A Árvore Mitológica - , por Artur Alonso
"Não somos culpados só porque comemos da árvore do conhecimento, mas também porque não comemos da árvore da vida" (Franz Kafka)
Segundo afirma Juluis Evole, no seu livro “A Tradição Hermética”, a “Árvore Mitológica” expressa, metafiscamente, a força universal que se desenvolve na manifestação. Esta força, segundo Evole, a podemos observar na árvore da natureza, onde a energia da planta se desenvolve desde a raiz invisível até o tronco, os ramos, as folhas e o fruto.
As árvores das diversas mitologias contem o simbolismo do acesso ao conhecimento primordial – a saiba da vida.
Nos Vedas e Uspanishad encontramos a “Árvore do Mundo”, às vezes mesmo representada invertida, com as raízes no céu, simbolizando que a fonte da Origem – da energia primordial radica nas espirituais alturas.
Sendo que esta árvore segregaria a bebida imortal do “Soma ao Amrita” – ao igual que a “Árvore Dupla” da mitologia iraniana, que além de conter “todas as sementes”, contem também a bebida da imortalidade ou “Haoma” – estamos claramente, aqui, a falar do Graal ou licor da vida eterna. No caso das lendas artúricas contido na Taça Sagrada.
Vemos a sua vez que muitas destas “Árvores Mitológicas” estão relacionadas com o princípio feminino – com o Feminino Primordial.
No caso do “Carvalho Sagrado de Zeus” situado no oráculo de Donona, nas encostas do monte Tomaros, em Épiro, esta árvore estava custodiada pelas Hespérides. Estando relacionado a sua vez com aquele saber primordial chegado do Egito, pois precisamente um pombo preto, saído do país do Nilo, não parou de voar ate pousar-se num ramo deste carvalho.
Em este santuário alem de Zeus, se reverenciava a Dione, mãe de Afrodite; sendo um local de Culto da Grande Deusa, representante do feminino primordial. Seu nome Dodona indica precisamente ser o local sagrado de Dione.
Na tradição eslava temos a mítica ilha de Buyan, que aparece e desaparece no meio do oceano; como as ilhas encantadas celtas, entre as quais a ilha atlântica de Hy-Brasil, de formato circular perfeito, toda coberta de neblina, vagava pela oceano, sumindo e aparecendo e podendo-se divisar os dias em que na névoa esmorecia. Ilha da qual alguns autores acreditam deriva o nome do atual gigante país sul-americano.
Esta ilha de Buyan da mitologia eslava, também tem seu carvalho sagrado, guardado por um dragão. Na ilha vivem três irmãos: os ventos do norte, este e oeste. Dentro da mitológica árvore, no interior de um ovo genésico, o imortal Koschéi mantém sua alma presa como custodia da árvore. A ilha também é o local da mãe de todas as aves Gagana; cujo ninho também se encontra apoiado na mítica “Árvore do Mundo” – Sendo que a mesma árvore protege a pedra mágica de Garafena.
A árvore assíria representada por uma série de nós e linhas entre-cruzadas, sendo relacionada como todas as árvores mesopotâmicas ao principio sagrado feminino, é a sua vez um árvore procriadora.
Vemos que na lenda do rei Etana de Kish, este procura a planta do nascimento, por causa da sua desesperação ao não poder obter descendência. Aparece na lenda uma árvore com uma águia na sua copa e uma serpente na sua base. De novo a árvore mesopotâmica como simbolismo do caminho duplo: o caminho da ascensão celestial – reintegração no Todo e o caminho do apego à materialidade.
Nos lembram, estes caminhos, o voo da águia (que segundo a mitologia dos indígenas norte-americanos nos eleva ao Grande Espírito – Wankan Tanka), o voo de Horus - senda do elavado. Enquanto o arrastar-se pelo chão do réptil semelha a senda da degradação. O caminho do coração ou do ventre, do que falavam as máximas de Phat Hotep
No interior das folhas da “Árvore do Mundo” da mitologia indiana, se encontra o Senhor Yama, o Deus da Noite, da Morte e do Inferno. Yama o Senhor do Karma – Darmaraja ou “Rei da Justiça”, o julgador das almas.
No texto da Katha Upanishad, o jovem sincero e inocente Naciketas indaga ao Deus da Noite sobre a vida além túmulo e sobre o principio do universo. Yama resposta que o sonido OM sintetiza a causa universal e conhecimento da realidade que transcende, sendo Bramha a realidade imutável.
Assim que, para nós, é claro o primeiro som OM produz o primeiro oco – circunferência – círculo no vazio. Aquele útero inicial, que segundo Dione Fortune, na sua “Doutrina Cósmica” será inseminado pelo principio masculino da vontade de vir a ser. Sendo este útero – taça – o matriz feminino da vida, simbolizado pela Deusa Cósmica que está ligada mediante a “Árvore do Mundo” a Deusa da natureza, sua guardiã – e portanto ligada a mulher humana, como mãe dos filhos e filhas da terra.
Aqui de novo a Deusa Feminina - como senhora que tem as chaves da Árvore, o acesso a suas ramas...
A hebraica “Árvore Cabalística da Vida” representa o diagrama espiritual, do desenvolvimento metafisico pratico, de todas estas mitologias
Sendo que esta árvore cabalística interatua holísticamente nos quatro mundos: Assiah ou mundo da ação, no plano físico; Yetzirah ou mundo da formação, no plano emocional; Beriah ou Briah, mundo da criação no plano Mental; e Atziluth, mundo da emanação ou plano espiritual
Condizendo este visão com a doutrina das emanações, formulada no século XV pelo filosofo humanista e cardeal da igreja católica Nicolau de Cusa
A árvore da vida cabalística, tem grandes semelhanças com árvore nórdica do Iggdrasil, a árvore dos 9 mundos e das 9 raízes. Sobre a qual se pendurou – crucificou Odin – Wotan – durante nove dias e nove noites, para obter a sabedoria das runas.
Iggdrasil a árvore sustentadora dos mundos, onde no reino mais alto “Asgard” o sol e a lua se chegam a tocar (principio sagrado masculino e feminino se entrelaçam). Em contraste com o reino do gelo, da escuridão “Nilfenheim”, onde as raízes terrenas se agarram ao abismo (os caídos se aferram à matéria).
Odin-Wotan pode obter a chave dos nove mundos: Em Mingard, o mundo dos homens Jera lhe outorgou a runa do ciclo anual (obtendo o conhecimento de todas as eras). Em Vanaheim, Ingwaz lhe apresentou a runa da semente (o saber da quinta-essência). Em Helheim, o mundo dos mortos, Hagalaz lhe mostrou runa do granizo (contendo o princípio do ar, intermediário entre o fogo e a água). Em Svartalfheim, o mundo dos elfos escuros, Elhaz lhe presenteou com a runa do teixo (o princípio da terra – o saber da materialidade). Em Alfheim, o mundo dos elfos claros, Dagaz concedeu-lhe a runa do dia. Em Jotunheim, o mundo dos gigantes de rocha, Nauthiz deu-lhe a runa da necessidade. Em Niflheim, o mundo de gelo eterno, o mesmo Isa lhe serviu a runa do gelo (o espiritual princípio da água, feminino). Em Muspelheim, o mundo de fogo, Sowilo lhe donou runa do sol (o espiritual princípio masculino). E, já em Asgard o mundo dos Æsir, Odin, pelo sacrifício, já divinizado obteve a runa da troca (poder de transcendental do intercâmbio – da transcendência – transmigração)
Pelas dez esferas cabalistas e pelos 22 caminhos da árvore da vida, teremos de peregrinar, como o herói mítico dos contos mágicos, na procura do licor da “eterna vida” – da maça da imortalidade. Vida após vida (para quem acredita na ré-encarnação), geração a geração, com a esperança de descobrir aquele conhecimento mais elevado, que algum dia possa conduzir, a uma tónica evolutiva, fora do medo aos contrários, do medo raiz a não sobreviver, da ira, do ódio amargo… E possa, finalmente, encaminhar pela senda do meio no tronco axial (que o Budha indicou) ate o amor incondicional (que o Cristo sinalizou) e assim poder-nos todos encontrar na fraternidade humana (tal como tao ensina).
E, quem sabe, talvez voltar aquele “Paraíso” ou “Bihist” do iraniano livro sagrado do zoroastro ou “Zend-Avesta” que permite aos limpos de coração obter a bem-aventurança eterna.
"Adoramos os radiantes âmbitos de Asa (a Verdade), onde moram as almas dos mortos... Adoramos a existência melhor dos asavenes (possuidores da Verdade), luminosos e donos de todas as coisas gratas" (Zend-Avesta - Yasna, 16,7).
O caminho para ascender pela árvore da existência e pelos mundos ir o conhecimento recolhendo, tem muito a ver com as práticas do silêncio. O silêncio como meditação, interior oração, observação e vigilância dos sentidos; assim como introspeção para a observação…
No silêncio, aceitando a dor, sofrendo para modificar nossas tendências auto-destrutivas, podemos, com as ferramentas obtidas no acesso ao conhecimento, encontrar a paz interior, que no exterior nos foi negada. E, a um tempo, conectar com nossa árvore do crescimento, cuja raíz está continda no nosso nascimento.
Fala o referido "Zend-Avesta" que o iluminado Zaratrusta, nascido duma virgem (que ao vir ao mundo deu uma gargalhada que regozijou todo o planeta), aos sete anos já teria começado a cultivar a joia do silêncio. Principal joia do tesouro da verdadeira vida.
Sendo que nesse silêncio, tal vez a Grande Mãe nos possa abrir as portas do paraíso. Mas antes de nada devemos saber, que as guardiães da chave somente vão permitir encontrar o caminho, aqueles, aquelas, que previamente se despiram das roupas que pesam… Pois as chaves que dão acesso, somente se podem outorgar, aqueles e aquelas que previamente, sua paz interior conquistem
Lembra então, ó “forte herói” – tal como afirma o sagrado Baghavad Gita – que os dous principais inimigos do conhecimento transcendental são: o apego e a adversão
Libra-te da materialidade (não te apegues). Libera.-te do medo, não rejeites o que está a acontecer na tua vida!
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