos, nos, agora, pelo avanço cientifico-tecnológico os novos deuses?
Será isso que nos sugerem filósofos do transumanismo como Yuval Harari? Sonhando estar viva aquela ideia “Sociedade Tecnotronica” de Zbigniew Brzezinski?– Tal vez tergiversando a pior o sonho da ciência e tecnologia salvar-nos do abismo? E ser o Ocidente o único capaz de realizar o mesmo? Ou quiçá os avanços da robótica chinesa sinalizem um acordar do Oriente? Acordar para o mal o para bem comum? Ou acordar simplesmente
Ou pela contra será preciso uma volta aos valores tradicionais como sonham os Euro-asiáticos? Ou uma volta a nós – para os valores do espírito encontrar dentro de nós mesmos, tal como sonham os orientais Mestres?
Mas para isso será preciso um grande sacrifício na busca do nosso acervo espiritual perdido – Uma grande dor para acessar ao conhecimento, na atualidade, oculto, que desvelará o velado espiritual e uma grande vontade, perseverança e confiança para utilizar cada conhecimento que vamos adquirindo (neste caminhar do verdadiero “Via Crucis” interno da transformação amorosa). E assim finalmente poder ultrapassar as provas precisas, que nos permitam aceitar que estamos no inferno - inferior das nossas possibilidades - e podemos sair dele.
O inferno da dor que descrevem as 4 verdades nobres do Budha – e o caminho óctuplo como fórmula para abandonar a queda nos abismos – no inferior de nós – para voltar usufruir do Superior: Amor Incondicional – daquele “amai-vos os uns aos outros…” do Cristo.
Abandono de toda radiação dialética que é a narrativa do engano -controlada pelo “demonio egoísta” que domina nossa psique, da qual nos deu amostras de como diluí-lo J. Van Rijckenborgh no seus comentários ao “Nucteremón” de Apolónio de Tiana. Deixar o engano en favor de procurar a verdade interna, cada um, em seu coração.
Redenção daquela caída – pelo desenvolvimento do Poder Divino dentro de nós – graças ao conhecimento e poder adquirido necessários, previamente, para a aceitação – Aquele conhecimento velado, agora desvelado pela experiência da vida (ou de vidas?) descoberto na ciência, as artes, a música (ser capazes de sentir Deus no silêncio entre as notas - ou Aquela Música das esferas, e Pitágoras a estabelecer um elo entre a regularidade dos eventos celestes e as proporções matemáticas que regulavam as consonâncias e dissonâncias musicais?). Assim como as demais disciplinas, junto a pratica da boa saúde, desporto e equilíbrio emocional. Enriquecimento do corpo físico, da alma e da mente inteligente.
E uma vez, conseguido o equilíbrio – a interior harmonização, superado o medo à morte, caminhar em face da Redenção pelo conhecimento. Obter a força e poder que nós deu a espiritualização, utilizar esta Radiação para a Reintegração na Origem.
Tal como nos fala Terence McKenna, no seu estudo "O alimento dos Deuses": “A cultura é em grande parte questão de hábito, aprendido com os pais e as pessoas ao nosso redor, e depois lentamente modificado pelas mudanças nas condições e por inovações inspiradas”
Depois desses trabalhos iniciados há milhões de anos, estamos agora em condições de modificar essa queda pela ascensão? Estamos na atualidade preparados para modificar do ter – possuir na adequada inspiração para entrar na nova sociedade do ser – sentir (tal como refletiu Erich Fromm no seu famoso livro “ter ou ser”?
Poderemos deixar de caminhar, por um tempo, por este mundo à cegas – e evitar aquele “Ensaio da Cegueira” , que foi um advertência do perigo do deixar de ver o óbvio, do escritor português universal José Saramago?
E será esta procura do ser - do “Self” o início do caminho da redenção em procura da reintegração?
Será essa reintegração a volta ao Paraíso, naquelas terras de promissão tão sonhadas nos mitos? El Dorado americano? – A Terra Nova exuberante onde uma nova civilização por fim conseguirá iniciar o caminho de volta a fraternidade? Para finalmente adentrar-nos naquela Ilha do Espírito – do conto egípcio do Naufrago?
Olhando a exuberância do planeta vemos o paraíso – olhando dentro de nós observamos o inferior -inferno – não será que a transformação externa que aguardamos, deverá primeiro começar adentro, vem adentro – ate limpar de sombras a nossa alma?
E acaso não será esse combinar da transformação interior do ser humano, com a transformação exterior da sociedade realmente a volta ao Paraíso ansiado? E com este retorno a volta ao amor incondicional e a sonhada humana fraternidade?
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